O regresso dos "Vingadores", incluindo Robert Downey Jr. e Scarlett Johansson, está a ser equacionado pela Marvel como uma possível saída para a crise no seu Universo Cinematográfico (MCU, pela sigla original).
Por outro lado, a continuação de Jonathan Majors como o vilão Kang, o Conquistador, já estava em causa antes de ser acusado de violência doméstica.
Um novo artigo da Variety mergulha na Marvel Studios e revela que o habitual retiro anual que junta criativos do estúdio, incluindo o seu presidente Kevin Feige, descrito como um evento normalmente cheio de "confiança" e até "arrogância", foi dominado por "muita angústia".
Os temas incluíram as várias desilusões de bilheteira, as dúvidas sobre a estratégia de aumentar a programação para streaming (as séries no Disney+), que o presidente-executivo da Disney Bob Iger reconheceu ter "diluído o foco e a atenção", e o escândalo legal que envolve o ator que deveria ser uma das suas maiores estrelas para os próximos anos.
Segundo a revista, o tema mais urgente discutido foi o que fazer com Majors: os danos à sua reputação e a possibilidade de ser considerado culpado no julgamento que começa este mês forçaram a Marvel a repensar os seus planos de centrar a próxima fase do MCU à volta de Kang, nomeadamente avançando para outro vilão, como o Dr. Doom.
Uma fonte do estúdio notou que, independentemente da situação legal de Majors, a Marvel já ponderava afastar-se dessa estratégia criativa após o fracasso de bilheteira em fevereiro de "Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania".
Mas há outra complicação: Kang surge em destaque na segunda temporada de "Loki", principalmente no episódio final, previsto para 9 de novembro, que o posiciona para ser a estrela de um quinto filme “Vingadores” em 2026.
Um importante executivo que já viu o episódio diz que "a Marvel está mesmo tramada com toda a abordagem do Kang. E não tiveram a oportunidade de reescrever até muito recentemente [por causa da greve do sindicato dos argumentistas]. Mas não vejo um caminho para seguirem em frente com ele”.
Escolher um novo ator também é descrito como uma opção: já aconteceu quando Feige substituiu Terrence Howard por Don Cheadle em "Homem de Ferro 2" (2010) ou trocou Edward Norton por Mark Ruffalo em "Os Vingadores" (2012).
Outro problema parece ser o novo filme do estúdio: "As Marvels" passou por quatro semanas de refilmagens após reações internas descritas como "medianas" e as previsões de bilheteira são pessimistas: metade das receitas do primeiro filme em 2019. E ainda existe o pormenor "estranho" da sua realizadora, Nia DaCosta, em plena fase de pós-produção, já estar a trabalhar noutro projeto em Londres.
Por isso, não é uma surpresa gigantesca que a Variety diga que existem conversas internas sobre trazer de regresso o grupo original de atores do MCU para um novo "Vingadores", incluindo "ressuscitar" o Homem de Ferro de Robert Downey Jr. e a Viúva Negra de Scarlett Johansson.
"O estúdio ainda não se comprometeu com a ideia", diz a revista, que nota que trazer estes atores de volta não seria barato.
Uma encruzilhada
Os custos a dispararem tanto nos filmes como nas séries são outra preocupação na Marvel, mas um grande ponto de tensão passa pelo que é descrito como a qualidade mediana dos últimos lançamentos e a pressão nos profissionais de efeitos visuais, que estavam a trabalhar 14 horas por dia e sem folgas, o que terá sido sido decisivo para avançarem para a sindicalização em setembro.
Além de alguns efeitos finais adicionados a séries como "WandaVision" e "She-Hulk: A Advogada" já depois do lançamento em streaming, a Variety fala de um "choque" entre o público exclusivo no final da antestreia mundial de "Quantumania" em fevereiro por causa da má qualidade de algumas das imagens.
“Houve pelo menos 10 cenas em que os efeitos visuais foram adicionados no último minuto e ficaram pouco nítidos. Foi uma loucura. Nunca vi algo assim em toda a minha carreira. Toda a gente estava a falar sobre isso. Até os filhos dos executivos estavam a falar sobre isso", disse à revista um veterano importante da indústria.
Victoria Alonso, uma executiva que estava no estúdio desde 2006 e um elemento essencial na consolidação do MCU, foi despedida logo no mês a seguir, alegadamente pelo seu envolvimento não autorizado como produtora executiva em "Argentina, 1985", filme de um estúdio rival (Amazon), mas algumas fontes internas dizem que foi um bode expiatório e os problemas com os efeitos especiais são um sintoma de algo mais profundo: a falta de supervisão no desenvolvimento dos argumentos, que avançam incompletos para produção.
"Isto não é a Victoria. Isto é o Kevin. E até acima do Kevin. Estas questões devem ser abordadas na pré-produção. O cronograma não permite que os executivos da Marvel analisem o material", disse uma pessoa envolvida em "She-Hulk".
Com as críticas públicas a aumentarem, a Variety diz que o presidente da Marvel está a colocar um travão em argumentos e projetos que não estão a funcionar, nomeadamente a nova versão de "Blade", que já passou por cinco argumentistas, dois realizadores e até uma paragem seis semanas antes de começar a rodagem.
Uma pessoa que conhece o projeto diz que a história chegou a uma fase em que se transformou numa narrativa "liderada por mulheres e repleta de lições de vida" com Blade relegado para a quarta posição, o que a Variety descreve como uma "ideia bizarra" pois o estúdio contratou para o papel o vencedor de dois Óscares Mahershala Ali.
Com rumores a circularem de que o ator se preparava para sair, Feige terá voltado à estaca zero e para a contratação de Michael Green, nomeado aos Óscares pelo argumento de “Logan”, tencionando produzir o filme, agora previsto para 2025, por menos de 100 milhões de dólares, uma mudança na estratégia de grandes gastos do estúdio.
Enquanto o líder reprograma a estratégia, a Variety diz que "o resto da indústria espera ansiosamente que os melhores dias da Marvel não tenham ficado para trás".
Nesta encruzilhada, a chave para a reinvenção criativa e o ressurgimento comercial, nota a revista, pode passar pelos super-heróis que regressaram à Marvel quando a Disney comprou o estúdio 20th Century Fox em 2019: nota-se o entusiasmo dos fãs por “Deadpool 3”, que irá juntar a personagem de Ryan Reynolds com o Wolverine de Hugh Jackman, e pelos rumores à volta do 'casting' para o relançamento de “Quarteto Fantástico”, previsto para 2025.
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