Esta 113.ª criação do Teatro Art'Imagem demonstra que, com o avançar da idade, as pessoas entram num “mundo mais realista” e esquecem-se de que há outras possibilidades, esquecem-se de que é preciso e é possível sonhar, contou hoje à Lusa o dramaturgo e encenador Pedro Carvalho, no final de um ensaio aberto aos jornalistas.

“Não podemos ter receio de sonhar. Vivemos demasiado a realidade e as preocupações do dia-a-dia”, disse.

Pedro Carvalho explicou que, em palco, retrata-se a experiência de quatro noites de Verão na vida de um sonhador perpétuo, que não tem nome, e que deambula pelas ruas desertas de São Petersburgo, na Rússia.

Numa dessas “noites brancas” –- noites em que não chega a anoitecer completamente --, o sonhador não consegue parar de pensar e caminha sozinho pelas ruas quando, subitamente, vê Nástenka, uma jovem que chora sob a ponte do rio Nieva, à espera de reencontrar o seu amor.

Depois de a salvar de uma tentativa de abordagem por parte de um transeunte suspeito, o sonhador e Nástenka estabelecem uma ligação amistosa que descortina as estórias de duas vivências díspares, mas que ascendem numa atração mútua.

Une-os uma espera inquietante que virá a definir os seguintes encontros noturnos, carregados de revelações, ansiedades, sonhos, medos e um confronto enigmático de paixões.

Nástenka tem 17 anos e vive há dois anos presa à saia da avó, por um alfinete, quando, um dia, conhece um inquilino que vem ocupar as águas furtadas da casa de onde vive e por quem se apaixona, relata a atriz Carina Ferrão, que dá vida à personagem.

“Ele [inquilino] acaba por ser a esperança do mundo exterior porque lhe empresta livros e leva-a ao teatro, sempre com a autorização da avó, e acaba por se apaixonar por ele ou pela imagem que tem fora daquela casa”, afirmou.

Não aguentando mais estar presa à avó, depois de conhecer o mundo exterior, Nástenka decide fugir com o amado, mas ele não pode levá-la, e assim espera-o durante um ano.

“Fica à espera de um futuro qualquer, de um momento. Mas o sonhador aparece por acaso e vem trocar-lhe as voltas, porque lhe mostra que há outros mundos possíveis para além deste inquilino, e ela fica baralhada", relatou.

Embora não tenha aparecido na noite prevista, o inquilino acaba por aparecer noutra noite e Nástenka decide partir com ele, em detrimento do sonhador, desvenda o encenador, acrescentando que antes de partir entrega ao sonhador uma qualquer lembrança “deixando no ar” se isso é um sinal de esperança ou apenas uma recordação.

Mas, será isto real? Flávio Hamilton, que dá vida ao sonhador, adiantou que este não está de facto a viver aquela realidade no concreto, antes de encontra fechado dentro das suas emoções e sonha isso tudo.

“É uma realidade sonhada e não vivida”, concluiu.

A peça “Noites Brancas” vai estar em cena entre quinta-feira e domingo, no Auditório da Quinta da Caverneira, na Maia, seguindo a 11 de janeiro para o Teatro Sá de Miranda, em Viana do Castelo. A 24 de janeiro sobe ao palco do Teatro Lethes, em Faro.