Exigindo certamente um pouco mais dos leitores contemporâneos, que certamente já tropeçaram noutros formatos com os múltiplos terrores da peça, “Macbeth” é um convite à poesia e à reflexão nestes tempos de ultra velocidade.
Aquela que é conhecida como uma das peças mais sombrias de Shakespeare é dividida em quatro atos e narra a história de um general, a personagem-título, que, após uma bem-sucedida batalha na luta contra os invasores, é coroado rei local na Escócia.
Não contente com isso e instigado pela personagem de rara perversidade que é a sua esposa, Lady Macbeth, ele decide assassinar o rei da Escócia e tomar o poder. De posse deste, no entanto, o protagonista nunca deixa de ser assombrado pela culpa e mergulha num reinado de mais atrocidades e remorsos.
O autor britânico introduz a história a partir de um caráter sobrenatural, onde três bruxas aparecem a Macbeth e ao seu amigo Bancquo para lhe anunciar o futuro - o de que será rei.
Longe de uma descrição cínica do poder, “Macbeth” é trágico e emocional e, apesar de não estar claro o quanto o protagonista será punido pelas leis humanas, o rei mergulha num labirinto de alucinações e perceções exacerbadas dos sentidos que dão conta do poço sem fundo da sua própria consciência.
Das personagens mais interessantes é, sem dúvida, Lady Macbeth, que teme que o marido tenha “no sangue o leite da bondade”. Perante da possibilidade de o persuadir a assassinar o rei Duncan enquanto os recebe no castelo, faz o seguinte apelo:
““Vinde, ó espíritos
Dos letais pensamentos, vá, castrai-me
Do meu sexo, e enchei-me de alto a baixo
Com firmeza cruel. Inchai-me o sangue,
Barrais qualquer acesso ao remorso,
Negai qualquer visita à consciência,
O amansar do propósito, nem paz”
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