Se foi uma das pessoas que achou frustrante ver "A Mulher à Janela" na Netflix, saiba que o realizador passou pelo mesmo ao fazer o filme.

A história centrava-se numa psicóloga infantil interpretada por Amy Adams, que sofria de agorafobia e se sentia mais segura quando observava o mundo pela sua janela, até que uma família se mudava para o outro lado da rua e ela testemunhava algo inimaginável. Mas teria mesmo acontecido?

Realizado por Joe Wright, o mesmo de títulos como "Orgulho e Preconceito", "Expiação", "Anna Karenina" e "A Hora Mais Negra", o elenco do "thriller" era impressionante: além da atriz nomeada seis vezes nomeada para os Óscares, estavam nomes como Gary Oldman e Julianne Moore, que já ganharam a estatueta, e ainda Brian Tyree Henry, Anthony Mackie, Jennifer Jason Leigh e Wyatt Russell.

VEJA O TRAILER.

Mas a produção teve uma história de bastidores complicada: o filme rodado durante o verão de 2018  devia ter chegado aos cinemas em outubro de 2019, mas foi adiado após a compra do estúdio 20th Century Fox pela Disney e as sessões de teste terem deixado os espectadores confusos.

Resultado: o produtor tirou o filme das mãos de Joe Wright e contratou Tony Gilroy para reescrever e fazer novas cenas, mas os resultados dos testes terão sido iguais e o filme acabou por ser vendido à Netflix, que o lançou em maio de 2021.

Passados quase quatro anos, Joe Wright descreveu "A Mulher à Janela" como uma "longa, prolongada e frustrante experiência".

"O filme que finalmente foi lançado não foi o filme que originalmente fiz. Foi como, 'Bolas, Vive-se a aprende-se'. Foi diluído. Foi muito diluído. Era muito mais brutal na minha conceção original", explicou o realizador à Vulture.

"Tanto do ponto de vista estético, com cortes duros e música estridente — Trent Reznor fez uma banda sonora incrível, abrasiva e dura —, como na sua representação da Anna, a personagem de Amy Adams, que era muito mais caótica e de certa forma desprezível em muitos aspetos. Infelizmente, os espectadores gostam que as mulheres sejam agradáveis nos seus filmes. Não as querem ver desgrenhadas e feias e sombrias e bêbadas e a tomar comprimidos. Os homens podem ser assim, mas não as mulheres. Portanto, aquilo tudo foi diluído para ser uma coisa que não era", esclareceu.

O realizador acrescentou que o estilo cinematográfico do filme era "brutal" e "brutalista".

"E acreditam? Não gostaram [risos]. Acho sempre que as pessoas vão conseguir perceber o que faço e claro que vale a pena gastar X milhões de dólares numa espécie de ensaio formal sobre a a ansiedade. E quando as pessoas dizem: 'Hmmm, isso não é realmente o que nós… [estávamos à espera]', fico surpreendido. [...] Se se está a trabalhar com um orçamento de Hollywood, provavelmente não vai ser uma ideia tão inteligente", reconheceu.

Joe Wright não tem esperança de que a sua versão venha um dia a ver a luz do dia porque seria demasiado cara.