Miguel Gomes venceu este sábado o Prémio de Melhor Realização no Festival de Cinema de Cannes (França) - um feito inédito no cinema português - pelo filme “Grand Tour”, produzido por Filipa Reis, da produtora Uma Pedra no Sapato, em coprodução com Itália, França, Alemanha, China e Japão.
“Sabendo que não somos um país com grandes capacidades financeiras, temos apostado na possibilidade de arriscar em projetos que são de autor. Ou seja, os autores têm a possibilidade de criar livremente e isso é o mais precioso no nosso cinema e acho que é o que nos trouxe até aqui”, disse a produtora à Lusa, pouco depois da cerimónia de encerramento do festival.
A história de "Grand Tour" segue um romance de início do século XX, com Edward (Gonçalo Waddington), um funcionário público do império britânico que foge da noiva Molly (Crista Alfaiate) no dia em que ela chega para o casamento.
Na preparação deste filme, ainda antes da pandemia da COVID-19, Miguel Gomes fez um arquivo de viagem pela Ásia – por exemplo, Myanmar (antiga Birmânia), Vietname, Tailândia, Japão -, para traçar o trajeto das personagens, recolhendo imagens e sons contemporâneos.
Só depois desse périplo, Miguel Gomes rodou em 2023 as cenas com os atores em estúdio, em Roma, recriando um ambiente de época de 1918, o tempo da história de Edward e Molly.
O argumento é coassinado pelo cineasta com Mariana Ricardo, Telmo Churro e Maureen Fazendeiro.
Miguel Gomes recebeu o prémio das mãos do cineasta alemão Wim Wenders e num curto discurso agradeceu ao cinema português, sublinhando a raridade que é haver filmes portugueses na competição oficial, e estendeu o agradecimento a “grandes cineastas” como Manoel de Oliveira, que o inspiraram a fazer cinema.
Há 18 anos, em 2006, na competição de longas-metragens esteve “Juventude em Marcha”, de Pedro Costa.
“Grand Tour” não tem ainda data de estreia anunciada, tanto internacional como em Portugal, mas Filipa Reis aproveitou Cannes para trabalhar a produção do próximo filme de Miguel Gomes, o já revelado “Selvajaria”, a rodar no Brasil, a partir da obra literária “Os Sertões”, do escritor brasileiro Euclides da Cunha.
“Enquanto produtora do próximo filme do Miguel, [o prémio em Cannes] dá-me uma expectativa - espero que seja cumprida - de que o próximo filme poderá ter um financiamento mais rápido e em menos tempo. Porque um dos problemas do cinema português é que, como o financiamento é baixo, demoramos muitos anos a conseguir completar os filmes. A minha ambição é que o próximo filme do Miguel chegue às salas de cinema mais rápido do que chegou este”, disse.
No 77º. Festival de Cinema de Cannes foi ainda atribuída uma menção especial ao filme à "Bad for a Moment – Mau por um Momento", do realizador português Daniel Soares, que competia nas curtas-metragens.
Comentários