Estará apresentada outra candidatura forte aos Óscares?

Numa corrida onde estavam "Os Espíritos de Inisherin", Elvis", "Tár" e "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo" (mas não "Top Gun: Maverick", que muitos acham que pode ser o vencedor consensual nas estatuetas douradas), "A Oeste Nada de Novo" foi o grande vencedor dos prémios BAFTA da Academia Britânica das Artes de Cinema e Televisão, entregues este domingo ao fim da tarde na Royal Festival Hall, em Londres.

Veja aqui a lista completa de vencedores dos Óscares 2023
Veja aqui a lista completa de vencedores dos Óscares 2023
Ver artigo

Agora, o drama épico alemão da plataforma Netflix sobre a primeira Guerra Mundial, que liderava com 14 nomeações, faz história com sete prémios na cerimónia que é o equivalente da indústria britânica aos Óscares: Melhor Filme, que acumulou com Filme Estrangeiro (algo que não conseguiu "Parasitas" há três anos), Realização (Edward Berger), Argumento Adaptado, Fotografia, Banda Sonora e Som.

Embora várias produções não faladas em inglês tenham ganho o prémio de Melhor Filme, principalmente nos primeiros anos dos BAFTA, nenhum tinha recebido mais do que quatro prémios ao todo, como foi o caso de "Roma", de 2018. Já "Cinema Paraíso" recebeu cinco prémios na cerimónia de 1991, mas o maior foi o de Melhor Filme Estrangeiro, seguido pelos de Melhor Ator para Philippe Noiret e Ator Secundário para Salvatore Cascio.

Foram muitos os nomeados e premiados que estiverem mesmo na cerimónia: os BAFTA são um dos momentos-chave da temporada de prémios, uma vez que muitos dos sete mil membros da Academia Britânica também pertencem à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.

A PASSADEIRA VERMELHA.

Uma vitória tão categórica de "A Oeste Nada de Novo" reforça a candidatura aos Óscares, onde recebeu nove nomeações, tanto mais que o filme que lidera essa corrida, "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo", ganhou nos BAFTA apenas na categoria da Montagem (tinha dez nomeações).

"'A Oeste Nada de Novo' conta a história de jovens que, envenenados pela propaganda política nacionalista da extrema-direita vão para a guerra a pensar que é uma ventura. E a guerra é tudo menos uma aventura. Essa é uma das mensagens do romance seminal de [Erich Maria] Remarque. E quando começámos a embarcar nisto, fazer este filme, parecia uma mensagem relevante, mesmo 100 anos após a publicação do livro", disse o produtor Malte Grunert ao receber o principal prémio, antes de destacar o trabalho de Felix Kammerer, que fez a estreia como ator de cinema e sem sequer foi nomeado, e aos que estão a combater na Ucrânia.

Embora diminuído ao perder Melhor Filme, outro concorrente direto, "Os Espíritos de Inisherin", recebeu quatro prémios importantes em dez nomeações, para Melhor Filme Britânico, Argumento Original e, surpreendentemente, os atores secundários.

De facto, com exceção do troféu igual a uma máscara dourada de Melhor Atriz para Cate Blanchett por "Tár", vencendo Michelle Yeoh em "Tudo em Todo o Lado...", as categorias de interpretação tiveram grandes surpresas que lançam a incerteza para as estatuetas douradas, que serão entregues a 12 de março.

Tal como aconteceu há quatro anos com Rami Malek por "Bohemian Rhapsody", Austin Butler foi o Melhor Ator por "Elvis", ultrapassando os mais favoritos Brendan Fraser com "A Baleia" e principalmente Colin Farrell por "Os Espíritos de Inisherin", que, por sua vez, viu ganharem os atores secundários Barry Keoghan e Kerry Condon, ultrapassando o favoritismo esmagador na temporada de Ke Huy Quan ("Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo") e Angela Basset ("Black Panther: Wakanda Para Sempre).

Vale a pena recordar que os BAFTA anteciparam a vitória nos Óscares há dois anos de Anthony Hopkins com "O Pai" e coincidiriam no ano passado em três dos quatro prémios dos atores (falhou Joanna Scanlan para Melhor Atriz, que nem estava nomeada para as estatuetas douradas).

Austin Butler

Com exceção da transmissão em direto das categorias de Melhor Filme, Ator, Atriz e Estrela em Ascensão (para Emma Mackey, protagonista do filme "Emily"), a maior parte cerimónia foi transmitida em diferido pela BBC, o que permitiu cortar um momento embaraçoso: Carey Mulligan foi erradamente anunciada como a vencedora de Melhor Atriz Secundária antes de Kerry Condon, numa confusão envolvendo o ator surdo Troy Kotsur (vencedor no ano passado por CODA") e uma intérprete de linguagem gestual.

Os discursos dos atores ficaram principalmente pelos agradecimentos aos outros nomeados e às pessoas que trabalharam nos respetivos filmes, com Cate Blanchett a notar por exemplo que "estas performances notáveis ​​quebram o mito de que a experiência das mulheres é monolítica", mas Barry Keoghan, cuja mãe morreu após uma longa dependência de drogas e passou sete anos em 13 lares adotivos, foi muito aplaudido ao despedir-se com "Para os miúdos que sonham em ser algo da região de onde eu vim, isto é para vocês”.

Não houve surpresas nas categorias de Filme de Animação para "Pinóquio de Guillermo del Toro" e Melhor Estreia por um Argumentista, Realizador ou Produtor Britânico para Charlotte Wells, argumentista e realizadora de "Aftersun".

Já "Elvis" foi outros dos vencedores da noite, com quatro prémios em nove nomeações: além de Melhor Ator, recebeu Casting, Guarda-Roupa e Caracterização.

"Navalny", sobre o opositor do regime russo Alexei Navalny e a investigação do seu envenenamento, ganhou em Melhor Documentário, com a produtora a agradecer a Christo Grozev, jornalista de investigação que foi aconselhado pela polícia a não estar presente na cerimónia por casa de um "risco para a segurança pública".

Como anfitrião e com direito a uma grande entrada na Royal Festival Hall, o monólogo de Richard E. Grant foi descrito como irreverente, mas muito menos arriscado nas piadas do que Rebel Wilson no ano anterior: "não usar branco" (o contrário do que se viu), "não entres em conflito com a Judi Dench" ou "não invistas na criptomoeda da Helen Mirren, ela é uma vigarista" foram alguns dos mil conselhos que o ator disse que recebeu de Steve Martin para uma função onde "uma única piada pode estragar a tua vida e a tua carreira".

Grant, de 65 anos, aproveitou para entrar nas boas graças da sua prestigiada audiência e apresentar o "currículo" para novas oportunidades profissionais: “Richard E. Grant. Pode representar dos 30 aos 50 anos, via 'deepfake'. Como todos os atores aqui este noite, consigo a 100% montar a cavalo. Quero que saibam que o meu filme preferido do ano é aquele que tiverem feito".

E, a encerrar o monólogo, uma referência inevitável a um certo acontecimento da última cerimónia dos Óscares: "Estou a dar o meu melhor para garantir que ninguém no meu turno seja esbofeteado esta noite".

LISTA DE PREMIADOS

Malte Grunert e Edward Berger, produtor e realizador de "A Oeste Nada de Novo"

MELHOR FILME
"A Oeste Nada de Novo"

MELHOR REALIZAÇÃO
Edward Berger ("A Oeste Nada de Novo")

MELHOR ATOR
Austin Butler ("Elvis")

MELHOR ATRIZ
Cate Blanchett ("Tár")

MELHOR ATOR SECUNDÁRIO
Barry Keoghan ("Os Espíritos de Inisherin")

ATRIZ SECUNDÁRIA
Kerry Condon ("Os Espíritos de Inisherin")

MELHOR ARGUMENTO ADAPTADO
"A Oeste Nada de Novo"

MELHOR ARGUMENTO ORIGINAL
"Os Espíritos de Inisherin"

MELHOR FILME BRITÂNICO
"Os Espíritos de Inisherin"

MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO
"Pinóquio de Guillermo del Toro"

MELHOR FILME ESTRANGEIRO
"A Oeste Nada de Novo"

MELHOR DOCUMENTÁRIO
"Navalny"

MELHOR FOTOGRAFIA
"A Oeste Nada de Novo"

MELHOR GUARDA-ROUPA
"Elvis"

MELHOR MONTAGEM
"Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo"

MELHOR SOM
"A Oeste Nada de Novo"

MELHOR CARACTERIZAÇÃO
"Elvis"

MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO
"Babylon"

MELHOR BANDA SONORA
"A Oeste Nada de Novo"

MELHORES EFEITOS VISUAIS
"Avatar: O Caminho da Água"

MELHOR CASTING
"Elvis"

MELHOR ESTREIA POR UM ARGUMENTISTA, REALIZADOR OU PRODUTOR BRITÂNICO
Charlotte Wells, argumentista e realizadora de "Aftersun"

MELHOR CURTA-METRAGEM BRITÂNICA
"An Irish Goodbye"

MELHOR CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO BRITÂNICA
"The Boy, the Mole, the Fox and the Horse"

ESTRELA EM ASCENSÃO (votado pelo público)
Emma Mackey, protagonista do filme "Emily" e da série "Sex Education"