“As Muitas Mortes de Laila Starr” chega ao mercado português pela G. Floy Studio com amplos elogios da crítica estrangeira, depois de ter saído nos Estados Unidos pela Boom Studios, primeiro em capítulos e depois num só volume em 2022, e de já ter sido traduzido para outros países, como França, Itália e Brasil.
Esta BD esteve nomeada para os prémios norte-americanos Eisner e Harvey, foi premiada pela Associação de Críticos e Jornalistas de BD de França e esteve nas listas dos melhores do ano. Filipe Andrade contou que “há abordagens” para uma possível adaptação para cinema.
Ambientada na Índia, a história começa com a deusa da Morte a perder o seu propósito por causa do nascimento de um bebé que, no futuro, descobrirá a imortalidade.
Relegada para o mundo dos vivos, no corpo de uma jovem mulher – Laila Starr –, a Morte seguirá o seu caminho em busca dessa pessoa.
“As Muitas Mortes de Laila Starr é a primeira colaboração de Filipe Andrade, de 36 anos, com o argumentista indiano Ram V e o trabalho de preparação e desenho foi praticamente feito à distância, durante a pandemia da COVID-19.
“A sinopse tinha um pouco a reflexão que todos nós estávamos obrigados a ter naquele momento [da pandemia], sobre o valor do tempo, das coisas, dos valores humanos. Até por questões do próprio medo que estava instalado, eu senti que segue muito o contexto contemporâneo do que vivemos, é uma resposta boa a isso”, contou Filipe Andrade em entrevista à agência Lusa em Lisboa, onde vive.
Filipe Andrade, que editou a primeira BD, “BRK”, em 2009 com Filipe Pina, é atualmente um dos autores portugueses que mais trabalham no mercado internacional, com destaque particular para o que publicou na Marvel, em títulos como “John Carter”, “Quarteto Fantástico”, “Jessica Jones" e “Imortal Hulk”.
A proposta para desenhar “As Muitas Mortes de Laila Starr” surgiu num momento em que procurava outros projetos, de maior fôlego e numa linha mais independente.
“É um trabalho de charneira, de início de ciclo, que é esta ideia que eu tenho de querer trabalhar em longas. De não querer trabalhar em pequenos livros, pequenos episódios, que tiveram a sua fase. […] Trabalho há mais de 15 anos e é uma consequência natural de começar a afinar para coisas de que gosto mais”, explicou.
“As Muitas Mortes de Laila Starr” é um livro marcado pela espiritualidade, sobre o sentido da vida e protagonizado pela figura da Morte, mas Filipe Andrade, depois coadjuvado pela colorista portuguesa Inês Amaro, desenhou uma obra profusamente colorida.
“Como a temática já era pesada eu não queria fazer uma estética pesada, queria jogar com o oposto, pulverizar com o máximo de cores possíveis, dar esse colorido que a moral da história também dá, através da dor”, justificou.
Sobre o trabalho de produção e desenho, Filipe Andrade comparou-o ao de um realizador, com pesquisa de locais, direção de arte, preparação de personagens e atores.
“Monto tudo para depois ser só desenhar. Depois já sei precisamente o que estou a fazer. Se a câmara vai abaixo ou acima, se é um plano mais geral ou ‘close up’. Embora isso já esteja escrito no argumento, eu tenho liberdade de tomar decisões”, exemplificou Filipe Andrade.
Quando “As Muitas Mortes de Laila Starr” sai em Portugal, Filipe Andrade está já a trabalhar em “Rare Flavours”, a nova colaboração com Ram V, que começa a sair em setembro, novamente pela Boom Studios e em capítulos.
“Relaciona-se com comida. Não sendo um livro histórico, [é sobre] o que nos faz ser atraídos por comida. Não é só alimentarmo-nos. É um livro completamente diferente. É uma reflexão diferente, mas não me parece que seja um livro com uma temática tão abrangente”, como o anterior, disse.
Por ser comum uma BD ser adaptada para cinema ou série televisiva, “porque tem uma vertente muito criativa”, Filipe Andrade revelou que “há algumas abordagens nesse sentido” também para “As Muitas Mortes de Laila Starr”, até porque a editora norte-americana Boom Studios tem capital social da Fox Movies.
“Não está nada fechado. Honestamente acho que seria melhor um filme com atores. Porque a animação seria um pouco prolongar o que tenho aqui. Interessante seria ver um lado humano no meio disto, porque trata um pouco disso”, defendeu Filipe Andrade.
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