O diretor do certame revelou hoje (31) à Lusa que a 16.ª edição se mantém com um orçamento de 170.000 euros porque, apesar de as restrições sanitárias impostas pela covid-19 terem obrigado a suspender valências do festival como o programa de formação que atraía a Espinho profissionais e cinéfilos de 40 países, novos investimentos se impuseram para garantir a segurança do público.

"É o caso do ‘drive-in', que é um formato que tem sido utilizado em várias iniciativas, mas cuja qualidade deixa muito a desejar, pelo que, em vez de alugarmos equipamento externo que nos custaria 10.000 euros por dia, preferimos investir 40.000 euros para adquirir um sistema de imagem de grande qualidade, com uma tela de 15 metros de comprimento e um projetor de 20.000 lumens. Assim podemos assegurar uma experiência a sério, em que todos os carros têm boas condições de visibilidade para o ecrã", declara o diretor, Filipe Pereira.

Essa estrutura de cinema ao ar livre - com a tela exposta num parque de estacionamento onde os espectadores se mantêm dentro do carro e seguem a fita sonora através de uma frequência de rádio própria - vai funcionar junto à Nave Desportiva de Espinho de segunda-feira a sábado, sempre com sessões gratuitas às 21:30 e às 23:59, e terá capacidade para acomodar 40 viaturas, mediante inscrição prévia através do email drivein@fest.pt.

Para Porto e Lisboa está reservada a componente do cinema em sala tradicional, que o FEST quer privilegiar atendendo a que esses estabelecimentos "já enfrentavam grandes dificuldades antes da covid-19 e agora estão numa situação muito pior, não só pelas restrições sanitárias que têm que seguir, mas também porque ficaram sem conteúdos para exibir, uma vez que as distribuidoras não querem lançar filmes nesta altura".

Pelo Cinema Trindade, no Porto, e pelo Cinema Ideal, na capital, vão assim passar "filmes de grande qualidade da secção internacional do festival", exibidos ao preço habitualmente praticado por essas salas - que Filipe Pereira aponta como "as mais relevantes do cinema independente" nas referidas cidades.

As longas-metragens também se poderão ver no auditório da Junta de Freguesia de Espinho (dado que a sala histórica do Centro Multimeios está encerrada devido ao ‘lay-off’ em curso nesse equipamento) e as curtas repartem-se também pela Casa Comum da Reitoria da Universidade do Porto.

No total, a edição de 2020 do FEST apresentará assim mais de 230 obras por realizadores com idades até aos 35 anos, após uma seleção que este ano privilegia "alguma comédia e temas mais leves", para contrabalançar a carga dramática associada a uma atualidade definida pelo vírus SARS-CoV-2, e que favorece também o "cinema de terror", para se explorar o devido potencial do ‘drive-in’ nas sessões das 23:59, "de forma partilhada, comunitária".

Quanto à generalidade da programação, Filipe Pereira garante que "não foi afetada" pelas circunstâncias da pandemia: "Perdemos o contacto humano dos ‘workshops’ e das reuniões, que era realmente muito importante pelo que permitia de ‘networking' entre gente de uns 40 países, num ambiente realmente muito especial, mas, depois de analisarmos 3.000 a 4.0000 inscrições, o festival mantém-se com mesma alta qualidade".

Prova disso, diz o diretor do FEST, é o filme "Babyteeth", da realizadora australiana Shannon Murphy, que tem a "audácia de abordar o tema pesado do cancro numa perspetiva de humor negro".

Outra longa-metragem em destaque é "Jumbo", da francesa Zoé Wittock, que, no cenário de um parque de diversões, combina "fantasia com realismo social" e obteve assim "grande sucesso [nos festivais] em Sundance e em Berlim, perfilando-se para se tornar uma obra de culto".

Filipe Pereira realça ainda o mérito de "Pacificado", do brasileiro Paxton Winters, que "está um pouco em linha com o cinema de favela", mas "é especialmente interessante por abordar como o desenvolvimento prometido pelos Jogos Olímpicos [de 2016] impactou a vida das pessoas, sobretudo nas classes mais baixas do Rio de Janeiro".

Quanto à competição portuguesa, cruza "uma série de obras de novas figuras do cinema nacional" com o regresso de realizadores como Miguel De, António Sequeira e João Monteiro, numa oferta que inclui ficção, documentário, animação e experimental.