Matthew Modine odiou tanto o amigo Vincent D’Onofrio quando estavam a fazer "Nascido Para Matar" às ordens de Stanley Kubrick que ficou com vontade de matá-lo a sério.
No lendário filme de guerra de 1987, Modine era o recruta "Joker" e D'Onofrio o atormentado recruta com excesso de peso "Pyle", que lentamente enlouquecia durante a brutal instrução do impiedoso sargento Hartman (R. Lee Ermey), antes de serem enviados para a Guerra do Vietname.
"Quis mesmo fazê-lo. Em todas aquelas cenas do treino militar [...] ele ficava cada vez mais estranho à medida que entrava no mundo em que a sua personagem estava a entrar", recordou em entrevista ao jornal britânico The Independent.
O momento em que passou pela cabeça usar o fuzil de 13 quilos que tinha nas mãos para rebentar o crânio do colega começou quando este o criticou por se estar a divertir com os figurantes durante as pausas da rodagem. Quando lhe perguntou o que faria se não parasse, D'Onofrio ameaçou que lhe dava uma tareia.
Os dois já eram amigos antes do filme (foi Modine que sugeriu D’Onofrio, então a trabalhar como porteiro num Hard Rock Cafe, para fazer o teste), mas aquela troca de palavras "foi o fim da nossa amizade pelo resto da rodagem".
"Mas foi bom para o filme", acrescentou.
Em causa estavam as diferentes técnicas da representação: D'Onofrio aplicava o "Método" de Lee Strasberg, mergulhando no realismo e identificando-se com a sua personagem, enquanto Modine, tendo estudado com Stella Adler, era o oposto, acreditando que os atores deviam "usar a sua imaginação" para criar.
Modine também admitiu que a hostilidade o levou a ir mais longe na cena em que Joker é um dos recrutas do pelotão que bate em Pyle pela sua falta de aptidão militar com uma barra de sabão enrolada numa toalha.
"No filme, bato-lhe duas vezes, paro e, a seguir, dou-lhe mais algumas. Muitas vezes me pergunto se aquilo foi 'aqui estão duas pelo filme e aqui mais duas por mim, seu c*****'. Obviamente que só usámos uma toalha com o nó, mas foi repetida várias vezes. O coitado do Vince estava todo magoado", explicou.
Reatada a amizade e passados tantos anos após a rodagem, Modine pensa que D'Onofrio acabou por conseguir impor a sua vontade.
"De certa forma, ainda bem para o Vince, porque ele criou algumas faíscas entre nós os dois. À sua maneira inteligente, ele forçou-me a trabalhar ao seu estilo", reconhece.
Confirmando que são águas passadas, eis o reencontro dos dois e ainda do ator e assistente de Kubrick para promover os 30 anos de "Nascido para Matar" e o apoio oficial de Vincent D’Onofrio à candidatura (falhada) de Matthew Modine para a liderança do sindicato dos atores americanos em 2019.
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