A caminho dos
Óscares 2023
A equipa por detrás da curta-metragem de animação “Ice Merchants” está em Los Angeles a fazer uma “campanha de guerrilha” para promover a obra portuguesa nomeada aos Óscares, disse à Lusa o produtor Bruno Caetano.
“É lógico que gostaríamos de ter cartazes nas paragens de autocarro e ‘outdoors’ em Los Angeles, mas quando um ‘outdoor’ o mínimo são 15 mil dólares, nós não temos maneira nenhuma”, afirmou.
“Sabemos que há outros filmes nomeados para a mesma categoria que nós em que estamos a andar na rua e em quase todas as ruas têm a sua presença lá”, continuou.
“Estamos a tentar fazer um género de campanha mais de guerrilha. Tentamos usar ao máximo aquilo que temos e chegar ao máximo de pessoas”, disse o produtor.
A dupla conseguiu apoios do Ministério da Cultura, do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) e da Câmara Municipal do Porto para a campanha de promoção.
Com orçamento limitado, o produtor Bruno Caetano e o cineasta João Gonzalez têm-se desdobrado em entrevistas, eventos de exibição da curta-metragem e programação da Academia, e investimento em publicidade direcionada ‘online’ para promover “Ice Merchants” junto dos membros que começaram a votar na quinta-feira.
Os anúncios ‘online’ são direcionados às cidades onde há maior concentração de membros da Academia, de forma a maximizar o alcance da curta-metragem.
“Sabemos, por exemplo, que 57% dos membros da Academia são norte-americanos e 43% estão espalhados pelo mundo”, disse Bruno Caetano. Los Angeles é a cidade com maior concentração, seguida de grandes centros como Nova Iorque, São Francisco, no Estados Unidos, e Vancouver, no Canadá.
A equipa de promoção, além de Caetano e Gonzalez, é composta por Benoit Berthe Siward e Celine Ufenast, da Animation Showcase, que é quem está a fazer a estratégia de campanha. “Nós os quatro somos a equipa completa”, frisou o produtor.
Os portugueses sabem que estão em competição contra nomeados com acesso a muito mais recursos, com empresas como a Apple e BBC e produtores como J.J. Abrams por detrás.
“Estamos a trabalhar todos os dias, temos um posto de operação no nosso apartamento”, contou João Gonzalez. “É uma coisa incrível ter um ‘billboard’ [cartaz], mas em termos de propagação da mensagem do filme, investindo o equivalente ‘online’ em anúncios conseguimos chegar a ainda mais membros”, explicou. “Estamos a tentar ser o mais práticos possível com o que temos”.
Os nomeados portugueses têm dado várias entrevistas a meios importantes nos Estados Unidos, como o jornal Los Angeles Times, a revista Variety e os 'sites' Deadline e The Wrap. A The New Yorker também organizou uma exibição da curta-metragem no museu da Academia e a Shorts TV está a mostrar os nomeados em salas de cinema.
“Temos recebido um impulso enorme”, referiu João Gonzalez, exemplificando com o aumento exponencial das críticas no ‘site’ Letterboxd, desde que o filme foi lançado nos cinemas. “É muito positivo porque acho que é um filme que beneficia especialmente quando é visto em sala de cinema, com um som muito bom”, salientou.
A votação dos cerca de dez mil membros da Academia decorre até terça-feira, pelo que os esforços de promoção estarão concentrados até lá.
“Temos estes dias para ver como os anúncios estão a correr, entrar em contacto com o maior número de ‘media’ possível também, e a partir de dia 8 temos a Oscar Week”, explicou Gonzalez.
Entre 5 e 10 de março, terão ainda a oportunidade de exibir o filme em estúdios como DreamWorks, Pixar e Disney.
Desde que chegaram a Los Angeles, os portugueses já participaram no almoço dos nomeados, onde trocaram ideias com cineastas como Steven Spielberg e Guillermo Del Toro, e venceram o prémio Annie para Melhor Curta-Metragem.
“O que me surpreendeu muito pela positiva foi entrar em contacto direto não só com celebridades, mas com membros da Academia e através das conversas perceber que eles realmente tinham visto o filme”, disse João Gonzalez. “As pessoas conheciam e algumas estavam interessadas em falar connosco”.
O cineasta, de 27 anos, classificou a experiência em Los Angeles como nomeado de “surreal”.
“É um mundo mais caótico do que o que estamos à espera, mas toca-nos muito saber que numa cidade tão grande, mesmo com os nossos recursos limitados, o filme está a chegar às pessoas”, salientou.
Bruno Caetano disse que a viagem tem sido “impressionante” em todos os aspetos, dando acesso “a toda uma cultura que só [imaginavam]”.
O produtor partilhou um momento que aconteceu no almoço com os nomeados, em que a dupla estava à espera de uma entrevista e foi interpelada por pessoas – incluindo produtores de grandes estúdios – que ficaram interessadas ao saber que eles eram os responsáveis por “Ice Merchants”.
“Disseram que adoraram o filme”, contou, e ficaram estupefactas com o facto de ter sido uma animação feita por duas pessoas em cerca de quatro meses.
“É a capacidade portuguesa do desenrasca”, gracejou Bruno Caetano.
“Ice Merchants” é o primeiro filme português a ser nomeado para os Óscares, que serão entregues em Los Angeles, na 95.ª cerimónia a 12 de março.
A curta-metragem foi produzida pela cooperativa portuguesa Cola Animation, em coprodução com França e Reino Unido, e teve um orçamento de cerca de 100 mil euros.
“Ice Merchants” compete pelo Óscar de Melhor Curta de Animação com ”The Boy, the Mole, the Fox and the Horse", que tem J.J. Abrams como um dos produtores e a Apple TV+ a distribuir, "The Flying Sailor", de Amanda Forbis e Wendy Tilby, "My Year of Dicks", de Sara Gunnarsdóttir e Pamela Ribon, e "An Ostrich Told Me the World Is Fake and I Think I Believe It", de Lachlan Pendragon.
TRAILER.
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