Ícone, lenda... Tom Hanks tem uma carreira ao mais alto nível desde meados dos anos 1980.
Mas como revelou num painel com público onde participou com o editor-chefe da revista The New Yorker, também ele entrou em filmes que "detesta".
O tema surgiu a propósito do fracasso artístico de "A Fogueira das Vaidades" (1990) e o sucesso de "O Resgata do Soldado Ryan" (1998) e se era possível perceber se vai ser bom enquanto se está a trabalhar num filme.
"Não". Não há como saber, porque o processo é muito lento. E tão específico. Só se pode ter fé e esperança - e o que é maior do que fé e esperança? No fim de contas, tem de se confiar todo o processo a colaboradores que esperamos que estejam no ponto máximo das suas capacidades", respondeu no The New Yorker Live [transcrição com acesso pago], via IndieWire.
O pretexto da conversa foi o lançamento de "The Making of Another Major Motion Picture Masterpiece", o primeiro livro de ficção do ator, que revela o que se esconde por detrás da cortina: o processo de fazer de fazer um filme.
E Hanks escreve, recorda o seu entrevistador, que "fica extremamente ofendido com a ideia de alguém odiar um filme".
E o ator e autor explica porquê: "Vamos admitir isto: todos vimos filmes que detestamos. Eu estive em alguns filmes que deteste. Vocês viram alguns dos meus filmes e detestam-nos".
"Aqui estão os cinco pontos do [Rio] Rubicão que são atravessados por alguém que faz filmes", acrescenta.
E começa a explicar: "O primeiro Rubicão é quando se aceita fazer o filme. O teu destino está selado. Vais entrar no filme. O segundo Rubicão é quando finalmente vê o filme que fez. Ou funciona e é o filme que queria fazer, ou não funciona e não é o filme que queria fazer".
"Isto não tem nada a ver com o Rubicão número três, a reação crítica ao filme - que é uma versão do 'vox populi' [a "voz do povo" em latim]. Alguém vai dizer: 'Detestei'. Outras pessoas podem dizer: 'Acho que é brilhante'. Algures no meio dos dois é o que o filme realmente é", observa.
E continua: "O quarto Rubicão é o percurso comercial do filme. Porque se não ganhar dinheiro, a sua carreira vai acabar mais depressa do que gostarias. Isto é apenas um facto. A indústria é essa".
"O quinto Rubicão é o tempo. Quando esse filme aterra 20 anos depois de ser lançado. O que acontece quando as pessoas o veem, talvez por acidente", diz.
Um exemplo, diz, foi "Do Céu Caiu Uma Estrela", um filme de Frank Capra com James Stewart de 1946, que se tornou um clássico quando entrou no domínio píblico em 1974 e começou a passar frequentemente na televisão: "Desapareceu durante cerca de 20 anos, inacessível por causa de uma questão de direitos de autor. Na altura nem foi visto como um sucesso de bilheteira. Houve pessoas suficientes que gostaram, portanto foi nomeado para [o Óscar] Melhor Filme".
"Para mim, isso aconteceu com um filme que escrevi e realizei chamado “That Thing You Do!” ["Tudo por um Sonho", 1946]. Adorei fazê-lo. Adorei escrevê-lo, adorei estar com ele. Adoro todas as pessoas nele. Quando estreou, foi completamente rejeitado pela primeira onda de 'vox populi'. Não fez muito nas bilheteiras. Andou um bocado em circulação, foi visto como uma espécie de cópia estranha de outros nove filmes diferentes e uma viagem nostálgica agradável [aos anos 1960]. Agora, as mesmas publicações que o rejeitaram na sua crítica inicial chamaram-lhe 'o clássico de culto de Tom Hanks'. Portanto, agora é um clássico de culto. Qual era a diferença entre estas duas coisas? A resposta é tempo", explica.
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