Stephen Dorff começou ainda miúdo a fazer pequenas participações em séries de televisão. Tinha 14 anos quando fez um papel na série "Roseanne" mas, depois disso, a sua carreira virou-se sempre para o cinema. Foi o quinto Beatle em "Backbeat", o mau da fita em "Blade" e um ator de Hollywood em "Somewhere", de Sofia Coppola.
Tantos anos depois de "Roseanne", Dorff voltou às séries e coprotagoniza a nova temporada de "True Detective" ao lado do oscarizado Mahershala Ali. Tal como as anteriores temporadas, há uma dupla de detetives, crime e uma história a começar de raiz.
Em Lisboa para a apresentação da HBO, o ator sentou-se connosco e explicou o seu historial com a série: "Eu era um fã da primeira temporada, achava que era a melhor coisa que tinha visto em TV desde 'Os Sopranos'. Sou um fã de dramas, fico menos entusiasmado com coisas com muitos efeitos. Fiz muitas dessas coisas em cinema, sei que há uma grande audiência para isso mas era fã da escrita no 'True Detective'. Quando estreou a segunda temporada, estava a rodar muitas coisas e não tive tempo para me debruçar sobre ela. Sei que havia muito gente que achava a primeira temporada ótima e a segunda não tanto, sei que toda a gente diz isso e isso é difícil de ouvir. Esta temporada achei que era tão brilhante que pensei que, sendo o 'True Detective', claro que há muita pressão, é uma grande oportunidade para a HBO voltar com esta série e fazê-la bem. Temos argumentos fantásticos, só temos de contar a história e não nos preocuparmos com isso tudo".
"Ameacei matar o Nick Pizzolatto (criador da série)", diz, em tom de brincadeira, para explicar como conseguiu o papel. E o papel de Roland chegou-lhe no "timing perfeito": "Tinha acabado de perder o meu irmão mais novo. Estava muito perturbado e não queria representar, não queria fazer nada. Estava num lugar terrível e recebo uma chamada do nada a dizer que o Nick estava a pensar em mim para o papel. Mandaram-me duas cenas, uma delas é a minha cena de abertura em que estamos aos tiros a ratazanas no primeiro episódio. Lemos essa cena e outra e o Nick ligou-me no dia a seguir. Sabia que havia um encaixe natural e não tinha ainda lido os guiões. Foi uma altura especial para mim porque acho que o Roland me ajudou muito. Interpretá-lo faria o meu irmão feliz, colocou-me num lugar positivo, trabalhar com artistas de alto nível e com uma equipa que nos apoiou imenso. Era disso que precisava, não precisava de ficar sentado em casa a definhar e a beber. Precisava de estar perto de pessoas e de fazer um bom trabalho, era isso que ele quereria".
Uma dupla de peso
Em "True Detective" Stephen Dorff contracena com Mahershala Ali, vencedor do Óscar de Melhor Ator Secundário por "Moonlight" e nomeado de novo este ano por "Green Book - Um Guia para a Vida". "Embarcámos nesta viagem juntos. Foi o seu primeiro papel de protagonista. Ele faz isto há muito tempo mas esta foi a primeira vez em que o nome dele estava no topo da lista de atores e acho que isso teve muito significado para ele", explica.
"Vamos ao fim do mundo juntos na série, passamos por altos e baixos, sem revelar muitos spoilers, há coisas muito bonitas por ver ainda. Tive alguns coprotagonistas fantásticos , trabalhei de perto com muitos atores, mas o material de base deu-nos oportunidade de fazer muito mais do que alguma vez fiz no cinema. E ele foi o parceiro perfeito", acrescenta o ator.
As duplas que os antecederam nas primeiras temporadas foram as de Matthew McConaughey e Woody Harrelson e Taylor Kitsch e Colin Farrell. De McConaughey conseguiu a benção na antestreia da terceira temporada em Los Angeles. "Eu não era um enorme fã do Matthew McConaughey mas depois de ter visto aquele papel pensei 'uau'. Não quero ofender, mas ele faz realmente um ótimo papel na série. Ele foi muito querido, veio à nossa antestreia em Hollywood. Ele é um tipo estranho mas veio ter comigo e disse 'agarraste bem a personagem, Stephen'. E eu disse 'obrigada, Matthew'. É um homem de poucas palavras mas gostei".
Filmes ou séries? O que conta são as histórias
Sobre se prefere fazer cinema ou TV, Stephen Dorff diz que o que conta é o material: "nesta era de ouro para as séries que se tornaram quase mais populares do que os filmes, e em que acho que têm melhor escrita do que os filmes, se tiver de escolher entre fazer isto e um filme de terror pateta vou sempre escolher o 'True Detective'".
Há 20 anos, diz, só via filmes no cinema. Mas hoje o ator diz que o mundo mudou: "a minha irmã mais nova vê o 'True Detective' no telefone e eu penso 'que raio estás a fazer?' O mundo mudou, a vida, os horários, a forma como os smartphones passaram a tomar conta das nossas vidas... Acho que as pessoas gostam de ver as coisas ao seu próprio ritmo quando estão em casa. Um cinéfilo, claro, ainda irá ao cinema ver aquele filme maravilhoso, acho que é importante, por exemplo, ver o "Roma" numa sala de cinema, mas acho que o consumo de cinema está a mudar".
Stephen Dorff explica ainda que há um determinado tipo de cinema que não lhe interessa: "há uma mão cheia de filmes bons todos os anos, mas na maior parte dos casos os filmes são uma treta. Eu não tenho vontade de entrar em filmes adaptados de banda desenhada, não tenho essa vontade, a menos que venha a ter filhos. Eu prefiro contar histórias reais, interpretar personagens reais. Mas não sou contra entrar num filme da Marvel, se me quiserem...".
O papel de Roland trouxe-lhe, no entanto, um problema: "temos um papel destes e depois disso temos de desistir e ir para casa. Nada vai parecer bom, portanto depois disto, mudo-me para Portugal e torno-me pescador, não sei...".
A terceira temporada de "True Detective" está disponível na HBO Portugal.
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