Dois anos depois de deixar a sua longa jornada em “Anatomia de Grey”, a atriz Ellen Pompeo está de volta ao pequeno ecrã num papel muito diferente em “Good American Family”, como mãe de uma criança adotiva que foi acusada de ser uma adulta disfarçada.

A série, que se estreia no Disney+ Portugal na quarta-feira, 9 de abril, é baseada num escândalo da vida real que abalou os EUA em 2019, quando os pais adotivos de Natalia Grace foram acusados de a abandonar aos 8 anos e deixá-la a viver sozinha num apartamento, depois de terem conseguido que a sua idade fosse alterada para 22 anos.

“A forma como isto me mudou é que estou mais consciente dos danos que se podem infligir a uma criança tanto pela ação ou inação como a nossa reação”, disse a atriz Ellen Pompeo numa conferência de imprensa de lançamento da série. “Muito da parentalidade é sobre ego e uma reflexão de nós, ou assim queremos que seja”.

Pompeo encarna Kristine Barnett, mãe de três rapazes que adotou Natalia Grace com o marido, Michael Barnett, em 2011. Natalia Grace era uma criança de sete anos que tinha sido deixada num orfanato ucraniano, sofria de uma rara forma de nanismo e já tinha sido adotada por outra família antes de chegar aos Barnetts.

A menina, interpretada na série pela britânica Imogen Faith Reid, começou a ter comportamentos que Kristine Barnett achou estranhos e a levaram a suspeitar que ela era, na verdade, uma adulta disfarçada de criança.

As ‘showrunners’ Katie Robbins e Sarah Sutherland usaram uma estrutura em que a audiência tem a oportunidade de ver os acontecimentos tal como contados por Kristine, por Michael e por Natalia. O que parece ser verdade no início acaba por ser posto em causa no fim.

“Podemos mover-nos pelo mundo a pensar que a nossa versão da realidade faz sentido, é compreensível, que tudo o que fazemos tem uma boa razão”, disse Sarah Sutherland em entrevista à Lusa. “A ideia é usar esta estrutura para permitir às pessoas viverem dentro desses pontos de vista e sentir o que eles sentem”.

Depois, a mudança leva-as numa jornada que as autoras esperam dar uma nova forma de analisar preconceitos e até ser um pouco educativa, além de entreter.

Michael Barnett, o pai da família, é encarnado por Mark Duplass como um homem inseguro, que se deixa levar, que abandona a filha adotiva num estado deplorável.

“Não sou estranho a profunda insegurança e vulnerabilidade, por isso tinha acesso a muitas das coisas que Michael Barnett pensa”, disse o ator em conferência. “Há uma procura por ajudar os outros, uma espécie de complexo do herói. Fiquei fascinado com como isso pode correr tão mal com um certo tipo de personalidade”.

Katie Robbins explicou que não tiveram qualquer contacto com as pessoas da vida real em que a série se baseia e recorreram a uma extensa equipa de pesquisa, liderada por Reva Mandelbaum, para obter fontes e factos fidedignos. Isso incluiu transcrições do que se passou no julgamento de Michael Barnett em 2022, acusado de negligência.

“Tínhamos os registos do tribunal, tínhamos depoimentos, mensagens de Facebook, registos de adoção, documentos médicos, além de tudo o que está publicamente disponível”, disse Katie Robbins em entrevista à Lusa. “Tínhamos muita pesquisa para tentar contar a versão mais emocionalmente autêntica da história”.

Ambas as partes deram muitas entrevistas e Natalia Grace chegou a ir ao programa de televisão “Dr. Phil”, numa disputa e troca de acusações mediática durante vários anos.

O regresso à ribalta com esta série é mais uma oportunidade, no entender das criadoras, de questionar o preconceito e os juízos que fazemos sobre as pessoas com base na aparência.

“Ao fazermos isso, perdemos um sentido de empatia e curiosidade”, afirmou Robbins. “Penso que a história de Natalia não teria acontecido se ela não tivesse aquela deficiência. Porque assumimos coisas sobre as pessoas com base em como se movem no mundo”, continuou. “Isto põe a nu questões sobre preconceitos em geral e preconceitos sobre deficiências, em específico”.

Sarah Sutherland espera que a série permita um melhor entendimento sobre o que aconteceu a Natalia Grace e o que isso significa sobre a sociedade.

“Creio que todos temos um desejo inato e humano de sermos vistos e compreendidos”, afirmou. “Se pudermos movermos no mundo lembrando-nos disso, talvez coisas como as que aconteceram aqui não continuem a acontecer”.

“Good American Family” tem seis episódios e o Disney+ Portugal vai estrear um por semana a partir de 9 de abril.