A caminho dos
Óscares 2022
Will Smith demitiu-se da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas que lhe deu há cinco dias o Óscar de Melhor Ator.
O pedido chegou dois dias após ter sido notificado pelo Conselho de Governadores da Academia que tinha duas semanas para responder por escrito aos "procedimentos disciplinares" que foram iniciados por violação do Código de Conduta da organização por ter dado uma bofetada ao comediante Chris Rock na cerimónia.
As acusações incluem "contacto físico inapropriado, comportamento abusivo ou ameaçador e comprometer a integridade da Academia" e a 18 de abril podia sair uma decisão, com a Academia a dizer que nada estava fora da mesa, incluindo "suspensão, expulsão ou outras sanções" do ator, que era membro desde 2001.
Segundo avançou o Deadline, Will Smith terá sido informado pela organização que provavelmente seria suspenso durante uma década ou mais, o que o levou a tomar a decisão antes de ser "empurrado", na esperança de esvaziar a polémica.
“Respondi diretamente ao aviso de uma audição disciplinar da Academia e vou aceitar plenamente todas quaisquer consequências pela minha conduta. As minhas ações (…) foram chocantes, dolorosas e imperdoáveis”, adiantou Will Smith num comunicado divulgado pela imprensa norte-americana.
“A lista daqueles que magoei é longa e inclui o Chris [Rock], a sua família, muitos dos meus queridos amigos e entes queridos, todos os presentes e o público global em casa”, indicou.
No comunicado, Will Smith disse ainda que traiu a “confiança da Academia” e, por isso, apresentou a demissão.
“(…) Estou a demitir-me da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas e aceitarei quaisquer outras consequências que o Conselho considerar apropriadas. A mudança leva tempo e estou e comprometido em fazer o trabalho para garantir que nunca mais permita que a violência se sobreponha à razão”, salientou.
Will Smith lamentou também ter privado “outros nomeados e vencedores de terem tido a sua oportunidade de celebrar e ser celebrado pelo seu trabalho extraordinário”.
“Estou de coração partido. Quero colocar o foco de volta naqueles que merecem atenção pelas suas realizações e permitir que a Academia volte ao incrível trabalho que faz para apoiar a criatividade e a arte no cinema”, sustentou.
A demissão foi imediatamente aceite num breve comunicado de David Rubin, presidente da Academia: "Recebemos e aceitamos a renúncia imediata do senhor Will Smith da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Continuaremos a avançar com nossos processos disciplinares contra o senhor Smith por violações do Código de Conduta da Academia, antes da nossa próxima reunião do Conselho, agendada para 18 de abril”.
Uma bofetada que se ouviu pelo mundo todo
A demissão de Will Smith é o culminar de cinco dias intensos do maior escândalo da sua carreira e cheios de versões contraditórias sobre o que aconteceu na sala do Dolby Theatre após se tornar viral o vídeo da bofetada a Chris Rock, o ar de satisfação que se seguiu e os palavrões quando se voltou a sentar.
O escândalo foi provocado por uma brincadeira de Chris Rock sobre a cabeça rapada de Jada Pinkett Smith, esposa de Will Smith, que sofre de alopecia, o nome médico para a perda de cabelo.
Apesar de ter inicialmente rido, o ator de 53 anos levantou-se, subiu a palco, deu uma bofetada ao comediante e regressou ao lugar, de onde gritou duas vezes: "Mantenha o nome da minha mulher fora da sua 'fucking mouth'".
Os palavrões foram cortados na emissão nos EUA aproveitando os sete segundos de 'delay', mas não a nível internacional.
Numa cerimónia em que tudo é planeado ao detalhe, os presentes no local e quem assistia em casa começaram por achar tratar-se de uma brincadeira encenada, mas rapidamente ficou claro que o momento tinha sido genuíno e tinha mesmo sido uma espécie de rixa e não uma rábula.
Chris Rock continuou com a sua apresentação dos nomeados para Melhor Documentário de forma muito profissional, mas debaixo de uma evidente tensão após dizer "Uau, o Will Smith acabou de me bater" e "Esta foi... a maior noite na história da televisão".
Enquanto passavam imagens dos nomeados, Denzel Washington e Aunjanue Ellis (atriz de "King Richard") foram os primeiros a aproximar-se de Will Smith, momentos que não foram vistos em casa.
Segundo a revista The Hollywood Reporter, assim que chegou o intervalo, a CEO da Academia Dawn Hudson e o presidente David Rubin, acompanhados do porta-voz da organização, correram para os bastidores com "o ar mais sério que se pode ter" e entraram apressadamente numa sala privada com Meredith O’Sullivan Wasson, a publicista do ator.
Hudson e Rubin nunca regressaram aos seus lugares e a publicista passou os intervalos seguintes a deslocar-se entre os bastidores e o lugar do ator.
Também os atores Denzel Washington e Bradley Cooper, assim como o realizador Tyler Perry, falaram com Will Smith durante a pausa na cerimónia.
Ao receber mais tarde a estatueta de Melhor Ator por "King Richard: Para Além do Jogo", este referiu indiretamente o momento de tensão com Chris Rock por algumas vezes no seu discurso, mais tarde descrito como desafiador.
O ator começou o discurso dizendo "o Richard Williams era um defensor feroz da sua família", numa aparente alusão ao incidente.
"Neste momento da minha vida, estou dominado pelo que Deus me destina a fazer no mundo", disse ainda. "Nesta indústria temos de estar habituados a ter pessoas a desrespeitarem-te e sorrir perante isso", acrescentou.
Smith mencionou igualmente o ator Denzel Washington, que tentou acalmar, lembrando-lhe que, "no momento mais alto, é quando o diabo nos tenta".
No meio do discurso e sem referir diretamente o momento com Chris Rock, Will Smith acabou por pedir desculpa: "Quero pedir desculpa à Academia e aos meus colegas nomeados. O amor faz-nos fazer coisas loucas". E terminou dizendo "espero que a Academia volte a convidar-me".
Will Smith "perdeu a cabeça"
O vídeo com os palavrões não censurados tornou-se viral durante a cerimónia e a primeira punição recebida pelo ator de 53 anos chegou através das redes sociais, onde muitos denunciaram a violência do seu comportamento.
"A Academia não tolera qualquer tipo de violência" foi a primeira reação oficial, duas horas após o fim da cerimónia, considerada genérica e pífia pelos analistas.
Já o realizador Judd Apatow publicou um mensagem no Twitter que depois apagou a dizer que Will Smith "podia ter matado" Rock. "Simplesmente perdeu o controlo da sua ira e da sua violência [...] Perdeu a cabeça".
"Os comediantes são muito hábeis em lidar com os provocadores. Agressão física violenta... nem por isso", partilhou Mark Hamill com a hastag #UgliestOscarMomentEver [o momento mais feio de sempre dos Óscares].
Mia Farrow defendeu Chris Rock: "Ele só fez uma piada, como sabe fazer", disse.
O jogador de basquetebol e estrela dos Golden State Warriors Stephen Curry disse que está "ainda em choque, como toda a gente".
Para a escritora britânica Bernardine Evaristo, cujo pai é nigeriano, Smith desperdiçou a chance de dar um exemplo, especialmente para os afroamericanos.
Quando "Smith é apenas o quinto negro a ganhar o Óscar de Melhor Ator, recorre à violência em vez de usar o poder da palavra para vencer Chris Rock", partilhou.
"E depois fala de Deus e do amor que o teriam feito portar-se assim", acrescentou.
Algumas celebridades também saíram em defesa de Smith. Liam Payne, ex-vocalista dos One Direction, disse a jornalistas: "Acho que tinha o direito de fazer o que fez".
A representante democrata Ayanna Pressley, que sofre de alopecia, agradeceu ao ator.
"Parabéns a todos os maridos que defendem as suas esposas que sofrem de alopecia da ignorância e dos insultos quotidianos", partilhou para depois apagar a mensagem.
Mais contundente foi o apoio da atriz Tiffany Haddish: "Isto é o que se supõe que deve fazer o teu marido, não é? Proteger-te", disse à revista People, chegando a descrever o momento como "a coisa mais bonita que alguma vez vi porque me fez acreditar que ainda existem homens por aí que amam e se importam com as suas mulheres, as suas esposas".
Segunda-feira: aumentam críticas pela ausência de um pedido de desculpas
O realizador Rob Reiner questionou ainda no domingo a sinceridade do pedido de desculpas na cerimónia e reforçou que não englobou o próprio Chris Rock. O ator, acrescentou, podia considerar-se um "sortudo por Chris não apresentar queixa por agressão", escreveu.
Na segunda-feira, as imagens eram repetidas até à exaustão, a bofetada ofuscava o palmarés e era 'o' tema em todos os talk-shows. Muitos pensavam o mesmo que Rob Reiner em Hollywood, mas também entre os espectadores, comunicação social e redes sociais: tornou-se evidente que Will Smith tinha mais com que se preocupar do que esperar ser convidado pela Academia para a cerimónia de 2023.
Sinal disso foi o comunicado oficial da própria organização, onde "condena as ações do senhor Smith no evento de ontem à noite".
Por esta altura, já subiam de tom as críticas de "arrogância" por causa da circulação de imagens dos festejos e despreocupação, incluindo a dançar ao som das suas próprias canções, durante a festa pós-Óscares da revista Vanity Fair, onde chegou com a família e uma grande equipa e disse que estava tudo bem.
Também caiu muito mal a reação imediata à agressão do filho Jaden, numa curta mensagem no Twitter: "E é assim que fazemos".
Só mais tarde nesse dia é que surgiu o pedido público de desculpas a Chris Rock no Instagram, mas o tom pareceu ser mais uma fabricação das equipas de relações públicas do que sincero.
"A violência em todas as suas formas é tóxica e destrutiva. O meu comportamento nos Óscares de ontem à noite foi inaceitável e imperdoável. Piadas às minhas custas fazem parte do trabalho, mas uma piada sobre a condição médica da Jada [Jada Pinkett Smith] foi demais para mim e reagi emocionalmente. Gostaria de pedir desculpas publicamente a ti, Chris [Rock]. Passei dos limites e estava errado. Estou envergonhado e as minhas ações não foram indicativas do homem que quero ser. Não há lugar para violência num mundo de amor e bondade", partilhou no Instagram.
A mensagem acrescentava: "Também quero pedir desculpas à Academia, aos produtores do espetáculo, a todos os participantes e a todos os que assistiram à volta do mundo. Queria pedir desculpas à Família Williams e à minha Família 'King Richard'. Lamento profundamente que o meu comportamento tenha manchado o que de outra forma tem sido uma jornada maravilhosa para todos nós. Sou um trabalho em progresso".
Terça-feira: Jim Carrey verbaliza o que muitos pensavam
Amy Schumer, que apresentou a cerimónia com Wanda Sykes e Regina Hall, é a primeira a falar sobre o que aconteceu e diz estar "traumatizada". Mas são as declarações de Jim Carrey numa entrevista ao programa CBS Mornings que agravam a perceção pública sobre as ações de Will Smith.
Verbalizando o que muitos pensavam num vídeo muito partilhado, o ator e comediante disse que o que acontecera no Dolby Theatre quando Will Smith recebeu o Óscar passou uma mensagem clara sobre a indústria no seu todo: "Fiquei enojado, fiquei enojado com a ovação de pé. Senti que Hollywood é apenas cobarde, em massa. Realmente pareceu uma indicação clara de que já não somos o clube simpático".
Quando a jornalista Gayle King começou a dizer que qualquer outra pessoa teria sido pelo menos removida da sala e talvez detida, este reagiu de imediato: "Ele devia ter sido".
Jim Carrey também garantiu que Chris Rock não apresentou queixa porque "não quer confusão" e a sua reação teria sido muito diferente: "Teria anunciado esta manhã que estava a processar o Will por 200 milhões de dólares porque aquele vídeo vai existir para sempre. Vai ser omnipresente. Aquele insulto vai durar durante muito tempo".
"Se queres gritar da plateia e criticar ou mostrar desaprovação ou dizer algo no Twitter ou o que for, tu é que sabes. Não tens o direito de subir ao palco e agredir alguém na cara porque disse palavras", acrescentava.
O comediante rejeitou a sugestão de Gayle King de que a situação se tinha "agravado" para chegar até à agressão: "Não se agravou. Veio do nada porque o Will tem alguma coisa dentro dele que o deixa frustrado. E desejo-lho o melhor. Não tenho nada contra o Will Smith, fez grandes coisas. Mas aquilo não foi um bom momento".
"Criou uma consternação sobre o momento de brilhar de toda a gente na noite passada. Muitas pessoas trabalharam intensamente para chegar àquele local e ter o seu momento ao sol e receber o seu prémio pelo trabalho realmente duro que fizeram e não é fácil passar por aquilo [a campanha] quando se é nomeado para um Óscar. É um desafio de devoção que se tem de fazer. E foi um momento egoísta lançar a consternação sobre aquilo tudo", explicou.
Quarta-feira: Academia endurece posição
O pedido de desculpas de Will Smith chegou tarde e não convenceu. A polémica não dá sinais de diminuir. Pelo contrário, a bofetada alimenta debates por exemplo sobre violência, masculinidade tóxica, liberdade de expressão e direitos das mulheres. Inspira memes e até o artista dominicano Jesus Cruz Artiles (Eme Freethinker), autor de trabalhos famosos sobre Trump e o movimento Black Lives Matter, lhe dedica um mural em Berlim.
Também Chris Rock quebra o silêncio sobre a bofetada ao abrir o seu espetáculo de comédia em Boston, no âmbito da sua digressão “Ego Death Tour".
"Como é que foi o vosso fim de semana?", disse o comediante vestido do branco após ser ovacionado de pé pelo público, mas a seguir mostra-se contido e avisa que não tinha nada de especial preparado para falar.
"Não tenho muito para dizer sobre o que aconteceu, portanto se vieram para me ouvir falar sobre isso tenho um espetáculo inteiro que escrevi antes desde fim de semana. Ainda estou a processar o que aconteceu, portanto em alguma altura irei falar sobre essa m****. Será sério. Será engraçado, mas neste momento vou contar algumas piadas. Já é bom sair de casa", disse aos espectadores da sessão esgotada de mil lugares.
Antecipando uma reunião de balanço que costuma acontecer um mês após a cerimónia, o Conselho de Governadores (onde estão representantes de todos os ramos da Academia, como atores, realizadores, etc.) reúne-se por zoom e anuncia a abertura do processo disciplinar ao ator.
Mas também endurece o tom sobre o seu comportamento: "As ações do senhor Smith nos 94.º Óscares foram um evento profundamente chocante e traumático para testemunhar pessoalmente e na televisão. Senhor [Chris] Rock, pedimos desculpas pelo que passou no nosso palco e agradecemos a sua resiliência naquele momento", destaca o comunicado oficial. Também pedimos desculpas aos nossos nomeados, convidados e espectadores pelo que aconteceu durante o que deveria ter sido um evento de celebração".
Debaixo de muitas críticas por Will Smith não ter sido obrigado a sair da sala após agressão, o comunicado também tinha a surpreendente revelação de que ele tinha sido convidado a fazê-lo e recusara: "As coisas desenrolaram-se de uma maneira que não poderíamos ter previsto. Embora gostássemos de esclarecer que o senhor Smith foi convidado a deixar a cerimónia e recusou, também reconhecemos que poderíamos ter lidado com a situação de forma diferente".
Ainda na quarta-feira, Wanda Sykes é a segunda anfitriã a reagir e a dizer que se sentiu fisicamente mal e Will Smith devia ter sido removido da sala.
"Senti-me tão mal pelo Chris. E foi repugnante, completamente repugnante. Senti-me fisicamente mal e ainda estou um pouco traumatizada por aquilo", declarou no talk-show de Ellen DeGeneres, que concordou com a sua convidada.
"E eles terem-no deixando estar naquela sala e apreciar o resto do espetáculo e aceitar o seu prémio foi como, 'Quão nojento é isto?' Isto é a mensagem errada", acrescentou.
"Ataca-se alguém, a pessoa é escoltada para fora do edifício e pronto. Eles deixaram-no continuar, achei nojento", reforçou.
Wanda Sykes também comentou que tinha falado com Chris Rock numa festa pós-Óscares.
"A primeira coisa que ele disse foi: 'Lamento muito'. Mas eu disse: 'Estás a pedir desculpas pelo quê?' Ele disse: 'Esta deveria ser a vossa noite'"
"'Tu e a Amy [Schumer] e a Regina [Hall] estavam a fazer um trabalho incrível. Lamento muito que seja sobre isto agora'", acrescentou ele.
Quinta-feira: versões contraditórias e uma polícia que "estava pronta" para fazer a prisão
A versão oficial da comunicado da Academia de que Will Smith fora convidado a sair foi contrariada por várias fontes alegadamente próximas do ator ou que acompanharam de perto o desenrolar dos acontecimentos no Dolby, que dizem que se tratou apenas de uma sugestão e nunca foi lhe feito diretamente qualquer pedido.
Outras fontes diz que se tratou de um "pedido firme" e não de uma mera sugestão.
Ao longo de quinta-feira sucederam-se versões diferentes sobre o que aconteceu nos cerca de 40 minutos entre a agressão e o momento em que ele subiu ao palco para receber o Óscar de Melhor Ator por "King Richard".
Uma das narrativas é de que vários responsáveis da Academia ficaram divididos entre sair e ficar, não se chegando a um consenso durante os vários intervalos na cerimónia antes de ser anunciado o Óscar.
Mas também existe a versão de que os responsáveis da Academia e Will Packer mandaram sinais contraditórios: terá sido sugerido à publicista do ator, que andou numa correria a seguir à agressão entre os bastidores e o lugar onde ele estava sentado, pelos principais responsáveis da Academia (o presidente David Rubin e a CEO Dawn Hudson) que ele abandonasse a sala e segundo duas testemunhas, foi Packer que, cinco minutos antes de ganhar o Óscar, insistiu que não saísse ("não queremos que vás embora") ou lhe disse que "oficialmente" queriam que ficasse.
Mas outros dizem que Packer o aconselhou a sair.
Também consta que a publicista de Will Smith lhe disse que a Academia sugeriu que ele fosse embora e a sua resposta foi 'Quero corrigir esta situação, quero ficar e pedir desculpa' (efetivamente, foi o que fez durante o seu discurso, mas sem mencionar Chris Rock, o que só aconteceu 24 horas depois).
No programa "The View", Whoopi Goldberg, que pertence ao Conselho de Governadores, dizia que existiu o pedido para ir embora, mas não houve nenhuma tentativa para o obrigar à força por existirem receios que estivesse num estado instável e o resultado fosse uma luta com os seguranças e as câmaras a transmitir para todo o mundo.
A atriz acrescentava que os produtores e a equipa de produção até pensaram na possibilidade de estar a passar por um "episódio maníaco porque não é por isso que ele é conhecido, andar a bater nas pessoas e coisas do género".
Na quinta-feira à noite, um excerto da entrevista de Will Packer ao programa Good Morning America (GMA) tornava praticamente insustentável a posição de Will Smith face à Academia: a polícia "estava pronta" para o prender e só a firme oposição de Chris Rock o impediu.
"Parece que o Chris Rock tinha a opção de ter a polícia de Los Angeles ir prender o Will Smith", diz o jornalista T.J. Holmes. "Isso é completamente verdade", confirma Will Packer.
No site do GMA antecipava-se mais pormenores sobre o encontro dos agentes da polícia com Chris Rock nos bastidores do Dolby Theatre: "Eles estavam a dizer: 'Isto é ofensa à integridade física [battery]. Esse foi o termo que eles usaram naquele momento. Eles disseram, 'Nós vamos buscá-lo. Nós estamos preparados. Iremos buscá-lo agora mesmo. O senhor pode apresentar queixa. Podemos prendê-lo'".
"Eles estavam a expor as opções. E conforme eles falavam, o Chris [...] estava a colocá-las completamente de parte. Ele estava tipo, 'Não, estou bem'. Ele estava 'Não, não, não'. Até ao ponto em que eu disse, 'Rock, deixa-os terminar'", revelava Will Packer.
E acrescentava: "Os agentes da polícia de Los Angeles acabaram de apresentar quais eram as suas opções. E disseram, 'Deseja que avancemos com alguma ação?'. E ele disse não".
Sexta-feira: Will Smith só não foi obrigado a sair por falha de comunicação?
A divulgação da entrevista completa de de Will Packer ao Good Morning America não dissipou todas as dúvidas sobre o que aconteceu naqueles 40 minutos.
Pelo contrário: foi desmentido o seu relato sobre um dos momentos mais controversos: a razão para Will Smith ter continuado na cerimónia após dar a bofetada.
"Foi como se alguém tivesse derramado betão naquela sala. Sugou a vida daquela sala e nunca mais voltou", recordou o produtor sobre "aquele" momento ao jornalista, acrescentando que o público, como ele, ficou estupefacto e sem saber como reagir.
Questionado se Chris Rock salvou o espetáculo por não reagir e continuar a apresentar, Packer respondeu: "Acho que sim. Ele certamente salvou o que restou daquela noite. O Chris ter lidado com o momento com tanta elegância e desenvoltura permitiu que o espetáculo continuasse".
O produtor estava a ver a cerimónia nos bastidores e diz que a piada sobre Jada Pinkett Smith não estava no guião, mas tal como o público, pensou que o que aconteceu era uma encenação até Will Smith começou a gritar palavrões do seu lugar.
Só quando Chris Rock regressou aos bastidores depois de entregar o Óscar de Melhor Documentário e falou com ele é que Packer teve mesmo a certeza que houve uma agressão: "'Sim, acabei de receber um murro do Muhammad Ali' [referindo ao pugilista que Smith interpretou no filme "Ali", de 2001]. Ele estava imediatamente em 'modo humor', mas dava para perceber que estava completamente em choque".
Apesar de Chris Rock garantir que estava bem, pouco depois os agentes da Polícia de Los Angeles que entretanto tinham chegado ao Dolby "expuseram muito claramente quais eram os seus direitos" no gabinete de Will Packer e informaram que estavam prontos para prender Will Smith.
Segundo o produtor, o comediante deixou claro que estava bem e nem queria ouvir falar sobre apresentar queixa.
Mais tarde e antes de ser anunciado o Óscar de Melhor Ator, Shayla Cowan, que produziu a cerimónia com Packer, veio ter com ele a avisar que "eles" se preparavam para tirar Will Smith da sala.
"Fui ter imediatamente com a liderança da Academia que estava no local [o presidente David Rubin e a Dawn Hudson] e disse 'O Chris não quer isso'. Disse 'O Rock deixou muito claro que não quer piorar uma má situação'. Era essa a imagem do Chris. O seu tom não era retaliatório, o seu tom não era agressivo e zangado. E portanto estava a defender o que o Rock queria naquela altura, que era não retirar fisicamente o Will Smith naquela altura. Porque, como agora me foi explicado [após a cerimónia], era essa a única opção naquela altura. Foi-me explicado que tinha havido uma conversa na qual não participei para lhe pedir para sair voluntariamente", recorda o produtor, que diz que nunca falou diretamente com Will Smith na cerimónia.
Só que esta parte sobre Chris Rock ser o responsável por Will Smith não ter sido expulso dos Óscares é completamente desmentida por fontes próximas do comediante, que garantiram ao site TMZ que "o Chris disse ao Packer 'Não vou apresentar queixa. Tudo o que quero é ir embora'. Nunca lhe perguntaram se ele queria que o Will saísse. Isto é a Academia a proteger-se".
Fontes "credíveis" disseram o mesmo ao Deadline e acrescentaram que Packer está a fazer confusão por causa da conversa que houve sobre Chris Rock não querer apresentar queixa. "Poderia ter recebido uma resposta diferente" se lhe tivesse perguntado se queria que Smith abandonasse o Dolby.
Aquela ovação de pé...
O jornalista T.J. Holmes quis saber qual a explicação que Packer tinha para outro momento da cerimónia que chocou Jim Carrey e muitos espectadores: a ovação de pé ao ator quando ganhou o Óscar.
"As pessoas naquela sala que se levantaram defenderam alguém que conheciam – ele era um colega, um amigo, um irmão. Ele tem uma carreira de mais de três décadas de ser o oposto do que vimos naquele momento. Essas pessoas viram a pessoa que conhecem e esperavam que, de alguma forma, isto fosse uma aberração", defende o produtor.
"Não acho que se tratassem de pessoas a aplaudir o que quer que fosse sobre aquele momento [a agressão]. E todas estas pessoas viram o seu amigo absolutamente no seu pior momento e tinham esperança que pudessem encorajá-lo e animá-lo, e que ele tentaria de alguma forma corrigir a situação", acrescentou.
Dada a dimensão do que tinha acontecido, Packer reconhece que naquele momento isso não era possível, mas a sua esperança e a da maioria das pessoas no Dolby é que Will Smith ajudasse a melhorar a situação, dizendo que o que tinha acontecido era completamente errado, estava arrependido e pedia perdão a Chris Rock.
Mas não foi um discurso conciliatório que se ouviu e por isso o produtor disse que estava arrependido por Will Smith ter ficado para receber a estatueta.
Após as cenas na festa pós-Óscares da revista Vanity Fair, os dois falaram na segunda-feira de manhã: "Pediu desculpa e disse 'Isto devia ter sido um momento gigantesco para ti'. E manifestou o seu embaraço e foi isso".
OS EXCERTOS DA ENTREVISTA DE WILL PACKER.
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