Para o realizador de 46 anos, tudo começou em 1991 no Festival Internacional de Animação de Annecy, quando foi projectado
«A Grand Day Out», o primeiro filme de Wallace e Gromit: «Na sala, era a festa! O público de Annecy participa imenso, é fervoroso, lúdico, um pouco como nas salas de cinema italianas dos anos 50... Quando vi aquela emoção a subir, foi o clique. Disse para mim próprio: é animador que eu quero ser». Estas foram as palavras de
Sylvain Chomet à «Télérama», que o próprio recordou ontem, a 7 de Junho, na cerimónia de abertura do Festival Internacional de Animação de Annecy (que decorre até 12 deste mês), quando apresentou em antestreia o seu novo filme,
«L'Illusionniste». A esmagadora ovação final não desapontou o cineasta, que saiu do palco visivelmente emocionado.
O filme adapta um argumento nunca filmado do incontornável realizador francês
Jacques Tati, o imortal Mr. Hulot, que foi parar às mãos de Chomet graças ao seu filme anterior,
«Belleville Rendez-vous». A necessidade de autorização de um extracto de
«Há Festa na Aldeia» durante a preparação dessa película levou o realizador a entrar em contacto com
Sophie Tatischeff, a filha de Jacques. Seduzida pelo resultado, ela decidiu confiar a Chomet um argumento que o seu pai escrevera em 1959 e nunca realizara. Sophia morreria pouco depois, sem chegar a ver o filme concluído.
Para Chomet, contudo, foi um sonho tornado realidade, já que ele se revelou desde sempre um fã de Tati: «Ele faz parte da minha cultura, tal como o ar que respiro. Por vezes, imagino que me cruzei com ele «ao vivo» em criança, entre Poissy, onde eu cresci, e Saint-Germain-en-Laye, onde ele morava... Adoro o seu universo muito gráfico. Se ele tivesse sabido desenhar, estou convencido que Tati se teria dedicado à animação».
A história de
«L'Illusionniste» decorre nos anos 50 e gira em redor de um ilusionista que faz pequenos espectáculos, percorrendo com pouco sucesso as mais diversas salas, e da relação que estabelece com a jovem que o segue, seduzida pela sua aparente capacidade de criar magia, e que ele acaba por acolher na sua vida. O ilusionista, claro, é desenhado à imagem do próprio Tati, com todos os maneirismos e trejeitos do Mr. Hulot, e o próprio filme, adaptado por Chomet do guião original do mestre, não trai as suas raízes, com uma imensa atenção aos pequenos nadas do dia a dia e a quase total ausência de diálogos, substituídos, na maioria das vezes, por expressões ininteligíveis. E, principalmente, com a capacidade inusitada de criar magia cinematográfica em quase todas as cenas.
Só há uma coisa no filme aparentemente estranha ao universo de Hulot: o facto da maioria da acção se passar na Escócia, apesar do início ter lugar na França natal de Tati. Isso explica-se pelo facto de Chomet, cansado de ter esperado que o telefone tocasse com novas ofertas de trabalho após o sucesso mundial de
«Belleville Rendez-vous», ter rumado à Escócia, que o terá escolhido de braços abertos e onde criou o estúdio de animação Django, no qual fez o filme durante cinco anos.
O resultado, ovacionado em Annecy, é um triunfo do desenho animado dito tradicional, com uma incrível expressividade e capacidade de pantomima, um casamento perfeito entre a grandiosidade gráfica dos cenários e a representação de pequenas acções, com uma profundidade dramática discreta mas notável. Até agora, é, de longe, o grande filme de animação de 2010.
«L'Illusionniste», que já tinha sido exibido no Festival de Berlim, estreia em França já a 16 de Junho.
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