Os curadores António Pedro Lopes, Joaquim Durães, Luís Banrezes e Márcio Laranjeira, responsáveis pela organização do festival Tremor, na ilha de São Miguel, trazem ao centro de artes Arquipélago, na Ribeira Grande, a exposição “Epicentro:Milagre”, que reúne os artistas Berru, Francisco Lacerda, João Ferreira, Tito Mouraz e Vincent Moon & Priscilla Telmon.

Esta mostra devia ter sido inaugurada durante a edição de 2020 do Tremor, que estava pronta a arrancar no final de março, quando, a 13 do mesmo mês, o país foi atirado para um confinamento que obrigou ao cancelamento do festival.

Depois de vários desafios, “Epicentro:Milagre” conseguiu “manter todos os artistas originais, o que é incrível”, exclama António Pedro Lopes.

“Vêm fazer este trabalho de pensar como é que, de alguma forma, a nossa posição geográfica, a nossa condição natural, cria uma identidade cultural muito específica, que é insular, que é açoriana”, explica à Lusa António Pedro Lopes.

O curador conta que “a exposição será bastante diversa, no sentido em que vários artistas trabalham áreas bastante diferentes: do som à instalação, fotografia e cinema”.

São "olhares bastante diferenciados, de dentro e de fora”, que “vão dar esta plataforma para pensar o que é que é isso de viver num lugar que está em constante ameaça, pelos elementos da natureza, que nunca se sabe o que é que será o dia de amanhã, que nunca se sabe quando é que aparece uma nova ilha".

Servem também para perceber "como é que o facto de vivermos neste mundo nos faz ilhéus, em termos de rituais, de fés, credos, ajuntamentos coletivos que nos ajudam, como sociedade, a sobreviver a esse lado de não saber o que é que vai acontecer, o que é que é o dia de amanhã ou que transformações a terra vai sofrer", sublinha.

Esta mostra é “um grito de resistência”, numa altura em que, “mais do que nunca, [é preciso] mesmo de milagre, que pode começar por [se estar] novamente em conjunto, sentados a conversar e marcar o ponto, para poder andar daqui para a frente”.

“É muito importante podermos marcar o regresso. Já fizemos dois concertos e agora, com esta exposição, é um sinal muito importante de que continuamos vivos, de que a cultura precisa de ser repensada, mas que não pode ficar para trás”, afirmou o responsável.

O curador destaca a importância de “abrir uma casa” com trabalhos “que são originais, que são novos, que refletem o território, que apontam diretamente para a identidade, para a história das pessoas, ao mesmo tempo que a levam para outros caminhos, que são novos”.

“Precisamos de ter horizonte e de pensar que o futuro é possível, mesmo com todas as condicionantes, que seja tenso e contranatura”, declarou.

Depois de passar “por uma catástrofe”, o Tremor quer manter uma “relação a longo termo e ao longo do ano, que tenha várias ativações e vários desafios, várias formas de convidar as pessoas a virem participar e estarem próximas de novas ideias”.

Para a próxima edição, ainda não há certezas “de como as coisas se vão desenrolar”, mas “existe o compromisso e a promessa de voltar a fazer o Tremor, em 2021, em São Miguel”.

“Estamos feitos esponjas: a ouvir, a escutar o mundo, neste momento, fisicamente, aproveitando também esta exposição, estamos numa residência artística para perceber onde estamos, como estamos, o que aconteceu, como estão os nossos parceiros, que desejos, que medos, que anseios, mas sempre com a vontade de continuar”, explicou.

A exposição “Epicentro:Milagre” pode ser visitada a partir de domingo até 10 de janeiro de 2021, no Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas, na Ribeira Grande.