Treze anos depois do primeiro filme e oito desde a estreia do último, "The Hunger Games" está volta o grande ecrã para um novo capítulo na saga de sucesso: "A Balada dos Pássaros e das Serpentes" chega aos cinemas a 16 de novembro.

A nova história regressa à sociedade distópica de Panem por altura dos décimos Jogos da Fome e à juventude de futuro tirano Coriolanus Snow, 64 anos antes do início da trilogia de Suzanne Collins que lançou uma mitologia que capturou a imaginação de milhões e originou uma saga no cinema que catapultou Jennifer Lawrence para o estrelato.

A história original passava-se num futuro não muito distante, onde os EUA sucumbiram a secas, guerras, fogos e fome, dando lugar a Panem, dividida em 12 distritos com diferentes níveis de pobreza e fome, em contraste com o Capitólio, metrópole rica e tecnologicamente avançada que organiza todos os anos "Os Jogos da Fome", para entretenimento dos seus habitantes privilegiados e como forma de punir uma revolta que ocorreu há décadas e resultou na destruição do Distrito 13.

No início do primeiro livro, prepara-se a 74.ª edição e o sistema está perfeitamente estabelecido no regime do Presidente Coriolanus Snow: um rapaz e uma rapariga entre os 12 e os 18 anos de cada distrito são sorteados para serem tribunos numa batalha mortífera transmitida em direto até que apenas um sobreviva. Tudo isto começa a ser subvertido quando Katniss Everdeen, que vive no Distrito 12, o mais pobre de Panem, se oferece como voluntária no lugar da irmã mais nova...

Lançado em setembro de 2008, "Os Jogos da Fome" foi um sucesso que permaneceu mais de 100 semanas consecutivas na lista dos "best sellers" do The New York Times e poucos meses depois eram vendidos os direitos para o cinema, ainda antes do lançamentos dos outros dois livros, "Em Chamas" e "A Revolta".

Ao contrário de tantos outros projetos, que passam anos em desenvolvimento por Hollywood, a transposição para o grande ecrã foi a um ritmo vertiginoso, com a própria Suzanne Collins a fazer a adaptação com o argumentista Billy Ray e o realizador Gary Ross, e Jennifer Lawrence, então com 20 anos, a ser anunciada como a heroína em março de 2011, seguida algumas semanas mais tarde por Josh Hutcherson e Liam Hemsworth para os papéis de Peeta e Gale, completando o triângulo amoroso. A rodagem, na Carolina do Norte, começou em maio, juntando-se atores experientes como Woody Harrelson, Elizabeth Banks, Stanley Tucci, Wes Bentley e Toby Jones, além de Lenny Kravitz... e Donald Sutherland como Snow.

Donald Sutherland na saga "The Hunger Games"

Quando "The Hunger Games - Os Jogos da Fome" chegou aos cinemas no final de março de 2012, a antecipação era grande (havia quem o anunciasse como "o próximo 'Twilight'"), essencialmente devido ao grande êxito da trilogia de livros, mas mesmo com a popular canção "Safe & Sound" de Taylor Swift e os The Civil Wars, nada fazia prever um sucesso tão monumental: 155 milhões de dólares faturados no primeiro fim-de-semana.

Foi a melhor estreia de sempre nas bilheteiras para uma não-sequela nos EUA e a terceira maior abertura de sempre (não tendo em conta a inflação), logo a seguir a "Harry Potter e os Talismãs da Morte - Parte 2" (169 milhões) e "O Cavaleiro das Trevas" (158 milhões). E, mais surpreendente ainda... à frente de qualquer filme da saga "Twilight".

Mas o estúdio não tinha esperado pelos resultados: a sequela foi anunciada em agosto de 2011, ainda durante a rodagem do primeiro filme, e logo com a data de estreia: 22 de novembro de 2013.

Um novo filme prometido para ano e meio depois do anterior significou a entrada de Michael Arndt, vencedor do Óscar por "Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos", para escrever o argumento e a passagem do testemunho na realização de Gary Ross para Francis Lawrence (mais conhecido por "Constantine"), com a rodagem a decorrer entre setembro e dezembro de 2012 por Atlanta e Havai, juntando-se ao elenco Phillip Seymour Hoffman, Sam Claflin, Jena Malone, Lynn Cohen, Meta Golding, Amanda Plummer e Jeffrey Wright.

Com os Coldplay, Patti Smith, Sia e The Weeknd, entre outros, na banda sonora e o Óscar de Melhor Atriz alguns meses antes para Jennifer Lawrence com "Guia Para um Final Feliz" ainda na memória de todos, "Os Jogos da Fome: Em Chamas" faturou cerca de 161 milhões de dólares no primeiro fim-de-semana de exibição nos EUA em novembro de 2013: sem atualização monetária, era a melhor estreia de sempre no mês de novembro, e a quarta melhor de sempre com todos os meses incluídos.

Naquela que é geralmente considerado o melhor de todos filmes da saga, Katniss regressa a casa sã e salva após ganhar a 74.ª dos Jogos da Fome com Peeta, mas isso significa que devem deixar a família e amigos e embarcar no 'Tour dos Vitoriosos' por todos os distritos. Pelo caminho, Katniss sente que se está a preparar uma rebelião, mas o Capitólio ainda mantém um controlo férreo sobre a sociedade enquanto o Presidente Snow prepara os 75.º Jogos, uma competição que pode mudar tudo, já que envolve os mais emblemáticos vencedores das edições anteriores.

Por esta altura, já se sabia que o terceiro livro da série, "The Hunger Games: A Revolta", seria dividido em dois filmes, como sucedeu pela mesma época com as adaptações dos últimos volumes das sagas "Harry Potter" e "Twilight"), ambos realizados por Lawrence.

Com a entrada no elenco de Julianne Moore como a presidente Alma Coin, a rodagem em simultâneo decorreu entre setembro de 2013 e maio de 2014 em Atlanta, com passagem por Berlim e Paris, e nem parou com a morte inesperada de Philip Seymour Hoffman em fevereiro.

Com Lorde, então com apenas 17 anos, como a única responsável pela banda sonora, a "Parte 1" de "A Revolta" chegou aos cinemas a 21 de novembro de 2014, e as opiniões foram unânimes: era um filme mais parado, com mais história que tinha como objetivo preparar os espectadores para o final da saga, que chegou às salas a 20 de novembro de 2015.

O último livro, recordarão os fãs, era também o primeiro em que não tinha lugar qualquer edição dos Jogos da Fome: tudo se concentrava na luta contra o governo corrupto do Capitólio encabeçado por Snow, com Katniss na linha da frente, tentando salvar Peeta e liderar uma nação inspirada pela sua coragem para lançar uma revolução.

Nas bilheteiras, as receitas das duas partes ficaram abaixo dos filmes anteriores, apontando-se como possíveis causas para o arrefecimento do entusiasmo dos fãs a decisão de dividir o filme e ter de esperar quase um ano pela conclusão.

Numa entrevista já em outubro deste ano à revista People, Francis Lawrence mostrou-se arrependido, acrescentando que percebeu a experiência frustrante para alguns fãs, mesmo que os envolvidos na produção achassem que as duas partes “tinham as suas próprias questões dramáticas separadas”, o que justificava a decisão.

Apesar disso, o realizador também disse que gostou da oportunidade de, por ter quatro horas disponíveis, colocar no ecrã muito mais da história do último livro do que aconteceu nas adaptações anteriores.

Oito anos depois, a saga está de volta

Foram três livros que venderam mais de 100 milhões de exemplares e quatro filmes em três anos que arrecadaram três mil milhões de dólares em todo o mundo: "The Hunger Games" tornou-se a saga mais popular do século XXI nas bilheteiras a seguir a "Harry Potter" e excluindo o Universo Cinematográfico Marvel.

Não surpreende por isso que, logo em dezembro de 2015, o vice-presidente do estúdio Lionsgate já dissesse que a intenção era criar prequelas dentro do mesmo universo.

Mas a saga estava nas mãos de Suzanne Collins e foi preciso esperar por 17 de junho de 2019, quando a editora Scholastic anunciou que um novo livro seria lançado a 19 de maio de 2020, recuando 64 anos na história, para a altura da décima edição dos Jogos da Fome.

"Com este livro, queria explorar o estado da natureza, quem somos e o que pensamos como sendo necessário para sobrevivermos. O período de reconstrução dez anos após a guerra, normalmente chamados de Dias Escuros - como a nação Panem tenta recuperar - fornece terreno fértil para as personagens lidarem com essas questões e, assim, definirem as suas visões da humanidade", dizia a escritora no comunicado oficial.

Sem surpresa, o lançamento tornou-se uma grande prioridade para Hollywood e a 21 de abril de 2020, ainda antes da publicação, foi anunciado o quinto filme, com o regresso da mesma produtora (Nina Jacobson) e muitas das pessoas que fizeram parte da equipa criativa atrás das câmaras nos filmes com Jennifer Lawrence, a começar por Francis Lawrence, o argumentista Michael Arndt e o compositor James Newton Howard. E depois de Taylor Swift, Coldplay e Lorde, mantém-se a atração pelos artistas mais talentosos para a banda sonora: o tema oficial original ficou a cargo de Olivia Rodrigo, com “Can’t Catch Me Now”.

A nova história expande o universo da saga, centrando-se nos seus verdadeiros "alicerces": acontecimentos e pistas referidos na trilogia literária e na quadrilogia cinematográfica do ponto de viragem na reestruturação pós-guerra de Panem, menos sofisticada e evoluída tecnologicamente, e no fortalecimento do seu governo autoritário.

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“A história passa-se tão cedo na história na linha temporal de 'The Hunger Games' que há muitas coisas que o público viu nos filmes originais que ainda não existem. Desconstruímos os Jogos e voltamos atrás no tempo para ver como eles evoluíram. Descrevemos como a paisagem da arena mudou, como o Capitólio começa a influenciar os jogos e como o público do Panem começa a participar neles, em vez de apenas assistir", destaca Nina Jacobson.

A mudança de cenário trouxe a produção exclusivamente para a Europa: a rodagem decorreu na Polónia e Alemanha ao longo de 17 semanas, entre julho e novembro de 2022.

“Há seis décadas, na nossa história, estávamos no final da década de 1950 e início da década de 1960. Nessa altura, Berlim é comparável ao Capitólio do filme: temos uma capital 15 anos depois de uma guerra devastadora e tudo é diferente. Achei isso muito inspirador ao projetar o Capitólio de Panem", explica Uli Hanisch, responsável pela direção artística.

Tom Blyth como o jovem Coriolanus Snow

A rica história referenciada nos filmes anteriores é vista agora através dos olhos do futuro tirânico líder de Panem, com Tom Blyth a interpretar um atraente e muito ambicioso Coriolanus, com apenas 18 anos, descrito como "a última esperança da outrora orgulhosa família Snow, cuja linhagem decadente significou uma queda em desgraça no Capitólio do pós-guerra".

O ator, que começou a carreira nos palcos, cinema e televisão na Grã-Bretanha, sendo conhecido principalmente pelas séries "Billy the Kid" e "The Gilded Age", e o filme "Benediction", de Terence Davies, explica que "a história começa com a sua família à beira de uma fome grave. É o fim da guerra e eles têm tentado recuperar algo parecido com a vida nesta paisagem urbana que foi demolida. Coriolanus fará de tudo para tirar a sua avó e a prima, Tigris, daquele lugar. Mas isso faz com que ele se torne alguém que fará qualquer coisa apenas para chegar ao topo".

“O Coriolanus é uma personagem tão complexa. Vemo-lo a passar de um jovem problemático e a lutar pela sua família para alguém com uma ambição determinada e sombria", acrescenta.

Com o seu sustento ameaçado, o jovem vê que o seu futuro passar pelos Jogos da Fome, usando o seu charme, inteligência e engenho para vencer os seus colegas na luta por um tributo vencedor, mesmo que as probabilidades estejam contra si, quando aceita relutantemente ser o mentor de Lucy Gray Baird, uma jovem do empobrecido Distrito 12 (tal como Katniss Everdeen), papel de Rachel Zegler, a revelação de "West Side Story", de Spielberg.

Rapidamente Snow percebe que a inteligência enigmática e calor humano de Lucy têm o poder não apenas de cativar a multidão, mas também de dar a ambos o oportunidade de superar as suas difíceis circunstâncias. O que não estava nos planos é um romance inesperado que os leva a arriscar e quebrar regras à medida que os Jogos avançam e encantam o público de Panem.

Ao mesmo tempo que se apaixona, Snow vive um profundo dilema interior, entre o seu desejo pelo poder e a sua consciência moral, enquanto atravessa uma sociedade corrupta. A sua história torna-se o fio condutor de todos os filmes anteriores: lutando contra os seus instintos tanto para o bem quanto para o mal, ele acaba por fazer as escolhas que antecipam o homem que se vai tornar, um tirano.

O que não quer dizer que não exista ambiguidade: a dualidade do espírito – pássaro e serpente – existe dentro de todos.

"A partir do momento em que Coriolanus conhece a Lucy, surge algo nele que nunca sentiu antes. A sua ambição de querer que Lucy Gray vença cresce com o seu amor por ela, algo que ele nunca viveu. Estas coisas tornam-no determinado a lutar para ela atravesse e sobreviva aos Jogos da Fome", diz Tom Blyth.

Lucy é ousada, independente e desafiadora, mas também vulnerável, emocional e afetuosa.

Rachel Zegler como Lucy Gray Baird

"As palavras que me ocorrem são ‘temperamental’ e ‘inteligente’. [...] Somos levados a acreditar, pelas letras das suas músicas, que foi injustiçada por muitas pessoas, principalmente por homens. Portanto, ela hesita em confiar e desafia Snow a atingir o seu nível de intimidação", destaca Rachel Zegler sobre a sua personagem.

Quando Snow começa a conquistá-la com um ato de ousadia, “Lucy Gray começa a ver o que é colocar as necessidades de outra pessoa antes das suas e está a viver isso intensamente. Mas quando começa a ver características em Coriolanus que ela pode não achar serem de confiança, ela tem de colocar-se em primeiro lugar e tomar decisões impossíveis", acrescenta.

O realizador Francis Lawrence destaca as diferenças entre as heroínas: “A Lucy Gray tem muita experiência de vida, que Katniss não possuía. A Lucy também é bastante misteriosa, enquanto Katniss era reservada e quieta”.

Hunter Schafer, a atriz revelada pela personagem da rapariga transexual Jules Vaughn na produção da HBO "Euphoria", ficou com o papel da outra personagem que "regressa" dos filmes anteriores: Tigris Snow, prima e a pessoa mais próxima de Coriolanus.

Tom Blyth e Viola Davis como Volumnia Gaul

O que também se mantém é um elenco secundário formado por atores veteranos de luxo, a começar por Peter Dinklage (popularizado pelo papel de Tyrion Lannister nas oito temporadas de "A Guerra dos Tronos"), como Casca Highbottom, o trágico reitor da Universidade e criador involuntário da ideia dos Jogos da Fome; e a vencedora de um Óscar Viola Davis, com um marcante visual, é a calculista, cruel e temível Volumnia Gaul, cujas novas formas "entretenimento" que traz para a décima edição a tornam efetivamente a arquiteta dos Jogos da Fome.

Destaque ainda para Josh Andrés Rivera (também de "West Side Story") como Sejanus Plinth, colega e o mais próximo que Snow tem de um amigo; Jason Schwartzman como Lucretius “Lucky” Flickerman, apresentador de meteorologia e mágico amador que se torna primeiro anfitrião da emissão televisiva dos Jogos (e antepassado da personagem de Stanley Tucci dos filmes anteriores) e Fionnula Flanagan como a avó de Snow, com uma grande paixão por rosas (que o tirano usará para atormentar Katniss).

Apesar de mostrar uma perspetiva diferente de Panem e surgirem novas personagens decisivas na corrupção de Snow, a história de "The Hunger Games: "A Balada dos Pássaros e das Serpentes" permanece tematicamente ligada à dos outros filmes, incluindo a marcante personagem de Jennifer Lawrence.

"Ver Panem através dos olhos de um jovem Snow foi uma mudança completa de paradigma para nós. O Capitólio, embora ainda no poder, está a recuperar dos efeitos de uma guerra que é uma memória distante nas histórias de Katniss, mas recente para Snow. Ver as influências formativas e como Snow é moldado por estas pessoas e pelo seu relacionamento inesperado com Lucy Gray Baird lança uma nova luz sobre o seu relacionamento com Katniss e sobre o futuro de Panem”, promete a produtora Nina Jacobson.