O Coliseu Porto Ageas acolheu esta sexta-feira, dia 22 de março, o concerto de apresentação do último álbum da fadista. A sala, completamente esgotada, assistiu, na verdade, e nas palavras de Sara Correia, «à história da minha vida, dos fados que marcam à minha infância, até a uma viagem pelos meus álbuns ‘Sara Correia’, ‘Do Coração’ e o mais recente ‘Liberdade’».
O alinhamento é uma homenagem ao fado, a grandes compositores, a eternas fadistas e a intemporais cantores. Nas mais diversas formas de fado, o baixo e a bateria hão-de juntar-se à guitarra portuguesa, para lembrar ao público que o fado pode renovar-se.
“Porquê do Fado”, “Tu ganhas Sempre” e “Não se demora” são os três primeiros temas escolhidos para inaugurar o espetáculo. Num cenário sombrio, com a banda a ocupar as laterais do palco, Sara Correia “brilha” no centro da cena.
O concerto segue, com “Não se demore”, “Se o mundo dá tantas voltas” e “Agora o tempo”, numa viagem entre os álbuns ‘Sara Correia’ e ‘Do Coração’. Abrem-se literalmente, as cortinas no cenário, para a projeção de vídeo de Maria Nazaré, uma das referências da jovem cantora, e o belíssimo dueto “Tu não me digas”.
Cada tema é cantado com um sentimento e uma energia que emocionam a plateia. Um público que se levanta, uma e outra vez, para ovacionar Sara Correia, a sua banda, a sua música, o fado.
Apontar os grandes momentos do espetáculo ou sublinhar o tema que levou o público ao rubro é impossível. Não porque não tenham existido, mas porque foram demasiados. Numa sucessão de emoções que nos arrepiam a pele e que nos deixam os olhos em lágrimas.
A surpresa da noite estava reservada para a apoteótica entrada de Pedro Abrunhosa, ao piano, e a interpretação do tema “Que o Amor te salve”. Que belíssimo momento! Quanta energia e sentimento cabem numa canção? Apenas refeitos do turbilhão de emoções do maravilhoso dueto, segue-se “Ilumina-me”. A genuinidade e grandiosidade de Pedro Abrunhosa, que dá a mão aos mais novos talentos e que lhes aponta novos rumos, sem pretensão, é um dos mais belos gestos de amor pela música.
Segue o espetáculo, entre “Chelas”, “Marias na Terra”, “Eu quero” e “Madrugou”, com a entrega vibrante de Sara Correia, a cada tema, a cada palavra. “Quero é Viver” é, em uníssono, entoado, do princípio ao fim, por uma enorme sala, pequena demais para tanto talento. Que belíssima homenagem a um dos nomes maiores da música portuguesa, António Variações.
Em noite de outras homenagens, de viagens ao passado, de novos futuros, o espetáculo termina ao som de “Estranha forma de Vida”. Como não “trazer ao palco” Amália Rodrigues, o nome maior do fado?
No encore, Sara Correia junta-se ao público do Coliseu e, no centro da plateia, interpreta, de uma forma ímpar, “Fado português”. Uma energia palpável, onde parece ouvir-se os ritmos dos corações acelerados, pela oportunidade de poder viver aquele momento. Não há telemóvel que registe uma ‘Liberdade’ que toca e que incita, num caos de emoções, a sermos a nossa melhor versão.
Foram mais de duas horas de espetáculo, num tempo que voou livre, sem amarras. A mensagem é simples, diz-nos Sara, «tenho liberdade para ser quem sou, para ser como sou». Há algo mais genuíno?
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