Disney / Pixar
Em toda a história do cinema, dificilmente se encontra qualquer série de filmes em que todas as parcelas sejam igualmente elogiadas pela crítica e pelo público como a saga “Toy Story”. Ainda por cima, trata-se de um caso raro em que os três filmes valem por si só e podem ser vistos isoladamente, embora, naturalmente, beneficiem das referências e piscadelas de olho para quem os acompanhe desde sempre.
“Toy Story – Os Rivais” (1995), “Toy Story 2 - Em Busca de Woody” (1999) e “Toy Story 3” (2010) foram gigantescos sucessos de público, cada um a ultrapassar os valores do filme anterior, e no "site" agregador de críticas Rotten Tomatoes a trilogia conseguiu um score impressionante de críticas positivas: os dois primeiros 100% e o terceiro 98%.
Não espanta por isso que, ”Toy Story 4”, com estreia a 27 de junho, seja um dos filmes mais ansiosamente antecipados do ano, mesmo por quem não tenha visto os primeiros.
VEJA O TRAILER DE "TOY STORY 4".
Mas além do exemplo de mestria narrativa e de empatia com os espectadores, a saga “Toy Story” tem também uma importância fundamental na história do cinema, nomeadamente o primeiro título: a de ter provado a validade da animação por computador, que acabaria por substituir o desenho animado nas preferências dos espectadores e que hoje domina o espectáculo cinematográfico.
Em 1995, “Toy Story – Os Rivais” foi um marco: a primeira longa-metragem totalmente feita em animação por computador, que teve a inteligência de colocar a tónica nas emoções das personagens e conseguiu fazer do cowboy Woody, do astronauta Buzz Lightyear e dos demais brinquedos figuras icónicas e inesquecíveis da Sétima Arte.
Por trás de tudo isto, claro, estava a Pixar, criada em 1979 como divisão da Lucasfilm e individualizada em 1986, como parcela da Apple (sendo mais tarde, em 2006, plenamente integrada na Disney).
Nesses primeiros tempos, a ideia era provar que a animação por computador era não só possível como relevante, e as primeiras curtas -metragens realizadas foram nesse sentido: “Luxo Jr.”, com o candeeiro que se tornaria o símbolo do estúdio, seria nomeado para o Óscar em 1986, e “Tin Toy” conquistaria a estatueta dourada de Melhor Curta-Metragem de Animação em 1988, a primeira de sempre para uma animação informática (e cujo brinquedo de lata protagonista, curiosamente, regressará agora aos ecrãs em “Toy Story 4”).
Nos próprios filmes de desenho animado da Disney, os efeitos informáticos já iam fazendo o seu caminho, desde os mecanismos do Big Ben em “Rato Basílio, o Grande Mestre dos Detectives” (1986), ao salão de baile de “A Bela e o Monstro” (1992), incluindo a fuga da caverna em “Aladdin” (1992), ou a debandada dos gnus em “O Rei Leão” (1994).
Não obstante, uma longa-metragem 100% feita por computador era um risco nunca visto no cinema, semelhante ao que o próprio Walt Disney tinha ultrapassado em 1937 com “Branca de Neve e os Sete Anões”, que foi então a primeira longa-metragem em desenho animado da história do cinema.
Como começou a mais amada saga de animação da Pixar
John Lasseter, que realizara “Luxo Jr” e “Tin Toy” e era o maior defensor das potencialidades da animação informática, aplicou tudo o que aprendera com alguns dos animadores mais experientes da Disney e injetou no filme a noção de que a história e as personagens eram mais importantes que todas as pirotecnias visuais que a nova técnica permitia.
Assim, juntamente com nomes como Andrew Stanton e Pete Docter (o primeiro que realizaria depois “À Procura de Nemo” e “Wall-E” e o segundo “Monstros e Companhia”, “Up – Altamente” e “Divertida-Mente”), criaria um argumento assente na premissa de que os bonecos ganham vida quando os humanos não estão a ver, centralizado na relação entre Woody e Buzz e na sua disputa pela preferência do dono dos bonecos, Andy.
O elenco principal já estava presente: o tiranossauro medroso Rex, o lacónico Porquinho, o desmontável Sr. Cabeça de Batata, o cão de mola Slinky e a pastorinha Bo Peep.
A produção teve imensos avanços e recuos, como é próprio de projectos revolucionários, e acabou por estrear em novembro de 1995, sendo acolhida por um coro unânime de críticas positivas e um enorme sucesso de público, que se apaixonou pela ternura e sofisticação da história dos dois bonecos.
Por essa altura, o Óscar de Melhor Longa-Metragem de Animação ainda não tinha sido criado mas “Toy Story” seria não só nomeado às estatuetas de Melhor Argumento Original, Melhor Banda Sonora e Melhor Canção (pelo já clássico “You’ve Got a Friend in Me”), como teria direito a um Óscar Especial, extra-competição, pela criação da primeira longa-metragem de animação por computador, que foi entregue a John Lasseter.
O sucesso do filme foi tal que deu origem ao "boom" da animação informática que ainda hoje vivemos, e que acabaria por suplantar em popularidade o desenho animado tradicional nas preferências do público.
De forma mais imediata, o êxito também lançou a ideia de uma sequela. O projeto inicial era fazer um filme diretamente para o mercado de “home-video” sem passar pelas salas de cinema, mas os executivos da Disney terão ficado tão impressionados com a qualidade do que iam vendo que resolveram apostar na ampliação do orçamento e na estreia em sala de cinema.
Novamente realizado por John Lasseter, e agora co-realizado por Lee Unkrich, “Toy Story 2 – Em Busca de Woody” chegou às salas em 1999 e, contra todas as expectativas, revelou-se ainda melhor que o primeiro, aprofundando todos os temas do original e dando uma ressonância ainda maior às personagens.
Agora, descobre-se que Woody é, afinal, um boneco raro que é roubado por um colecionador e tem de decidir entre viver para sempre, mas atrás dos vidros de um museu, ou continuar por mais uns anos a brincar com Andy, até o garoto crescer.
Além do elenco habitual de bonecos, entra ainda em cena enérgica Jessie, que deixou as plateias em lágrimas ao som da canção “When She Loved Me”, em que recordava como foi abandonada pela antiga dona.
A produção não se fez sem contratempos, incluindo um inerente à produção informática: em 1998, um dos animadores apagou acidentalmente o diretório de raiz com todos os ficheiros de “Toy Story 2”, fazendo desaparecer mais de 90% de dois anos de trabalho. Quem salvou a situação foi uma animadora que estava a trabalhar em casa enquanto tratava do bebé recém-nascido e que tinha cópias de todos os ficheiros no computador pessoal.
O filme foi um sucesso gigantesco, unanimemente considerado melhor que o original e habitualmente colocado nas listas das melhores longas-metragens de animação de sempre.
"Toy Story 3": Pixar e o desafio de não desiludir os fãs
Nos anos seguintes, a Pixar acumularia obra-prima atrás de obra-prima, de “Monsters Inc – Monstros e Companhia” a “Up – Altamente”, passando por “Ratatui”, “The Incredibles – Os Super-Heróis” e “Wall-E”.
Ao mesmo tempo, em 2009, os dois primeiros filmes regressaram aos ecrãs de todo o mundo, agora em 3D. Assim, em 2010, quando o terceiro “Toy Story” estava prestes a estrear, o público hesitava entre a expectativa enorme de reencontrar as personagens que já não via no grande ecrã há 11 anos com o receio de que o filme não conseguisse atingir os cumes de genialidade dos dois anteriores, até porque John Lasseter legara a cadeira de realizador a Lee Unkrich, que já tinha co-realizado “Toy Story 2 – Em Busca de Woody”.
Afinal, não haveria razão para receios: foi um sucesso esmagador, bateu recordes de bilheteira e foi gloriosamente recebido pela crítica. Mais ainda, e inesperadamente, “Toy Story 3”, além das muitas gargalhadas que provocou, fez também correr muitas lágrimas de comoção entre os espectadores.
A história envolvia a ida de Andy para a faculdade, a ida acidental dos brinquedos para um centro de dia e a tentativa de regresso a casa, com a angústia do garoto já ter deixado as brincadeiras para trás.
Este é um filme de reencontros e despedidas, que teve o efeito inesperado de comover toda a uma geração que tinha crescido com Andy porque, um pouco sem querer, a idade da personagem tinha andado de mãos dadas com a estreia das animações: ele era criança em 1995 quando a primeira estreou e tinha 18 anos uma década e meia depois, quando a última chegou às salas, o que quer dizer que acompanhou o crescimento de muitos espectadores que foram tendo sempre a mesma idade dele.
"Toy Story 3" representou verdadeiramente um fechar de ciclo, com os brinquedos a mudar de mãos, e foi um sucesso colossal, tendo sido conquistado o Óscar de Melhor Longa-Metragem de Animação e de Melhor Canção Original (para “We Belong Together”, de Randy Newman, o compositor habitual da série) e sido nomeado ainda para o troféu de Melhor Argumento Original, Melhor Montagem de Som, e mesmo para a estatueta principal, Melhor Filme do ano.
Pormenor de peso: o insuspeito Quentin Tarantino colocou “Toy Story 3” à cabeça da sua lista dos melhores filmes de 2010.
Por uma vez, a tourné de entrevistas passou mesmo por Portugal e o realizador Lee Unkrich e a produtora Darla K. Anderson estiveram em Lisboa à conversa com os jornalistas. De seguida, a dupla assinaria na Pixar outro êxito comovente e oscarizado: “Coco”.
Por tudo isso, é altíssima a expectativa em redor de “Toy Story 4”, que estreia em todo o mundo no final de junho.
Woody, Buzz e companhia marcaram o cinema
"Toy Story 4" marca o reencontro com Bo Peep, a pastorinha que surgira nos dois primeiros filmes e desaparecera no terceiro, agora convertida em heroína de ação, e o surgimento de algumas novas personagens, a principal das quais será Garfy, um garfinho que foi transfigurado num brinquedo e tem uma crise existencial sobre a sua condição. É quando este foge e os brinquedos vão à sua procura que a aventura começa.
O novo filme é agora realizado por Josh Cooley, que foi um dos artistas de “storyboard” de outros títulos da Pixar, como “The Incredibles – Os Super-Heróis”, “Carros”, “Ratatui” ou “Up – Altamente”, tendo trabalhado no próprio argumento de “Divertida-Mente”. A estreia na realização deu-se com a curta-metragem “Riley’s First Date?”, que surgiu na edição em "home-video" deste último filme e era protagonizado por algumas das suas personagens laterais.
Woody, Buzz e companhia têm tido o condão de marcar de forma indelével o cinema, e as suas aventuras têm ficado gravadas na memória coletiva.
Além das aparições nos filmes maiores, o grupo de bonecos tem sido presença recorrente noutras plataformas, desde especiais televisivos como “Toy Story of Terror!” (2013) e “Toy Story that That Time Fogot” (2014), que têm por temas respetivamente o Halloween e o Natal, como em curtas para cinema, como “Hawaiian Vacation” e “Small Fry”, que antecederam nas salas as exibições de “Carros 2” e “Os Marretas”. Isto sem esquecer as suas aparições ao vivo nos parques temáticos, nomeadamente na Toy Story Playland, que pode ser visitada no Walt Disney Studios Park, na Disneyland Resort Paris.
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