Até 31 de março, o MNAA associa-se ao Centro de Arte João Cutileiro, que detém o seu acervo, e à Fundação Carmona e Costa para assinalar a data da morte do escultor com a mostra “Às vezes, ponho-me a olhar para uma pedra…”.
Na origem da exposição esteve o desejo da artista e amiga de Cutileiro de homenagear a memória do escultor que muito admirava, criando peças com materiais próprios que unem algumas partes das pedras de desperdício proveniente das obras que o artista criou, e que lhe foram oferecidos, segundo uma nota de imprensa do MNAA.
João Cutileiro – que morreu faz hoje dois anos - costumava contar que o artista renascentista Miguel Ângelo acreditava que todas as esculturas existiam dentro de blocos de mármore, à espera de serem “libertadas” por um escultor, e que até gostaria de usar os desperdícios daquele escultor italiano para criar as suas próprias obras.
Nesta exposição – com curadoria de Filipa Oliveira – são articuladas entre si peças de João Cutileiro e obras de Teresa Segurado Pavão, que assume o fragmento como central na sua obra, por ser “um elemento estimulador da criatividade”, indica ainda o museu.
Ceramista de formação, a artista escolheu utilizar o barro branco nesta evocação do escultor – “num paralelismo com a cor do papel que aguarda a intervenção do artista” – e o ferro nas ligações entre a pedra e a cerâmica, numa alusão à técnica utilizada pelo escultor na estrutura das suas obras.
Teresa Segurado Pavão, nascida em 1957, em Lisboa, utilizou a roda de oleiro na finalização das peças para evocar também o acabamento a torno que Cutileiro utilizava nas suas esculturas.
Por seu turno, a curadora Filipa Oliveira usou “a relação natural existente entre os materiais utilizados pelos dois artistas plásticos – o barro e a pedra, ambos minerais em diferentes estados – para criar a base do discurso expositivo construído em torno da articulação de um importante grupo de esculturas de João Cutileiro”, com a obra produzida por Teresa Segurado Pavão.
Construída em torno dos conceitos de fragmento, memória e escultura, a exposição recorda um criador que “ficou conhecido pela qualidade da sua obra, e por ter revolucionado a escultura portuguesa, quando, após o 25 de abril, isso lhe foi permitido”, salienta o MNAA.
João Cutileiro nasceu e fez a sua formação inicial em Lisboa, estudou em Londres, por influência da pintora Paula Rego, e regressou em 1970 a Portugal, estabelecendo-se primeiro em Lagos e depois em Évora, em 1985.
Em 1990 realizou uma primeira retrospetiva na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, e também expos em países como a Alemanha, Estados Unidos, Macau, Luxemburgo e Bélgica. É da sua autoria o Monumento ao 25 de Abril, na capital.
Foi agraciado com o grau de Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, que distingue personalidades de mérito científico, literário e artístico.
A exposição “Às vezes, ponho-me a olhar para uma pedra…” é inaugurada hoje, às 17:00, com um momento de evocação da “figura ímpar” de João Cutileiro, sublinha o MNAA.
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