Jimmy Fallon é o principal responsável por um alegado ambiente de trabalho tóxico que existe "há anos" no "The Tonight Show", um dos principais 'talk-shows' noturnos da televisão dos EUA.
Uma investigação explosiva publicada esta quinta-feira pela revista Rolling Stone (acesso pago) chamada "Caos, comédia e 'quartos de choro': por dentro do 'Tonight Show' de Jimmy Fallon", revela que o ambiente "tenso" e "bastante sombrio" no programa vai "muito além dos limites do que é considerado normal no mundo de alta pressão da TV noturna".
A liderança sénior do programa, que teve nove 'showrunners' em nove anos, é acusada de permitir e fechar os olhos ao que faz a sua principal estrela e de ter algumas as mesmas atitudes de menosprezo e intimidação em relação aos funcionários. Muitos apresentaram queixas no departamento de Recursos Humanos, mas os problemas mantiveram-se.
Sob anonimato, a revista apresenta os depoimentos de dois atuais funcionários e 14 que saíram entretanto do programa, desde membros da equipa de produção até aos que trabalharam no escritório e na sala dos argumentistas: muitos dos que abandonaram dizem que o fizeram por causa da sua saúde mental e alguns que foram despedidos.
Em contraste com a personalidade afável que mostra no ecrã desde 2014, o ator, comediante a apresentador é acusado de trabalhar alcoolizado e criar um ambiente de medo à sua volta, criticando e maltratando os funcionários de forma passiva-agressiva, além de ter comportamentos erráticos e oscilações de humor, ao ponto de se falar que existem "os bons dias do Jimmy" e os "maus dias do Jimmy".
"Ninguém disse 'não' ao Jimmy. Todos andavam cheios de medo, principalmente os 'showrunners'. Nunca se sabia que Jimmy iríamos apanhar e quando é que ele teria um chilique. Veja-se quantos 'showrunners' desapareceram tão depressa. Sabíamos que não iam durar", diz um dos antigos funcionários.
O consumo de álcool destaca-se nos relatos, como o de que Fallon podia ser desagradável se parecesse ter bebido na noite anterior e “o comportamento parecia depender de estar de ressaca".
Outros também alegam que a situação se prolongava pelas horas de trabalho e recordam-se de o ver “aparentemente embriagado” em 2017 ou “sentiram o cheiro a álcool no hálito quando entraram no elevador com ele durante o dia de trabalho” em 2019 e 2020.
Não conseguir lembrar-se de ter acabado de riscar piadas num pedaço de papel que segurava por estar alterado é um dos incidentes concretos.
"Eu fiquei tipo, 'Ah, meu deus, ele parece estar bêbado. Não sabe o que está a fazer. Isto pode ser horrível – pode ser o fim do programa aqui mesmo'", recorda um funcionário.
Outros também contaram o "momento desconfortável" durante a gravação de um programa em que a lenda da comédia Jerry Seinfeld disse ao anfitrião para pedir desculpa à pessoa da produção que segurava os cartões com as deixas depois de ver os maus tratos. Fallon obedeceu e o momento foi cortado na versão final exibida no canal NBC.
"Foi um dos momentos mais estranhos de sempre e estavam lá tantas pessoas, portanto é um bocado difícil esquecer", diz uma das pessoas ouvidas.
Antigos funcionários falam do impacto do ambiente tóxico na sua saúde mental e que outros costumavam brincar sobre querer matar-se ou usavam os camarins dos convidados como “salas de choro”.
"É uma pena porque era o emprego dos meus sonhos. Escrever para a televisão da noite é o trabalho de sonho de muitas pessoas e entram nisto e torna-se muito rapidamente um pesadelo. É triste que seja assim, principalmente sabendo que não precisa ser assim", diz uma das pessoas que saíram.
A Rolling Stone diz que contactou mais de 80 atuais e antigos funcionários durante a sua investigação e que "embora muitos tenham elogiado o imenso talento e os dons cómicos de Fallon, nenhum aceitou em falar 'on the record ' ou teve coisas positivas a dizer sobre o trabalho no 'The Tonight Show'. Nem nenhum dos nove 'showrunners' falou sobre o programa oficialmente – nem sequer quiseram fazer declarações de apoio, como é habitual na indústria do entretenimento".
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