Dirigida por Jerónimo Pizarro, com a colaboração de Ana Guerreiro e Manuel P. Fernandes, esta edição da Tinta-da-China revisita as originais “Cartas de amor”, um conjunto que faz parte daquelas obras que poucas vezes voltaram a ser revistas, destaca a editora.
O objetivo desta revisão foi enquadrá-la “melhor na vida e na obra de Fernando Pessoa” e ao mesmo tempo editar criticamente os escritos originais, “acompanhados de novas pistas e novos documentos”.
Estas novas “Cartas de amor” afinam datas e leituras, lembram os objetos de amor trocados pelos namorados, juntam poemas que acompanharam o epistolário amoroso e incluem as cartas referentes à última paixão de Pessoa, que não foi Ofélia Queiroz, mas uma inglesa loira, chamada Madge Anderson.
Madge, que era irmã de uma cunhada de Fernando Pessoa, casou-se ainda jovem como um inglês, mas entre os ano de 1929 e abril/maio de 1935 fez “um número indeterminado de viagens a Portugal”, já então “em ‘férias’ do seu marido e em vias de se divorciar dele”, lê-se no prefácio da obra.
Este período apanha a segunda fase do namoro de Fernando Pessoa com Ofélia (namoraram entre janeiro de 1920 e novembro de 1920 e, depois, entre setembro de 1929 e fevereiro de 1931), que chegou a manifestar o seu ciúme, até porque, embora contra sua vontade, Pessoa e Madge encontraram-se em algumas ocasiões.
Nesta edição, as cartas trocadas entre o poeta e a inglesa acompanham as que hoje se conhecem como “Cartas de amor”, uma designação que a editora preferiu não alterar, porque “revelam uma paixão que Pessoa teve no último ano da sua vida e que terá nascido antes, na altura em que reatara a relação com Ofélia”.
A integração também neste volume de fotografias de época, cópias de documentos, cópias de cartas e poemas manuscritos, fotografias de objetos pessoais de Pessoa e de Ofélia, bem como numerosas notas de rodapé, algumas com indicações topográficas, “permitem que este livro se assemelhe, por vezes, a um álbum ilustrado pela vida e a obra de Fernando Pessoa”, refere a nota introdutória.
A biografia pessoana é plural (existem atualmente duas biografias portuguesas, duas espanholas, uma francesa, uma brasileira e uma americana, além de vários trabalhos de índole biográfica), como também o é a sua obra, com cada dia mais edições, traduções e estudos, notam os organizadores.
“Se Pessoa queria ser plural como o universo, é isso que hoje se verifica: a sua maior pluralização, acompanhada de uma maior universalização”, afirmam, sumarizando que esta edição procura fornecer um conjunto de textos “cuidadosamente estabelecidos, dedicadamente anotados, que renovem e multipliquem os estudos pessoanos”, mas também da “multidão de pessoas que os fazem”.
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