"Imagine atravessar o Atlântico num submarino artesanal com um espaço super reduzido. Isso é muito louco, eu não teria coragem", assume Leandro Firmino ao SAPO Mag durante um encontro da equipa de "Operação Maré Negra" com a imprensa num hotel lisboeta.
O ator brasileiro que deixou um desempenho incontornável dentro e fora de portas há 20 anos, ao encarnar Zé Pequeno em "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles e Kátia Lund, é um dos nomes do elenco internacional da minissérie de quatro episódios - que inclui ainda o conterrâneo Bruno Gagliasso ("Marighella"), o espanhol Aléx González ("O Príncipe" - leia a entrevista), o colombiano David Trejos ("Perdida") ou os portugueses Nuno Lopes, Lúcia Moniz (com quem o SAPO Mag também falou), Luís Esparteiro e Tomás Alves.
"Tem uma mescla de atores, mas todos conectados. Todos ali presentes contando a história", assinala. Ficção ancorada na realidade, a coprodução luso-espanhola (parcialmente rodada em Portugal) inspira-se no caso verídico de um submarino artesanal que em 2019 atravessou o Atlântico com três toneladas de cocaína - avaliadas em 90 milhões de euros - e três pessoas a bordo, de nacionalidade equatoriana e espanhola. Oriundo da América do Sul, acabou por ser intercetado na Galiza e passou por águas portuguesas.
Leandro Firmino encarna o mecânico Walder, uma das personagens que faz a viagem acidentada. "Ele presta serviços aos traficantes. É um homem que nunca deve ter tido muitas opções na vida, vive numa parte do Brasil muito distante. De alguma forma, está ali buscando sustento para ele e para a família", explica. "Lógico, não justifica, mas imagina as coisas que ocorram na vida desse homem para ele ir parar ali. Acaba entrando nessa história profundamente, por livre e espontânea pressão", diz entre risos e a dar conta da descontração elogiada ao SAPO Mag por colegas do elenco.
"Faz de tudo para sobreviver e acaba por ser um mediador de conflitos no submarino", descreve. David Trejos, que interpreta o traficante Angelito, outro homem que atravessa o Atlântico no submergível, sublinha que "Operação Maré Negra" é "uma série de atores, de personagens, de uma situação dramática profunda". "São figuras muito bem escritas, ricas, que atravessam vários estados", conta. "O terceiro capítulo é épico, com três homens a enfrentar o mar, uma força superior a eles".
O ator colombiano louva a aposta numa equipa internacional a vários níveis, do elenco à realização e produção. "Aprendi muito com estes atores: as suas técnicas, o seu conhecimento, a forma como trabalham as personagens. Não para os imitar, mas para me surpreender com os caminhos interessantes que percorrem", recorda.
"Uma camada portuguesa, uma camada espanhola..."
As mais-valias da conjugação de culturas "diferentes, mas complementares" também são vincadas por Pandora da Cunha Telles, da portuguesa Ukbar Filmes, uma das entidades envolvidas na coprodução (à qual se juntam a Ficción Producciones, a FORTA - Federação de Organizações Regionais de Rádio e Televisão espanholas e a RTP). "Há coisas que aprendi no modo de organização, por exemplo, de um set. Não partilhava essa visão e agora vamos fazer uma série e vou utilizar o mesmo sistema porque achei que era melhor. Isso é a grande vantagem das coproduções: trocarmos conhecimento, trocarmos experiências e isso foi fantástico".
A produtora compara, aliás, o processo de criação de uma série à dinâmica das coproduções. "Filmados uma camada de realidade, depois às vezes vai-se filmar outra camada de realidade, depois a pós-produção mete estas duas camadas juntas e ainda acrescenta coisas em cima. No fundo, as coproduções também são um bocadinho assim, funcionamos por camadas. Uma camada portuguesa, uma camada espanhola, produtores, televisões de sinal aberto, a Amazon...".
João Maia, que assumiu a realização ao lado dos espanhóis Daniel Calparsoro ("Hasta El Cielo", "Apaches") e Oskar Santos ("A Unidade", "A Mão de Midas"), realça o desafio técnico de um thriller transatlântico. "No início, ouvi a expressão que esta era uma série de maquinistas. E foi isso... realmente, utilizámos muito material de maquinaria. Nunca tinha visto equipas de maquinaria tão grandes. Maquinaria, quer dizer, às vezes é mesmo só por a câmara no carro", aponta o autor de "Variações". "Por a câmara no carro, no barco... estas coisas eram diárias. Tecnicamente, foi a coisa que talvez me tenha impressionado mais. E depois a pós-produção. Tivemos umas 50 cenas com efeitos".
Pandora da Cunha Telles destaca que "não é todos os dias que vemos um submergível a chegar à costa portuguesa. Isso é absolutamente extraordinário". "Operação Maré Negra" capta essa experiência com "uma câmara que não para" e um "ritmo incrível", beneficiando do "acesso a uma melhoria contínua" que as coproduções potenciam, defende. "Acho que a série transmite esse aspeto de mega aventura quase épica de três pobres diabos", acrescenta João Maia.
Os espectadores que queiram mergulhar nesta aventura podem fazê-lo na plataforma Prime Video, onde já estão disponíveis os quatro episódios, ou então esperar por 14 de março, data em que a minissérie dá à costa na RTP1.
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