De acordo com o festival, num comunicado divulgado no domingo, o filme de Jumana Manna, que se situa entre o documentário e a ficção, retrata “a tensão entre a Autoridade Israelita de Proteção da Natureza e os respigadores palestinianos”.
Foram “a visão de Jumana Manna e a generosidade com que partilha connosco as pessoas, o território, a luta pela pertença e a disponibilidade para qualquer sacrifício, numa narrativa calma, mas inquietante”, que levou o júri, composto pela cineasta Amal Ramsis, a realizadora e antropóloga Amaya Sumpsi e a socióloga e realizadora Irina Pampim Silva, a premiar “Foragers”.
"Embora este difícil período espalhe uma luz maior sobre o que está a acontecer na Palestina, podendo achar-se por isso natural a decisão do júri, o filme ‘Foragers’ tem uma personalidade fortíssima, destacando-se pela sua narrativa inquietante de resiliência, mostrando a opressão até sobre a cultura - algo que nos parece indestrutível. Ainda que a situação política e humanitária na Palestina fosse diferente, a decisão das três mulheres do júri, de três zonas do mundo diferentes, seria a mesma”, justificou o júri.
O filme de Jumana Manna, que integrava a secção Travessias, “composta por filmes que abordam temas como migrações, racismo e colonialismo enquanto elementos estruturais da sociedade”, foi ainda distinguido com uma Menção Honrosa nesta categoria.
O prémio da secção Travessias foi atribuído a “The Wedding Parade”, o primeiro filme da síria Sevinaz Evdike, "por ser um filme de resistência política, um filme de travessias humanas e geográficas sobre histórias de vida do povo curdo do norte da Síria".
O prémio de Melhor Curta-Metragem foi para “Carmen, No fiar of freedom”, da catalã Irene Baque. O júri distinguiu este filme por se ter "destacado claramente pelo tratamento das suas figuras centrais - um poderoso coletivo de mulheres ciganas - e pelo efeito de empoderamento que o filme capta, ao revelar a luta feminista das mulheres ciganas, desconstruindo estereótipos e dando voz a mulheres marginalizadas".
“Chords”, da espanhola Estibaliz Urresola Solaguren, recebeu uma Menção Honrosa na competição de curtas-metragens.
O prémio da secção Começar o Olhar, dedicada a filmes de escola, foi atribuído ao documentário “Onde Again”, da italiana Giulia Di Maggio. Na mesma secção, foi ainda atribuída uma Menção Honrosa a “The Sun Sets On Beirut”, uma coprodução entre Líbano e Reino Unido, realizada por Daniela Stephan.
“Dentu Zona”, filme português filmado no bairro da Cova da Moura, na Amadora, de Eliana Caleia, venceu o Prémio Inatel. A longa-metragem “The Matchmaker”, da italiana Benedetta Argentieri, e a curta “Serigne”, dos espanhóis Adriana Cardoso, Rodrigo Hernández, Edu Marín, foram os filmes mais votados pelo público.
O 10.º Festival Olhares do Mediterrâneo termina na quinta-feira.
Este festival dedica-se, desde a génese, a divulgar o cinema feito por mulheres que trabalham ou habitem no eixo dos países do Mediterrâneo, e este ano o foco estará na Turquia, um país onde o cinema “tem uma longa e rica história, mas uma história dominada por homens”, de acordo com a organização.
Desde a criação, em 2014, o festival contou com cerca de 25.000 espetadores, entre os quais mais de 10.000 estudantes, a quem foi dada a possibilidade “de ver obras que muito dificilmente entram nos circuitos comerciais”.
O festival é organizado pelo Grupo Olhares do Mediterrâneo e pelo Centro em Rede de Investigação em Antropologia.
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