“Os moçambicanos vão marchar em homenagem a Azagaia”, da estátua de Eduardo Mondlane no centro da cidade até à Praça da Independência, de forma “pacífica” e “dentro daquilo que a Constituição permite”, referiu Quitéria Guirrengane, uma das ativistas na organização da vigília de hoje.
O objetivo é marchar até à Praça da Independência, porque “independência é liberdade” e, referiu, querem “libertar este povo”.
“É esta a mensagem que vamos passar, do povo que vai tomar o poder”, acrescentou, em alusão a um dos temas mais conhecidos por entre as letras de intervenção de Azagaia.
“Povo no poder, é isso que é a democracia”, referiu Manuel de Araújo, presidente do município de Quelimane, um dos raros autarcas da oposição em Moçambique, também presente na vigília.
Araújo qualificou Azagaia como o seu “herói”, “o protótipo do jovem” que “gostaria de ter sido”.
“Confesso que não consegui”, admitiu o autarca do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) – que mesmo com o seu município na rota um ciclone, fez uma escolha: “Prefiro estar aqui com Azagaia, depois vamos tratar do ciclone”.
Azagaia, nome artístico de Edson da Luz, morreu na quinta-feira, aos 38 anos, em sua casa, em circunstâncias ainda não divulgadas.
Ficou célebre pela crítica aberta à governação de Moçambique e por dar voz às críticas da população num dos países mais pobres do mundo.
“Foi um herói da nossa geração”, referiu Quitéria Guirrengane, uma das animadoras que proferiu palavras de ordem durante a vigília, organizada por jovens, sem representar organizações.
“O povo no poder” foi um dos refrãos mais vezes entoado no pavilhão de Maputo que acolheu a vigília, pontuado por velas acesas em memória do autor das letras mais críticas do poder em Moçambique.
“Azagaia nos convocou a ‘sequestrar’ o Presidente [outro tema do 'rapper'] no sentido de assegurar que aqueles que estão no poder político representam as aspirações de toda uma geração”, ilustrou Quitéria.
Para a ativista, o ‘rapper’ ensinou Moçambique “a questionar a mentira da verdade” – em alusão ao título de outro dos seus famosos temas – e cabe aos jovens “salvaguardar que ele vive nos seus corações”.
No meio da multidão, havia vários jovens que cultivam o hip-hop, como um que dá pelo nome artístico de Young Nigger G.
“Estou aqui para comemorar a vida do meu ídolo”, referiu, comparando Azagaia ao “acordar do povo”.
“Ele educava toda a sociedade”, acrescentou, ali ao lado, Hortência Franco, ao explicar que as letras do ‘rapper’ a fazem pensar e que essa reflexão atravessa gerações de moçambicanos.
Para dia 18 está marcada a marcha em Maputo e Quitéria Guirrengane acredita que não haverá entraves, apesar de a polícia moçambicana, por norma, não permitir manifestações.
“Os nossos amigos da polícia já têm consciência de que a manifestação é um direito constitucional. Esperamos que o município se conforme com a lei” perante uma iniciativa “pacífica”, com “uma mensagem poderosa, de que é tempo de mudança”, concluiu.
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