Glynis Johns, imortalizada no cinema como a mãe da família Banks e sufragista em "Mary Poppins" (1964) morreu esta quinta-feira (4), numa Casa de Repouso em Los Angeles.
Com 100 anos festejados a 5 de outubro e uma carreira com notoriedade no cinema que começou na década de 1940, era uma das últimas estrelas vivas da "Era Dourada" de Hollywood e do cinema clássico britânico.
Era ainda a mais veterana dos nomeados para os Óscares em todas as categorias de interpretação, a estrela britânica com mais antiguidade no cinema e nos palcos (onde começou na década de 1930) e a mais velha homenageada com o galardão Disney Legends, o reconhecimento oficial do estúdio para os artistas que fizeram contribuição extraordinárias para o estúdio.
Atriz, cantora e dançarina que fez mais 60 filmes e 30 peças, o maior triunfo foi um prémio Tony (os 'Óscares' da Broadway) com o musical “A Little Night Music”, em 1973, com Stephen Sondheim a escrever o tema 'Send in the Clowns' de propósito para ela e a sua distinta voz rouca (a versão para o cinema, no entanto, ficou para Elizabeth Taylor, com "Música numa Noite de Verão" (1977), um famoso 'flop' de bilheteira, a ser recordado principalmente pelas evidentes flutuações de peso da estrela de cena para cena).
Nascida em Pretória, na África do Sul, começou nos palcos no início da adolescência e após alguns papéis secundários, como o da aia da princesa no clássico "O Ladrão de Bagdad" (1940), a carreira no cinema ganhou outra proeminência com o filme de guerra britânico "Os Invasores" (1941), da aclamada dupla Michael Powell e Emeric Pressburger, que lhe valeu um prémio da National Board of Review, a mais antiga organização dos EUA a distribuir prémios anuais de cinema.
Ainda secundária em "Férias de Casamento" (1945), consolida-se como uma das principais jovens protagonistas do cinema britânico com "This Man Is Mine" (1946), "Frieda, a Mulher que Venceu o Ódio" (1947), "Sereia Tentadora" (1948), "Third Time Lucky" (1949), "Segredo de Estado" (1950) ou "Flesh and Blood" (1951), com os donos das salas de cinema do seu país a nomearem-na a 10.ª estrela mais popular nas bilheteiras em 1951 e 1952.
Em 1951, "Viagem Fantástica", onde era o terceiro nome no elenco depois de James Stewart e Marlene Dietrich, abre as portas da carreira para o cinema nos EUA, que se expande no ano seguinte com a estreia na TV e na Broadway.
"A Espada e a Rosa" (1953) foi o primeiro trabalho para a Disney e o percurso no grande ecrã, entre dramas, comédias, filmes de aventuras e 'thrillers', prosseguiu com "Rob Roy, o Grande Rebelde" (1953), "Muros Negros" (1954), "Doidinha Por Homens" (1954), "Josefina e os Homens" (1955), "O Bobo da Corte" (1955), "Lua de Mel em Monte Carlo" (1956), "O Sol Nasce Amanhã" (1957) , "O Amor Que Roubei" (1958), "De Mãos Dadas com o Diabo" (1959) e "The Spider's Web" (1960).
O culminar deste período foi "Três Vidas Errantes" (1960), de Fred Zinnemann, que a levou à nomeação para o Óscar de Melhor Atriz Secundária, antes de continuar com "O Gabinete do Dr. Caligari" (1962), "A Vida Íntima de Quatro Mulheres" (1962) e até como protagonista de uma série de comédia com o seu nome, "Glynis" (1963), que durou apenas 13 episódios.
Aos 39 anos e com uma carreira predominante nos cinemas e nos palcos, habituada até a ter canções escritas de propósito para si, reza a lenda que Glynis Johns pensou que ia interpretar Mary Poppins, o papel que iria para Julie Andrews, aquando do primeiro contacto de Walt Disney.
Esclarecida a confusão durante um almoço e para ter a certeza que a atriz aceitava o convite para ser a matriarca da família Banks, o líder do estúdio aumentou o papel em relação ao que existia nos livros de P.L. Travers e encomendou aos irmãos Sherman um número musical especificamente para ela, que viria a ser "Sister Suffragette".
"Querida Brigitte" (1965), "Fechem-nas a 7 chaves (1969), "Sob o Bosque de Leite" (1971) e algumas participações como convidada em séries antecederam a fase de maior aclamação da carreira, dedicada principalmente aos palcos nas décadas de 1970 e 1980.
Neste período e para o pequeno ecrã, além das inevitáveis participações como convidada em "O Barco do Amor" ou "Crime, Disse Ela", destacou-se o papel da pomposa mãe de Diane Chambers (Shelley Long) num episódio de "Cheers, Aquele Bar".
Antes de se retirar em 1999, ainda entrou em três filmes, sempre em papéis de avó, com o mais importante a ser em "Isto (Não) É Um Rapto" (1994), onde entrava em choque com o filho interpretado por Kevin Spacey.
Seguiram-se "Enquanto Dormias", a comédia romântica que tornou um sucesso gigantesco que fez de Sandra Bullock uma estrela de cinema, antes da despedida com "Superstar" (1999), ao lado de Will Ferrell.
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