Dylan Farrow, filha adotiva de Woody Allen e que o acusa há vários anos de a ter violado quando era criança, não percebe como existem tantas atrizes que o defendem e apoiam ao mesmo tempo que surgem entre as signatárias o movimento "Time’s Up" [Chegou a altura] lançado contra os assédios e abusos sexuais.
Recorde-se que durante a batalha judicial pela custódia dos filhos do realizador e Mia Farrow em 1992, após se ter tornado público que este tinha um caso com a filha adotiva desta, Soon-Yi Previn, surgiram acusações de que teria abusado sexualmente de Dylan, então com sete anos. Um juiz de Nova Iorque e uma investigação dos Serviços Sociais concluíram que as acusações "não eram conclusivas" e o caso não teve mais consequências, embora tenha a partir daí ensombrado o cineasta.
Em 2014, a própria Dylan Farrow veio a público dizer que os abusos aconteceram, com Woody Allen a considerar de imediato as acusações "falsas e vergonhosas". Dois anos mais tarde, foi a vez do irmão, o jornalista Ronan Farrow, publicar um artigo no qual denunciava "o silêncio" a respeito do passado do seu pai.
Ronan, vale a pena recordar, foi o autor do artigo explosivo do New Yorker de outubro do ano passado que apresentava novos relatos de assédio e violação envolvendo o produtor Harvey Weistein.
Agora, Dylan Farrow volta a vir a público para dizer que não percebe como é que a iniciativa Time’s Up, lançada a 1 de janeiro, tem entre as signatárias muitas atrizes que trabalharam com Allen e continuam a defendê-lo, incluindo Scarlett Johansson, Cate Blanchett, Blake Lively, Emma Stone e Greta Gerwig.
"Apoio completamente as mulheres que assumem uma posição, juntando-se a outras mulheres (e homens), apoiando-se umas às outras para provocar mudanças não apenas na indústria do entretenimento, mas no mundo em geral. Isto é um objetivo admirável que vale a pena, espero que estas mulheres mudem o mundo. Dito isto, é difícil conciliar isso com as pessoas que se juntam a este movimento sem assumir qualquer tipo de responsabilidade pessoal pelas formas como as suas próprias palavras e decisões ajudaram a perpetuar a cultura contra a qual estão a lutar.", explicou num depoimento ao BuzzFeed News.
Blake Lively, por exemplo, tem sido uma das maiores ativistas contra os assédios sexuais, mas quando um jornalista lhe perguntou a sua posição tendo em conta as acusações de Dylan, respondeu que era "espantoso o que Woody tem escrito para as mulheres. É muito perigoso dar opiniões sobre coisas de que não sabemos nada. Apenas sei da minha experiência. E a minha experiência com o Woddy é que ele dá força às mulheres".
As declarações da atriz caíram muito mal na alegada vítima: "Luto para perceber como é que uma mulher que acredita que Woody Allen 'dá força às mulheres' pode reivindicar o papel como uma ativista das mulheres que sofrem assédio sexual".
Dylan Farrow também coloca em causa Justin Timberlake, visto a usar um pin da iniciativa nos Globos de Ouro e um dos financiadores do fundo jurídico que apoiará futuras vítimas, mas que, no auge do movimento #MeToo, disse no programa "The Late Show With Stephen Colbert" que ter trabalhado com o realizador em "Roda Gigante" foi "um sonho tornado realidade".
"Como é que um alguém poderoso como Justin Timberlake pode reivindicar estar orgulhoso da força das mulheres e apoiá-las neste momento #MeToo e logo a seguir dizer que trabalhar com Woody Allen é um 'sonho tornado realidade?", diz no depoimento ao BuzzFeed.
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