“A poesia pode pouco [face à guerra], mas pode dar uma resposta humana, uma resposta sensível e vibrante, ao mesmo tempo, às grandes questões e àquilo que nos dilacera no nosso tempo”, explicou à Lusa o curador da iniciativa, Luís Filipe Castro Mendes, sobre o tema desta edição, “Poesia em tempo de guerra”.
Para o antigo ministro da Cultura, embaixador e também poeta, “a poesia não é um instrumento de ação”.
“Não, a poesia não é uma arma, é uma forma de conhecimento, é uma forma de sensibilização e uma forma de nos fazer pensar”. É essa a motivação da festa que se espalha por Leiria com dezenas de propostas.
Para o curador, o objetivo da Ronda Poética de 2023 é, “através dos poemas, das posições e das conversas”, fazer “pensar melhor esta realidade da guerra” e “mostrar aqueles grandes poemas que reagiram às guerras e que assumiram posições”.
O poema “A paz sem vencedores e sem vencidos”, de Sophia de Mello Breyner, serve de mote. “Aliás, a Sophia de Mello Breyner vai ser a poeta inspiradora, a mentora tutelar desta nossa festa da poesia”, onde se juntam “alguns dos mais relevantes poetas, músicos e atores nacionais”.
As várias mesas-redondas vão refletir sobre “Poesia e guerras coloniais”, “Poesia e guerras civis e interétnicas”, “Poesia e guerras de religião” e “Poesia e guerra na Europa”.
À conversa são chamados os poetas António Carlos Cortez, Rui Lage, José Gardeazabal, João Melo, Zetho Cunha Gonçalves, António Tavares, Regina Guimarães ou Nuno Júdice e haverá poesia dita por Pedro Lamares, André Gago, Luís Lucas ou Manuel Wiborg, entre outros.
A Ronda Poética conta ainda com atuações de Sérgio Godinho, João Paulo Esteves da Silva, Artur Pizarro, Ana Deus e Luca Argel - juntos em “Ruído Vário” - ou Paulo Furtado com Gonçalo Amorim, em “Poesia na Idade do Rock”, no projeto Estro / Watts. O coletivo Lisbon Poetry Orchestra fará uma homenagem a “Os Surrealistas”.
A diversidade é transversal à programação de 2023: entre roteiros literários ou poemas musicados, há até uma conversa entre o Governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, e o presidente da Câmara de Leiria.
A par do programa geral, a Ronda Poética leva a poesia à sala de espera do hospital de Leiria, lança um ‘poetry slam’ na prisão com reclusos, funcionários e poetas e vai a dezenas de escolas, lares e jardins-de-infância.
Nestes dias, a poesia chega em múltiplos formatos a museus, teatros, à biblioteca, uma livraria, uma galeria, um mercado, uma antiga igreja e até ao Castelo de Leiria, abraçando os históricos Serões Literários das Cortes, criados há 36 anos e que estão na génese do festival.
“O grande valor adquirido desta Ronda Poética de Leiria é uma grande atenção a levar a poesia às comunidades: às juntas de freguesia, às escolas, à prisão, aos hospitais. Sempre foi uma preocupação. À escala que vejo nesta Ronda Poética, é realmente um caso bastante especial”, sublinhou o curador.
No campo editorial, há os lançamentos de “Aprender a usar a baioneta em tempo de guerra”, a estreia na poesia de António Tavares, vencedor do prémio Leya 2015, de “Perseguição dos dias”, do pintor, arquiteto, músico e poeta José Luís Tinoco, e da sétima edição da revista de poesia Acanto.
Está também anunciada a apresentação de “A vocação suspendida”, de Lauren Mendieta, e de “Flor de fumo e outros poemas”, da afegã Nadia Anjuman, assassinada pelo marido aos 24 anos.
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