«O Valentine's Day, uma tradição anglo-saxónica que gostamos de celebrar». Palavras do Rui que não temos como refutar. Haverá algo mais belo do que o Amor? Enquanto pensam nisso, digo-vos já, talvez as canções de amor do Rui consigam estar em pé de igualdade com o sentimento que tanto apregoam.
O Rui Veloso é um intérprete e guitarrista único, dono de uma voz que nos embala, que nos arrepia e que se impregna, como uma segunda pele. Basta fechar os olhos e ficar a ouvi-lo para perceber do que vos falo. Os dons de músico são-lhe sobejamente conhecidos, não importa o que vos diga sobre isto. Os seus mais de 40 anos de carreira falam por si, e as suas canções fazem-se ouvir e cantar, com mais alma do que aquela que, algum dia, eu conseguiria descrever.
Num alinhamento repleto de êxitos é difícil apontar os momentos mais especiais ou dizer qual o tema que mais arrebatou o público. Em surdina ou alto e bom som, são muitos os que acompanham as suas letras, de fio a pavio, como se as músicas fossem suas, como se lhes pertencessem. E, talvez seja isso que torna o concerto ímpar e especial: os temas, que escapam entre a voz do artista, para serem do mundo. Nas vozes, mais ou menos afinadas do público, há uma verdade que não pode ser sonegada, a emoção de quem canta (ou tenta cantar) as canções de amor do Rui Veloso, enquanto este as interpreta.
Começamos com o tema “Já não há canções de amor”, para provar, nas que se seguem, que afinal ainda há belas canções de amor, que merecem ser ouvidas, vezes sem conta, até que nos pertençam. “Nunca me esqueci de ti” e “O prometido é devido” são os temas que se seguem, num alinhamento repleto de canções intemporais.
O Rui é um anfitrião grato e reconhecido. Confessa, entre temas, o quão maravilhoso e especial é estar naquele palco, com uma sala completamente esgotada. É fácil acreditar nele, quando a emoção é uma partilha, que toma conta do público e que permite sentir a leveza e a paz do indizível.
Os conhecidos temas do cantor “somam e seguem”, sempre sustentados pelas vozes do público, cujo reportório sabe de cor. O momento «ainda mais especial» estava reservado para o dueto com a Maro. O Rui senta-se ao piano e faz soar os primeiros acordes de “Jura”. A combinação das duas vozes é “coisa rara e bonita”. Que mais posso dizer-vos?
Mal recuperados das sensações que se agigantam, o duo traz-nos o “Primeiro Beijo” e, por essa altura, já borboletas dançam nos céus do Coliseu. Não preciso de telemóvel para registar o momento. Aparelho algum consegue captar o que ali vivemos.
Passamos para um registo mais descontraído, ao som de “Guadiana” e “O trolha da Areosa”, para chegar ao tema que Rui Veloso dedica aos seus amigos de bairro, sentados todos juntos na plateia, «o pessoal do café», remata o cantor. Um “Porto Sentido” que transformou a sala no bairro do Rui e fez de cada um de nós, clientes de um café onde nunca chegamos a entrar.
“Lado lunar” marca o fim da atuação e é seguido de uma gigante ovação, sempre pequena demais, face ao quanto há a agradecer. Por isso, «como é da praxe», o Rui volta ao palco, com um xeque-mate perfeito: “Cavaleiro Andante”, “Não há estrelas no céu” e, a provar que ainda há canções de amor (mesmo não correspondido), “A Paixão”.
O Rui toma de empréstimo um verso do Carlos Tê para nos deixar uma mensagem importante sobre «essas coisas do amor», “Não se ama alguém que não ouve a mesma canção”. Uma verdade que nos faz perceber não só a importância do amor, mas a importância da música.
Assim foi o concerto do Rui Veloso no Coliseu Porto Ageas: o amor e a música de mãos dadas, olhos nos olhos, a namorar descaradamente entre o público. E foi lindo!
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