De acordo com a Largo Residências, a “ocupação parcial” do hospital Miguel Bombarda, sob alçada da gestora de participações imobiliárias do Estado Estamo, “permite manter no território (Arroios) vários projetos e coletivos que contribuem para o desenvolvimento local com impacto cultural, social e económico”.
“‘Jardins do Bombarda’ é o novo centro cultural e comunitário que abre ao público no 2.º trimestre de 2024”, lê-se no comunicado.
A Largo Residências ‘materializou-se’ em 2012, no n.º 19 do Largo do Intendente, como um laboratório artístico e hotel, cujas receitas serviriam como fonte para sustentar a parte de criação artística do projeto.
Entretanto, em 2020, a pandemia da COVID-19 precipitou o encerramento da unidade de alojamento, que acabou por servir para acolher migrantes ‘apanhados’ pela doença.
Em abril de 2022, a Largo Residências teve de deixar o Intendente, instalando-se, em outubro do mesmo ano, no antigo Quartel da GNR do Largo do Cabeço da Bola.
O novo espaço foi anunciado na altura como temporário, visto que “toda a área do Quartel será objeto de uma grande intervenção no sentido de criar Habitação a Renda Acessível”, referia a cooperativa cultural num comunicado divulgado aquando da inauguração.
No comunicado divulgado na quarta-feira, a Largo Residências recorda que, ao longo do ano em que esteve no Quartel do Largo do Cabeço da Bola, promoveu “mais de 900 eventos de programação e formação sócio-cultural com mais de 80 parceiros pontuais para cerca de 50 mil visitantes/público”.
Além disso, “vizinhos(as) e parceiros(as) sociais apropriaram-se de um espaço seguro, intergeracional e multicultural que incluiu a participação de grupos de ativistas pelas questões climáticas e de género, por cidadãos/cidadãs em várias condições de vulnerabilidade social (situações de sem abrigo e refúgio) criando um espaço de trabalho permanente para 40 projetos socioculturais (individuais e coletivos) abrangendo 190 trabalhadores(as)”.
Segundo aquela cooperativa cultural, “no total estiveram envolvidas mais de mil pessoas trabalhadoras da área da cultura e intervenção social que contribuíram para um impacto económico estimado em 1.3 milhões de euros, de acordo com o volume de negócios das entidades residentes”.
A cooperativa Largo Residências irá, em breve, “promover várias estratégias e campanhas de angariação de fundos para dar viabilidade a este novo projeto” Jardins do Bombarda.
“Construímos cidade, aberta a todas as pessoas. Defendemos que o futuro do Hospital Miguel Bombarda possa ter em conta a defesa do seu património cultural promovendo parcerias e colaborações com diferentes entidades e agentes culturais e territoriais que ao longo dos últimos anos têm alertado e apresentado várias propostas para este espaço de forma a que a sua utilização possa ser democrática, representativa e inclusiva”, salienta.
O hospital Miguel Bombarda, fundado em 1848, foi o primeiro hospital psiquiátrico do país, embora só tenha sido batizado com aquele nome em 1948, em homenagem ao médico psiquiatra Miguel Bombarda.
Com a criação do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, em 2007, o hospital Miguel Bombarda foi sendo desativado progressivamente, tendo encerrado de forma definitiva em 14 de fevereiro de 2012.
O complexo onde funcionava esta unidade hospitalar foi vendido pela Câmara Municipal de Lisboa à Estamo em 2009, por cerca de 25 milhões de euros.
Depois disso, foram classificados como conjunto de interesse público os edifícios do balneário D. Maria II e do Pavilhão de Segurança, pelo que o hospital ficou protegido pela Zona Especial de Proteção. Mais tarde, foi também classificado o edifício principal (antigo convento).
Em 2019, o Governo aprovou o Plano de Reabilitação de Património Público para Arrendamento Acessível, determinando a afetação de 50 imóveis do Estado sem utilização para arrendamento habitacional a custos acessíveis, entre os quais o antigo Hospital Miguel Bombarda.
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