“Eu já tive uma primeira fase, nos anos 1990, com grandes sucessos, com músicas como ‘Nos Líder’, ‘Maria Júlia’, ‘Nha namorada’, ‘Jantar’, e agora a segunda fase, onde vamos conquistar o mundo, trazer muitas músicas bonitas”, perspetivou o músico, em entrevista à agência Lusa, a propósito das três décadas de carreira, que está a comemorar com uma digressão pelas ilhas e pelo estrangeiro.
Nascido em 1974 no concelho de Santa Catarina, na ilha de Santiago, Gil Semedo emigrou aos 6 anos para a Holanda, atuais Países Baixos, onde foi influenciado pela pop, que juntou com ritmos cabo-verdianos, gerando um estilo próprio, denomino de ‘caboswing’.
“É uma nova identidade. Já somos um povo do mundo, cidadãos do mundo, não simplesmente cabo-verdianos”, considerou o músico, também bailarino, que teve ainda outra grande influência: o também cantor, compositor e bailarino norte-americano Michael Jackson (1958 – 2009).
“Foi o meu grande herói, a maior influência da minha carreira”, revelou, recordando que logo que viu alguns videoclipes do 'rei da pop’ no início da década de 1990 ficou “apaixonado” e queria fazer o mesmo.
“No meu estilo eu misturei o pop, o som do Michael Jackson, com a base de Cabo Verde e resultou numa mistura única”, descreveu Gil Semedo, que tal como muitos cabo-verdianos encontrou na emigração uma oportunidade para progredir, mas sempre regressa ao país, onde tem muitos fãs de todas as idades que cresceram a ouvir as suas músicas.
E numa altura em que se fala muito da saída de cabo-verdianos do país, o cantor considerou que emigrar é muitas vezes a “salvação” para o arquipélago, dando como exemplo a importância das remessas para as contas das famílias que ficam.
“Hoje Cabo Verde é um país que se está a desenvolver muito bem graças à emigração. A emigração trouxe muitas coisas bonitas, como o meu exemplo”, afirmou Semedo, conhecido como o “rei” da pop cabo-verdiana, mas também como “Nos Líder” ('nosso líder'), título de uma das suas músicas mais conhecidas.
Questionado se ainda se sente o ‘líder’ na música em Cabo Verde, depois de passar pelo vinil, cassetes, CD e agora a era da internet/digital, mostrou-se humilde e deixou uma mensagem motivadora.
“Eu acredito que nós temos que ser todos líderes, porque nós somos líderes da nossa própria vida. (…) Devemos procurar andar sempre no caminho da verdade, no caminho certo, no caminho do amor, porque é isso que vence sempre”, recomendou.
Em 30 anos de carreira, quando olha para trás, Gil Semedo não esconde a sua felicidade pelo que construiu, com muitos sucessos gravados na mente dos cabo-verdianos.
“Eu sou uma pessoa abençoada por isso”, enfatizou, sem esquecer, no entanto, o pior momento da sua vida, que foi um acidente que sofreu no Senegal, quando gravava um videoclipe e que quase lhe tirava a vida, tendo deixado marcas até hoje.
“Mas graças a Deus eu tive resiliência de voltar e de sentir tanto carinho e amor do povo, com tanta emoção, com tanta gente a abraçar-me. É como eu canto, a vida obrigou-me a dar um passo para trás para dar dois para frente”, recordou.
Por isso, disse que nunca pensou em parar de cantar e de subir aos palcos depois do acidente.
“Eu sou uma pessoa de muita fé e é isso que eu acho muito importante também, acredito mesmo em Deus e essa é a minha força. Eu tive fé em Deus que vai melhorar, orei por isso mesmo”, comentou.
Gil Semedo tem levado nos últimos meses os seus grandes sucessos aos palcos do país e do mundo, mas já está numa nova fase com muitas colaborações, com artistas nacionais, como Soraia Ramos, Mito Kaskas e Gá DaLomba, mas também estrangeiros, como os Calema (dois irmãos de São Tomé e Príncipe, com origem em Portugal) e Julinho KSD (Portugal).
“Acho que é muito importante agora nesta fase de minha carreira trabalhar com jovens, passar a minha experiência, o meu conhecimento para eles e eles passarem-me também aquela energia da juventude que é muito bonita”, manifestou o músico.
Reconhecendo que a música teve “muita evolução” nas últimas três décadas, realçou que a “nova onda” tem muitas vantagens e que a música está muito mais aberta, chegando ao mundo inteiro rapidamente através das plataformas digitais.
“São muitas as vantagens e eu acredito que essa nova fase é uma coisa muito bonita também”, considerou, elogiando a energia, criatividade e inovação dos jovens.
“E isso marca a atitude e o caráter dos jovens. E nós que temos mais idade temos de acompanhar os jovens, podem ser vários estilos, mas nós vamo-nos abraçar, pôr a experiência e vai resultar uma coisa bonita”, reforçou, considerando que os mais novos estão no “bom caminho”, precisando apenas de ter uma “boa relação” com os mais velhos.
Nesta nova fase da sua carreira, Gil Semedo prometeu continuar a trabalhar com os artistas do Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), mas com os restantes lusófonos, brasileiros e portugueses, onde também tem muitos fãs.
“Vamos unir o mundo lusófono, em primeiro lugar, e depois vamos conquistar o mundo”, insistiu, considerando que é preciso mais colaboração entre músicos lusófonos, para que todos possam sentir o “gosto” da música africana.
“Porque a África é o futuro. O mundo já teve influência de África, mas não assumida, mas acredito que vamos todos assumir que tudo vem da África, o futuro, a mãe”, traçou o cantor, de 48 anos, sempre com um sorriso largo para falar da sua vida.
Para terminar, pediu paciência aos jovens, entendendo que, tal como a cachupa (prato tradicional de Cabo Verde) precisa de tempo de cozedura, é preciso também tempo para fazer “boa música” que atravessa gerações e fica para a história.
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