Integrado no ciclo “Abril Abriu” do Teatro Nacional D. Maria II, o espetáculo, com texto e interpretação de Sara Inês Gigante, estrear-se-á no dia 7 de junho, no Pequeno Auditório do Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães. Uma semana depois haverá outra récita em Viseu, no Teatro Viriato, e, de 20 a 30 de junho, terá nove récitas no Teatro Meridional, em Lisboa.
Em declarações à agência Lusa, Sara Inês Gigante, que venceu a sexta edição da Bolsa Amélia Rey Colaço com este texto, referiu que em “Popular” pega “numa fronteira, ou numa ideia que existe sobre tipos de público e tipos de público alvo”, fazendo uma “fusão” entre o que “seria um espetáculo popular e um dito erudito”, através de "uma brincadeira” em que parte do pressuposto do que devia fazer “para se tornar numa artista popular”.
“Por estarmos todos bastante divididos em estereótipos e convenções, de alguma forma, isso relaciona-se com um tema um bocadinho maior que é uma polarização que agora existe bastante”, referiu.
Sara Inês Gigante sublinhou que a proposta passa por se “apropriar dessa brincadeira” num jogo em que, a partir dos tipos de público, fala também de como os seres humanos estão "todos bastante afastados” devido a interesses próprios ou a princípios por que se regem.
Sara Inês Gigante indicou que em “Popular” fala da sua própria experiência enquanto artista numa busca incessante para saber do que precisaria “para ser uma artista popular, uma pessoal realmente conhecida e que precisa dessa validação do outro”.
Assumindo que na peça “brinca” também com "alguma pressão social" da sociedade para que as pessoas "devam fazer isto ou aquilo" - como a “pressão social de que devemos ler” - , a criadora considera que essa pressão muitas vezes acaba por funcionar como "fator de separação social e até de classes”.
Num espetáculo que, observou, “vai todo desaguar numa ideia de uma estratégia ou possibilidade, ou o que seria uma possibilidade” para que atingisse “determinada finalidade”, a criadora abre também espaço para falar na ideia de “manipulação e de uma determinada ideia de indústria comercial”.
“Descortinar esta máquina que somos nós próprios e que nós manipulamos” é um dos objetivos de “Popular”, que aborda também a questão do populismo, "de uma forma muito discreta”. Mas “é uma coisa que paira assim de certa forma na proposta”.
Em tempos “de polarização e em que temos 50 fascistas no parlamento, o que é um reflexo da nossa sociedade”, a autora considera que existe “muita falta de diálogo”.
“Acho que estamos numa fase de transição, numa fase de transformação e uma coisa que sinto muito é que as pessoas viram costas umas às outras, não dialogam”, frisou, admitindo, todavia, que, apesar de tudo, as “pessoas têm-se questionado sobre as coisas, o que é bom”.
Parece que “é uma pescadinha de rabo na boca, parece que estamos numa fase em que as pessoas entram mais em debate, em diálogo, mas, ao mesmo tempo, reivindicam-se mais e afastam-se mais uma das outras”, observou.
"E é isso que faz com que depois os discursos populistas acabem por vencer”, concluiu.
Criado e interpretado por Sara Inês Gigante, “Popular” tem apoio à dramaturgia de Malu Vilas Boas e colaboração musical de Cláudia Pascoal.
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