O cunho de originalidade e personalização leva anos a apurar e são poucos os que o conseguem. Os Capitão Fausto fazem-no, como se fosse simples, e é isso que os torna grandes. À altura de uma “subida infinita”, que ainda assim, conseguiram alcançar. Num infinito pop e poético, para onde o público segue. Foi assim, o concerto dos Capitão Fausto, na Casa da Música, no dia 16 de abril: pop, poético e infinito, numa sala esgotada.

A banda inaugura o espetáculo ao som de “Muitos Mais Virão”, do mais recente álbum, “Subida Infinita”, lançado em março deste ano. Embalados pela voz de Tomás Wallenstein, há uma tristeza quase palpável, que acossa o público. A canção pode ser dor, mudança e desatino. Sem fingimentos, seguimos com “Andar à Solta” e “Há Sempre um Fardo”.

Reconhecida a ausência - demasiado longa - desde a última vez que atuaram no Porto, agradecem ao público pela presença. Na verdade, uma gratidão mútua que nos faz voltar a 2019, ao som de “Faço as Vontades” e “Sempre Bem”, do álbum “A Invenção do Dia Claro”. «Não se pode tar sempre bem», reza o último verso do tema. Talvez não, mas a energia que atravessa a sala é garantia do quanto se estava bem. Às vezes, isso basta.

Recuamos mais ainda no tempo e vamos até a um tema que festeja, por estes dias, oito anos, “Corazón”, do álbum “Têm os Dias Contados” (2016), um momento de pura diversão, numa mescla de pop e psicadelismo, com uma “vibe” incrível.

créditos: Paulo Soares

De volta a 2024, os primeiros acordes de “Nada de Mal” perspetivam uma nova subida: «À espera que a alegria possa enfim vir p'ra ficar». Num rodopio finito, voltamos ao “dia claro” de Almada e de Fausto, com o tema “Amor, a Nossa Vida”, numa das grandes ovações da noite.

Segue-se “Nuvem Negra” e uma - mais que merecida - ovação para Francisco Ferrari, ex-teclista da banda. Os caminhos infinitos também têm bifurcações. E, nem de propósito, ouve-se o tema “Cantiga Infinita”.

Num vaivém entre o passado e o presente, “Certeza”, “Na Na Nada” e “Morro na Praia” são as canções que se seguem, de um repertório inestimável, de uma banda que se reinventa a cada álbum, sem que se extinga o cunho que a torna ímpar, no panorama nacional. “Amanhã Tou Melhor” e “Santa Ana” fazem o público saltar das cadeiras e dançar ao ritmo de “Boa Memória”.

créditos: Paulo Soares

No encore, um bonito momento de jazz abre as portas ao tema “Lentamente”. «Não está nas nossas mãos» parar o tempo e querer um pouco mais que “Nunca Nada Muda”.

Os Capitão Fausto vão levar a apresentação de “Subida Infinita”, de norte a sul do país. O convite está feito. Muitos serões especiais estão por vir.