“Este álbum é a continuação da construção do meu processo criativo. No primeiro, tive muita ajuda, tive muitas pessoas a escrever canções para mim, a dar-me a mão. Desta vez é um bocadinho de trabalho mais pessoal, com o David Fonseca [que produz '!!'], mas mesmo assim sou eu a tentar perceber como é que isto se faz na verdade”, disse Cláudia Pascoal, em entrevista à agência Lusa.
No novo álbum, todas a músicas são escritas e compostas pela artista, com exceção de uma versão de “Eu jogo ténis”, dos Miúda, e essa é “a grande distinção de um álbum para o outro”.
Para Cláudia Pascoal “a analogia mais perfeita” desse caminho conta-se com a primeira e a última canção que entregou a David Fonseca. “A ‘Lugar I’ entreguei com uma maquete gravada no telemóvel com ‘ukelele’, e a ‘Pastel de Chaves’ já estava completamente pré-produzida e só foi ajustar. Portanto, acho que é isso, a construção do meu caminho aqui, nesta vertente”, contou.
Quando começou a pensar no segundo álbum, ainda pediu canções a outros músicos, mas acabou por ser David Fonseca a influenciá-la a criar as suas canções.
“Ele disse ‘para fazeres um álbum de 10 canções precisas de fazer 50 canções e escolher os 10 melhores’”, recordou. E foi isso mesmo que aconteceu, tendo ficado muitas de fora, “algumas lixo”, mas outras nas quais “sem dúvida” irá “pegar para o terceiro álbum”.
Trabalhar com David Fonseca, que quem é fã assumida, foi “um sonho”, “no início meio estranho”, porque começaram a trabalhar “em covid”. “Mas estava a trabalhar todos os dias com o David e a construir uma coisa de raiz com ele. E foi um processo inacreditável, porque vi a parte que me faltava ver do artista que tanto admiro, que é a parte da construção e da forma como ele pensa verdadeiramente, e isso foi incrível mesmo”, partilhou.
Além de David Fonseca, Cláudia Pascoal conta em “!!” com a participação de Manuela Azevedo (vocalista dos Clã), Marante, Natalia Lacunza e Rosa Teixeira, a mãe da cantora, todos com “um papel muito importante, mas muito distinto” no álbum.
Cláudia Pascoal pensou em Manuela Azevedo quando terminou de compor “Precaução”, tema criado numa semana em que ouviu “muito Rita Lee em ‘loop’”. “A música saiu-me, honestamente, muito Rita Lee. E eu comparo muito a Rita Lee com a Manuela, são duas pessoas cheias de garra e de força. Então quando concluí a música pensei que ficava mesmo bem a voz da Manuela”, contou.
Já “Onde vais amanhã” foi criada para Marante. “Cresci a cantar Marante, no nosso carro em família só se podia ouvir Marante, ponto, e ninguém tocava na nas cassetes. Portanto, eu queria muito a voz dele no meu álbum. Para construir a música para ele foi um processo, porque não podia ser algo muito próximo de mim, porque era distante dele, e vice-versa. Tentei construir uma música que não pertencesse a nenhum dos dois, então acabei por criar uma música tipo James Bond”, explicou.
Já a participação da espanhola Natalia Lacunza em “Assim assim” surgiu da necessidade que Cláudia Pascoal tinha de conhecer novos artistas.
“Já a admirava e reconhecia muito e pensei, o que é que é ser artista em Espanha? Vou falar com ela, e ela aceitou imediatamente”. Ao contrário de Rosa Teixeira, que a filha teve de “obrigar” a participar no álbum.
“Ela canta muito bem, e tem sempre muita vergonha. Eu sempre disse ‘se um dia isto resultar, vamos ter uma música as duas’”, e assim foi.
Reconhecidamente animada e sempre vestida com ‘muita cor’, Cláudia Pascoal admite que não gosta de falar de coisas muito sérias, embora em “!!” haja duas canções “que são privadas demais” para o habitual. Para contrabalançar isso, resolveu voltar a convidar um humorista para participar no álbum. Em “!!” teve Nuno Markl, neste tem Joana Marques.
“Eu gosto mesmo muito de relativizar a intensidade da música. Acho que o pessoal leva a música muito a sério. A música é para criar sensações, para mim, acima de tudo positivas. Começar a rir é a melhor forma de começar qualquer projeto”, disse.
Além de começar o disco, Joana Marques acabou também por finalizá-lo. “Depois de uma música tão séria, que é a do Marante, acaba com a Joana Marques a reclamar novamente. Acho que faz sentido”, defendeu.
A versão de “Eu jogo ténis” dos Miúda, que começou a tocar em concertos na digressão do primeiro álbum, surge em “!!” como um tributo a um projeto que, para Cláudia Pascoal, “acabou demasiado cedo”. “Nem no Spotify está essa canção. Não está em lado nenhum na verdade. Portanto é dar plataforma para essa música existir”, disse.
Mas o álbum esconde um outro tributo a Chaves, onde a cantora tem “muitos amigos” e sempre foi “muito bem recebida". “É dos sítios que tenho boas memórias e boas energias. Pedi aos meus amigos de lá para gravar a senhora a falar e explicar a receita do pastel de Chaves e decidi escrever uma canção”, contou.
Embora se mantenha num estilo que junta música tradicional e pop, Cláudia Pascoal sente que o novo álbum “tem músicas que vão para muitos lados diferentes”. “Mas o Minho sou eu, vai estar sempre presente, mesmo inconscientemente”, disse.
“!!” é apresentado ao vivo no Teatro Maria Matos, em Lisboa, a 24 de maio, e a cantora promete “um momento muito especial”, que contará com David Fonseca, os DZRT, Joana Marques e as Oliveirinhas (Inês Apenas, Iolanda, Rita Onofre e Teresa Farias), entre os convidados.
A 2 de junho haverá outro concerto de apresentação no Hard Club, no Porto.
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