O Festival de Cinema IndieLisboa, que começa no dia 27, vai programar mais de 300 filmes e reforçar a vertente de indústria, para se posicionar no panorama internacional, contaram os diretores hoje à agência Lusa.
Sobre a vigésima edição, cuja programação completa foi hoje anunciada, Susana Santos Rodrigues, uma das três diretoras do festival, lembrou a “pré-disponibilidade dos programadores para procurar novas vozes, novas formas de fazer as coisas, novas formas de contar uma história, esteticamente, formalmente”.
A poucos dias do arranque, é quase um quebra-cabeças programar as sessões para mais de 300 filmes escolhidos para edição e que refletem também “um bocadinho do estado do mundo”, explicou Carlos Ramos, outro dos diretores do evento.
“Eu acho que há uma temática que sentimos que sobressai nos festivais que fomos indo, que são as questões de género. É uma temática que talvez noutros anos tenha estado presente de uma forma mais subtil, mas que este ano está presente de uma forma marcada”, disse Susana Santos Rodrigues.
Nessa perspetiva, destacam o filme de abertura, “Something you said last night”, primeira obra da realizadora ítalo-canadiana Luis De Filippis e cuja história vai para lá das questões identitárias de género, ou ainda a estreia de “Orlando, ma biographie politique”, do ensaísta espanhol Paul B. Preciado, a partir da obra homónima de Virgínia Woolf e com a participação de pessoas trans e não-binárias.
Sobre questões de género, e sem quererem afunilar a temática do IndieLisboa, Carlos Ramos e Susana Santos Rodrigues revelaram ainda que este ano foi criado um prémio, em parceria com a associação Mutim - Mulheres Trabalhadoras das Imagens em Movimento, e foi criado um laboratório para desenvolver projetos “que contrariem o estereótipo de personagens e de histórias mais convencionais e estereotipadas dentro do cinema”.
Da programação deste ano, a competição nacional contará com mais de uma vintena de filmes, como por exemplo "Rosinha e outros bichos do mato", de Marta Pessoa, "Índia", primeira longa de Telmo Churro, o díptico "Mal Viver" e "Viver Mal", de João Canijo, e as curtas-metragens "Dildotectónica", de Tomás Paula Marques, "Pátio do Carrasco", de André Gil Mata, e "A febre de Maria João", dos irmãos Afonso e Bernardo Rapazote.
Fora de competição, destaque para "Primeira obra", de Rui Simões, "veterano documentarista que conseguiu apoios para uma estreia na ficção após 40 anos de tentativas".
A programação anunciada contém ainda um foco dedicado ao "Trabalho e movimento sindical", antecipando os 50 anos dos 25 de Abril, com uma escolha que inclui filmes de António Campos, Manoel de Oliveira, Harun Farocki ou Ben Russell.
Segundo Carlos Ramos, a edição de 2024 do IndieLisboa será dedicada aos 50 anos do fim da ditadura, mas ainda está tudo em aberto.
Certo é que a organização vai mexer nas datas habituais do festival, agendando-o de 23 de maio a 2 de junho de 2024.
Ainda sobre a 20.ª edição, Susana Santos Rodrigues e Carlos Ramos sublinharam o objetivo de reforçar a vertente de contacto entre profissionais do cinema e audiovisual.
"Este ano há um aumento de atividades, vai haver um fórum de coprodução, há um incremento de atividades de indústria, porque houve este apoio para as redes da União Europeia", explicaram, dando como exemplo a recente Smart7, uma rede de sete festivais europeus, criada para fomentar "a circulação transnacional" de filmes europeus.
Sem restrições de circulação por causa da covid-19, o IndieLisboa voltará a ter uma maior presença também de programadores de outros festivais, disseram.
Este ano o IndieLisboa volta a ocupar o cinema São Jorge, a Culturgest, a Cinemateca Portuguesa e o Cinema Ideal, juntando-lhe ainda o Cinema Fernando Lopes – uma sala de cinema que existe na Universidade Lusófona – e a piscina da Penha de França, onde haverá três sessões em que os espectadores poderão estar dentro de água a ver cinema.
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