Na altura,
Hugh Grant não sabia, mas
«Quatro Casamentos e um Funeral» iria torná-lo uma estrela de cinema incrivelmente famosa. Na verdade, quando o estava a fazer, achava que o filme era péssimo. Mas, aos 33 anos, foi mesmo o momento de viragem depois de anos de trabalho desmotivante. Mas existe uma coisa que era do seu conhecimento: esteve muito perto de não acontecer.
De facto, levada a questão a votação, foi por 2 a 1 que Hugh Grant foi escolhido para ser o protagonista de «Quatro Casamentos e Um Funeral», a comédia britânica povoada de personagens bizarras e com uma das piores últimas frases da história do cinema (quando Carrie -
Andie MacDowell -, pergunta se ainda estava a chover pois não tinha reparado), que se tornou um fenómeno no verão de 1994 e viria a ser nomeada para o Óscar de Melhor Filme.
A grande oposição partia de
Richard Curtis, o argumentista, que não queria que o protagonista parecesse uma estrela de cinema. «Quando o estava a escrever, a ideia chave para este filme era que a pessoa que estivesse a interpretar o protagonista não seria bonita», recordou este sábado durante um festival de literatura em Cheltenham, perante o riso dos espetadores. «Era a absoluta tese de partida do filme».
A objeção foi vigorosa mesmo quando o realizador
Mike Newell e o produtor Duncan Kenworthy tinham decidido que Grant era a escolha óbvia para ser Charles, o encantador solteirão trapalhão sempre com a palavra mais inconveniente perto da boca. «Portanto, quando finalmente fizemos testes a cada um dos jovens no país e votámos, duas pessoas votaram no Hugh - foram eles - e eu votei noutra pessoa».
Curtis não o disse, mas é de conhecimento público que, num universo alternativo, Charles podia ter sido
Alan Rickman, o célebre ator que anos antes fora Hans Gruber e o xerife de Nottingham em «Assalto ao Arranha-Céus» e «Robin Hood: Príncipe dos Ladrões», tal como o papel da americana Carrie, que tinha sido decidido por todos, estava destinado a uma estrela, poderia ter ficado para Marisa Tomei, Melanie Griffith, Jeanne Tripplehorn ou... Brooke Shields.
Percebe-se a relutância de Richard Curtis: Hugh Grant terá sido o 72º ator a fazer testes para um papel que era essencialmente uma versão idealizada... do próprio Richard Curtis. De tal forma que, ultrapassada a resistência inicial, este acabaria por vir a escrever uma parte significativa dos filmes mais populares do ator: «Notting Hill» (1999), «O Amor Acontece» (2003 e os dois «O Diário de Bridget Jones» (2001 e 04).
Mas Grant não esqueceu o início e recordou-o num «talk show» na semana passada onde estava a promover o seu novo filme, «Rewrite» (uma comédia romântica, claro está): «Richard Custis fez tudo o que estava ao seu alcance para me impedir de ter o papel depois da audição. Recordo-me que foi um teste muito traumatizante. Por alguma razão, foi no estúdio de Jim Henson à frente do argumentista, realizador, produtor e 50 Marretas em tamanho real, o que foi perturbador».
«Acho que eles queriam alguém mais velho e pensaram que eu era um bocado elegante demais. Mas no fim consegui o papel porque acho que não conseguiram encontar mais ninguém!».
Questionado no festival sobre o que teria sido diferente se Grant não tivesse conseguido o papel, Curtis brincou: «Hugh seria menos rico e mais feliz».
E depois acrescentou: «Não, acho que ele iria ser sempre infeliz, só que de uma forma diferente».
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