Na sua casa em Playa, Havana, onde mora com a avó, a jovem transforma constantemente a sala de estar numa pista de dança, onde repete incessantemente os passos das novas coreografias do género popular.
A sua paixão pelo K-pop surgiu há quatro anos, quando alguns amigos lhe apresentaram os BTS, o lendário grupo sul-coreano mundialmente conhecido, e as Blackpink, uma banda feminina internacionalmente aclamada.
"Foi em 2016 que vi os BTS e disse 'a sua música é incrível, como eles dançam, quero dançar como eles'", conta Trujillo, que veste preto e tem madeixas vermelhas no seu cabelo castanho.
"Quando me mostraram Blackpink, eu disse 'estas raparigas são incríveis, quero ser como elas'", acrescenta.
Roupas, maquilhagem e posters. O objetivo de Trujillo, que em criança dançou numa companhia de ritmos cubanos, é tornar-se a primeira ídolo do K-pop na ilha caribenha.
"Vejo K-dramas, que são novelas coreanas, e entrevistas com os meus ídolos favoritos, e com as legendas vou entendendo o que eles estão a dizer", acrescenta a adolescente, que ensaia por horas as coreografias com o seu amigo Mikel Caballero, de 17 anos.
"Danço muito bem o K-pop", acrescenta o amigo de Trujillo, admitindo que para dominar os passos, ambos têm que "ensaiar muito". Este jovem amante da música, com conhecimento de piano e percussão, sonha em viajar para a Coreia do Sul.
"Gostaria de ir, gosto de tudo lá", afirma Caballero, enquanto a sua expressão se ilumina.
Em Cuba, onde a salsa e o reggaeton predominam, os fãs de K-Pop formaram grupos para partilhar a sua paixão, ensaiando nas ruas ou nos parques.
A internet na ilha, e especialmente a sua chegada aos smartphones em 2018, facilitou o acesso a essa cultura globalizada.
No "coração dos jovens"
"O cubano está acostumado ao mesmo ritmo, sempre, à mesma rotina, e acho que o K-pop é algo completamente novo", diz Alejandro Achín, de 21 anos, que realizou em 2019 o seu sonho de dançar em Seul, após o seu grupo vencer um festival amador de K-pop em Havana.
Desde 2021, o projeto Diamond oferece um local para os jovens aprimorarem as suas coreografias e organiza eventos de K-pop.
"Sabemos que há muitos jovens que gostam deste tipo de música" e "quisemos criar um espaço especial", explica uma das responsáveis pelo projeto, Tania Abreu, durante uma competição mensal realizada numa praça no centro de Havana.
O K-pop, e mais amplamente o "Hallyu" - "onda" de cultura pop sul-coreana que conquistou o mundo a partir dos anos 2000 -, chegou a Cuba apesar de a ilha, historicamente aliada ao comunismo da Coreia do Norte, não ter relações diplomáticas com Seul.
Isso não impediu a criação de um pequeno centro de estudos de língua coreana em Havana, em 2014.
Desde 2022, um "Centro Cultural e Escola de Língua Coreana" opera em novas instalações, com o apoio material da embaixada da Coreia do Sul no México. O centro possui, atualmente, 150 alunos e tem de recusar novas inscrições.
Ia González, de 20 anos, frequenta há vários meses o centro e fica surpresa toda vez que identifica uma palavra nas suas músicas de K-pop favoritas.
"Não é difícil. Há partes complicadas, mas quando gostamos, colocamos paixão e empenho nisso", diz González.
A diretora sul-coreana do centro, Hohyun Joung, que ao lado de outras quatro professoras cubanas divide o ensino da língua, fica maravilhada com a maneira como a língua e a cultura do seu país penetraram no "coração dos jovens" cubanos, apesar de terem tradições tão diferentes.
Ela conclui que o sucesso das músicas de K-pop se deve à capacidade de abordar "as preocupações dos jovens", mas ainda fica perplexa ao perguntar-se como os cubanos, que em matéria de dança são "os melhores do mundo", sucumbiram ao ritmo do seu país.
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