A peça parte de um texto original de Sandro William Junqueira, inspirado nas memórias que tem do seu próprio avô, Emídio, e será apresentada na Igreja da Misericórdia, em Odemira, no sábado, às 21h00, e depois no domingo, às 17h00, no âmbito das comemorações do “Abril em Odemira”.
“O que este espetáculo tem de diferente é ter o autor do texto a dizer o que escreveu. Vou contar uma história minha, que tem coisas ficcionadas e outras que são verdade, mas isso caberá ao público descobrir”, explicou hoje à agência Lusa Sandro William Junqueira.
Segundo o autor, a peça “começa nos anos 40 [do século XX] e vai até pouco depois do 25 de Abril”, contando a vida dos avós, naturais do concelho de Alcobaça (distrito de Leiria), que nesse período foram viver para Angola e, mais tarde, para a Rodésia (atual Zimbabué).
A personagem principal é o avô, Emídio, já falecido, “uma pessoa muito fácil de gostar, mas que ao mesmo tempo tinha uma personalidade muito própria”.
“Era alguém que tinha uma visão, uma inteligência, uma perspicácia e uma grande tendência para a arte, que trabalhou como ilusionista no circo, foi hipnotizador e depois tornou-se um grande ceramista”, contou.
Sandro William Junqueira disse ainda que na peça vai estar sozinho em palco, apenas com "a companhia” da voz da avó Ermelinda, ainda viva.
“As pessoas vão poder ouvir a minha avó a contar a perspetiva dela de certas histórias que conto, num diálogo entre mim e ela”, explicou.
“Emídio” é uma peça produzida no âmbito do projeto "Lavrar o Mar", promovido pela associação cultural Lavrar o Mar nos concelhos de Odemira, Aljezur e Monchique (ambos no distrito de Faro).
O espetáculo “nasceu” durante uma noite em que Sandro William Junqueira foi jantar a casa de Giacomo Scalisi, diretor artístico e de programação do Lavrar o Mar.
“O Sandro começou a contar a história do seu avô, que achei incrível, tanto que no final lhe perguntei se não queria escrever um texto de teatro sobre a mesma. Acabou por enviar-me um texto tão bem escrito, que lhe disse que a única pessoa que o podia interpretar era ele próprio”, lembrou à Lusa.
Segundo Giacomo Scalisi, que encena a peça, “Emídio” é um espetáculo “sobre o que é a memória e como se pode falar sobre alguém a partir de uma outra pessoa que viveu uma vida inteira com esta pessoa, que é a avó” de Sandro William Junqueira.
“Esta peça interroga-nos sobre o que é a memória e como é que uma memória longínqua, não vivida, fica na memória e se transforma, independentemente do tempo que estamos a viver”, acrescentou.
O encenador disse ainda que a história de “Emídio” acaba por ser comum a quase todos.
“Cada um de nós tem uma memória de um avô ou avó ou alguém que, de alguma maneira, lhe marcou a vida”, frisou, explicando que o espetáculo, “apesar de não ter um discurso muito vincado sobre a ditadura, faz um retrato do que a sociedade era nesse tempo”.
Depois de Odemira, “Emídio” vai ser apresentado, nos dias 21 e 22, às 21h00, no Monte da Lameira, em Monchique, e nos dias 28 e 29, sempre às 21h00, no Espaço +, em Aljezur.
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