Um aviso sobre conteúdo que pode ser considerado ofensivo vai ser incluído na apresentação de todos os filmes de um ciclo de cinema dedicado à obra do compositor de bandas sonoras John Barry, organizado pelo British Film Institute.
Segundo o jornal britânico The Guardian, os espectadores vão ser avisados que todos os filmes do ciclo "John Barry – Soundtracking Bond and Beyond", apresentados entre 1 de fevereiro e 12 de março, "contêm linguagem, imagens ou outros conteúdos que refletem pontos de vista predominantes na sua época, mas que causarão ofensa hoje (como causavam na altura)".
“Os títulos são incluídos aqui por razões históricas, culturais ou estéticas e estes pontos de vista não são de forma alguma endossados pelo BFI ou pelos seus parceiros", acrescentará o aviso.
Considerado por muitos como o maior dos compositores de cinema britânicos, John Barry, falecido em 2011, ganhou cinco Óscares com "Uma Leoa Chamada Elsa", "O Leão no Inverno", África Minha" e "Danças com Lobos".
No entanto, destaca-se ainda a composição das bandas sonoras de 11 filmes da saga James Bond entre 1963 e 1987, além dos arranjos para o célebre tema que surgiu no primeiro filme, "Dr. No" (1962), e para sempre ligado ao agente secreto com licença para matar.
A programação do BFI que inclui só filmes das décadas de 1960 e 1970 inclui a exibição de "007 Contra Goldfinger" (1964) e "007 - Só Se Vive Duas Vezes" (1967), com o segundo a incluir no programa disponível no 'site' o aviso adicional de que "contém estereótipos raciais desatualizados".
Entre os filmes do ciclo com direito ao aviso geral estão "O Caso Ipcress" (1965) e "Deadfall", ambos com Michael Caine, "Choque!" (1968), com Elizabeth Taylor e Richard Burton, ou "Four in the Morning" (1965), com Judi Dench.
"Sem Olhar para Trás"(1960), um clássico com Peter Sellers, inclui um aviso específico sobre "atitudes racistas e linguagem", enquanto "O Cowboy da Meia-Noite" (1969), o Óscar de Melhor Filme com Jon Voight e Dustin Hoffman, inclui "linguagem homofóbica e violência sexual".
O programa para "Petulia" (1968), com Julie Christie, George C. Scott e Richard Chamberlain, alerta para "cenas de violência doméstica".
O The Guardian recorda que um inquérito do BFI de 2021 mostrou que quase dois terços dos adolescentes entrevistados apoiavam a inclusão de avisos em "filmes que podem afetar negativamente a sua saúde mental".
A propósito do ciclo dedicado a John Barry, fonte oficial da cinemateca disse ao jornal britânico que "como uma instituição cultural responsável pela preservação de filmes e imagens em movimento e pela sua apresentação ao público, enfrentamos e lidamos continuamente com os desafios apresentados pela história dos programas de cinema e televisão e como eles refletem as opiniões predominantes na sua época".
“Embora tenhamos a responsabilidade de preservar os filmes o mais próximo possível da sua precisão contemporânea, mesmo quando contêm linguagem ou representações que categoricamente rejeitamos, também temos a responsabilidade na forma como os apresentamos ao nosso público. Os avisos de conteúdo que disponibilizamos em todos os nossos espaços de exposição e plataformas 'online' funcionam como orientação de que um filme ou obra refletem visões da época em que foram feitos e que podem ofender", acrescenta a organização, que alerta para se tratar de um processo contínuo para melhorar e apoiar a confiança do seu público.
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