Disney
Só em 2019, há três novas versões de clássicos do desenho animado da Disney com estreia marcada nas salas de cinema de todo o mundo, todas elas assinadas por cineastas de renome: “Dumbo”, realizado por Tim Burton, “Aladdin”, assinado por Guy Ritchie, e “O Rei Leão”, dirigido por Jon Favreau.
Todos eles reimaginam em imagem real ou em animação fotorealista grandes clássicos do estúdio e todos pretendem tornar-se tão míticos para as novas gerações de espectadores como os anteriores se tornaram desde a respetiva estreia.
Esta nova aposta da Disney em versões reimaginadas do seu longo historial de produções animadas tem-se tornado um dos maiores casos de sucesso na atual produção cinematográfica norte-americana, com títulos como “Alice no País das Maravilhas” ou “A Bela e o Monstro” a ultrapassarem a barreira mítica dos mil milhões de dólares de bilheteira em todo o mundo.
O sucesso tem sido tal que a Disney tem alinhado um número cada vez maior de filmes deste género no seu leque anual de estreias, para os quais tem conseguido reunir a nata dos talentos de Hollywood.
A nova moda teve um ponto zero em 1996, com o sucesso da versão em imagem real de “Os 101 Dálmatas” mas só explodiu a sério em 2010, quando Tim Burton reimaginou em formato de sequela o clássico “Alice no País das Maravilhas”, que se tornou a segunda maior estreia do ano, pouco abaixo de “Toy Story 3”.
Vários filmes entraram então em diversas fases de produção, com o enorme sucesso de “Maléfica” em 2014 a sedimentar o novo modelo.
“Os 101 Dálmatas” (1961 e 1996)
Em 1961, “Os 101 Dálmatas” foi um gigantesco sucesso e marcou a diferença no desenho animado da altura, pela sua enorme modernidade gráfica, fruto da substituição do moroso processo de pintar à mão nos acetatos os contornos das personagens pela cópia direta dos desenhos originais dos animadores por via da xerografia. Ou seja, em vez de jogar na ilusão de criar imagens tão realistas quanto possível, o filme apresenta uma imagem rabiscada que não só lhe conferiu uma enorme frescura como ajudou à tarefa louca de colocar pintas nos 101 cães do título.
A história, adaptada do livro homónimo de Dodie Smith, colocava Pongo e Perdita como os pais de uma ninhada de dálmatas que procuram resgatar os filhos, raptados pela pérfida Cruella de Vil, apaixonada pelas peles de animais e que se tornou uma das vilãs mais icónicas da Disney.
Em 1996, o estúdio apostou pela primeira vez na recriação em imagem real de um dos seus clássicos de desenho animado e o resultado foi um sucesso que apanhou toda a gente de surpresa, com Glenn Close a provar ser a encarnação mais que perfeita de Cruella de Vil, que se tornou umas das personagens mais populares da sua carreira.
O filme, assinado por Stephen Herek, seguia de forma muito fiel o enredo do original embora retirasse às personagens animais a faculdade de falar. No elenco cabiam ainda Jeff Daniels e Joely Richardson, como Roger e Anita, os donos dos dálmatas, e Hugh Laurie, como um dos ajudantes de Cruella.
Quatro anos depois, estreou a sequela, “Os 102 Dálmatas”, novamente com Close como de Vil, a arquitetar um plano ainda mais desmesurado para roubar cãezinhos para fazer peles. O filme, realizado por Kevin Lima (“Tarzan”) voltou a ser um sucesso, embora não tão grande como o anterior, conseguiu puxar para o elenco nomes como Gérard Depardieu e Ian Richardson e foi nomeado ao Óscar de Melhor Direção Artística.
Atualmente, a Disney tem em pré-produção uma fita que relata as origens de Cruella de Vil, que será agora interpretada por Emma Stone, às ordens do realizador Craig Gillespie (“Eu, Tonya”).
“Alice no País das Maravilhas” (1951 e 2010)
A adaptação ao desenho animado da obra-prima literária de Lewis Carroll era um projeto antigo de Walt Disney, que conseguiu finalmente concretizá-lo em 1951, numa das fitas mais psicadélicas da época, que cruzava elementos dos livros “Alice no País das Maravilhas” e “Alice no Outro Lado do Espelho”.
No filme, Alice percorre o tresloucado País das Maravilhas do título em busca do Coelho Branco, encontrando as mais desvairadas personagens num mundo de lógicas invertidas.
A fita não foi um sucesso imediato junto do público mas o seu lado surreal rapidamente lhe valeu uma reputação de modernidade e sofisticação: nos anos 60, a sua vertente psicadélica tornou-o um filme de culto e hoje é uma das obras mais apreciadas do panteão dos clássicos animados da Disney.
Em 2010, o cruzamento do imaginário de Tim Burton com o de Lewis Carroll numa produção da Disney gerou uma expectativa inusitada por parte dos espectadores, alicerçada na divulgação de um conjunto de primeiras imagens verdadeiramente espetaculares.
Ao contrário de “Os 101 Dálmatas”, esta nova “Alice no País das Maravilhas” não era um “remake” mas sim uma sequela em imagem real da história original, que apresenta uma Alice um pouco mais velha, de 19 anos, que ao fugir de uma proposta de casamento acaba por regressar ao País das Maravilhas, que encontra completamente devastado. Agora, com a ajuda do Chapeleiro Louco, vai ter de ajudar a Rainha Branca a recuperar o trono das mãos da Rainha de Copas.
Com Mia Wasikowski no papel titular, a película era abrilhantada por um elenco de estrelas, encabeçado por Johnny Depp como Chapeleiro Louco, Anne Hathaway como Rainha Branca e Helena Bonham Carter como Rainha de Copas, além de ser visualmente deslumbrante, de tal forma que arrecadou os Óscares de Melhor Guarda-Roupa e Melhor Direção Artística, tendo sido também nomeado para o de Melhores Efeitos Visuais.
A produção, apesar de ter tido uma recepção moderada por parte da crítica, foi um sucesso de público esmagador, tornando-se o quinto maior êxito de sempre em receitas brutas. E esse impacto foi tal que deu o pontapé de saída ao movimento de reimaginação em imagem real de clássicos de desenho animado da Disney dos dias de hoje.
Em 2016, estreou a sequela, “Alice do Outro Lado do Espelho”, agora sob a batuta de James Bobin (“Os Marretas”) e com o mesmo elenco, naquele que seria o último trabalho da carreira de Alan Rickman, a quem o filme é dedicado. Desta vez, o público não aderiu da mesma maneira e apesar de ter arrecadado uns impressionantes 299 milhões de dólares nas bilheteiras, acabou por perder dinheiro nas salas de cinema.
“Fantasia” e “O Aprendiz de Feiticeiro” (1940 e 2010)
A fita mais artisticamente arrojada e inovadora da carreira de Walt Disney estreou em 1940 e chamou-se “Fantasia”.
Tratava-se de um filme-concerto, sem diálogos, com o maestro Leopold Stokowski a conduzir a Orquestra de Filadélfia nalgumas das peças de música clássica mais emblemáticas de sempre, ilustradas no mais luxuoso e meticuloso desenho animado, com segmentos abstratos cruzados com outros narrativamente mais convencionais.
O segmento mais popular é protagonizado por Mickey e adapta “O Aprendiz de Feiticeiro”, de Paul Dukas, com o ratinho a perder rapidamente o controlo da situação quando tentar dar vida a vassouras que transportam baldes de água para um poço.
Apesar de não ter sido um sucesso na estreia até porque viu os mercados europeus cortados devido à Segunda Guerra Mundial, tornou-se muitíssimo popular em reexibições posteriores e chegou a ter uma sequela na viragem do século, “Fantasia 2000”.
O interesse de evocar “Fantasia” nesta lista é a curiosidade de, quatro meses após a estreia da versão de Tim Burton de “Alice no País das Maravilhas”, a Disney ter estreado nos cinemas esta versão muito livre da história de “O Aprendiz de Feiticeiro”, com a ação deslocada para a Manhattan da actualidade. Jay Baruchel interpreta o estudante de física que acaba por se tornar aprendiz de um feiticeiro desalinhado encarnado por Nicolas Cage, com o objectivo de enfrentar e impedir Morgana le Fey (Alice Krige) de destruir o mundo.
Realizado por Jon Turteltaub (“O Tesouro”), a película piscava o olho à versão de 1940, numa cena que o protagonista dá vida a algumas vassouras ao som da música de Dukas. Não era um “remake” total, como viria mais tarde a suceder, mais era já uma indicação do interesse que a Disney manifestava em recuperar o seu próprio património em imagem real.
Já em 2018, com “O Quebra-Nozes e os Quatro Reinos”, de Lasse Hallstrom e Joe Johnston, o estúdio voltou a piscar o olho a “Fantasia”, cujo segundo segmento era precisamente “A Suite do Quebra-Nozes”, de Tchaikovsky. Além da música e de alguns elementos da produção de 1940, como a presença distintiva de cogumelos, coloca a silhueta do maestro Gustavo Dudamel numa sequência que referencia diretamente Stokowski na fita original.
“A Bela Adormecida” e “Maléfica” (1959 e 2014)
Um dos grandes clássicos animados dos estúdios Disney, “A Bela Adormecida” teve uma gestação muito longa, de quase 10 anos, e acabou por ter um custo tão elevado que tardou em recuperar o investimento inicial.
Com um grafismo verdadeiramente espetacular, potenciado pelo ecrã gigantesco da fotografia em Super Techinarama 70, ancorado musicalmente nas melodias do ballet da “Bela Adormecida”, de Tchaikovsky, o filme, polvilhado por castelos, fadas, reis e dragões, tornou-se com o tempo um dos mais amados do catálogo Disney, essencial para a formação de animadores que viria a lançar a nova idade de ouro da animação da estúdio a partir de finais dos anos 80.
Na sequência do sucesso esmagador de “Alice no País das Maravilhas”, o primeiro filme do lote de novas versões de clássicos da animação Disney foi precisamente esta reimaginação de “A Bela Adormecida”, mas desta vez contada pelo prisma da bruxa má do filme: “Maléfica”. A história narra a vida da agora protagonista desde tenra idade e cria uma versão paralela ao original, com alguns acontecimentos a surgirem de forma diferente da do título de referência.
O próprio Tim Burton esteve associado ao projeto no início como realizador, mas acabou por passar a tarefa a Robert Stromberg, que tinha sido o responsável pela direção artística de “Alice no País das Maravilhas”.
Quem estava desde o arranque mas nunca saiu de cena foi Angelina Jolie, que se revelou de tal forma incandescente no papel de Maléfica que se tornou indissociável da feiticeira na mente dos espectadores.
A produção, co-protagonizada por Sharlto Copley e Elle Fanning nos papéis do Rei Estevão e da princesa Aurora, muda várias coisas em relação ao original, mas foi um enorme sucesso e sedimentou a nova estratégia de reinvenção de clássicos da Disney em imagem real.
Ainda este ano, vai estrear a sequela, “Maleficent: Mistress of Evil”, que volta a recuperar Jolie e Fanning nos mesmos papéis, tem agora na realização o norueguês Joachim Ronning (“Piratas das Caraíbas: Homens Mortos Não Contam Histórias”). A ação decorre alguns anos depois da do trabalho inicial e conta agora com Michelle Pfeiffer no papel da Rainha Ingrith.
“Cinderella” (1950 e 2015)
A fita que marcou o regresso às grandes produções de desenho animado da Disney a seguir à Segunda Guerra Mundial, e que recuperou as fortunas do estúdio combalido pelas consequências do conflito, foi “Cinderella”, um conto de fadas que rapidamente se tornou um dos grandes clássicos do cinema animado.
Com um elenco secundário feito de ratinhos que conquistou os espectadores e canções que se tornaram eternas, como “A Dream is a Wish your Heart Makes” ou “Bibbidi-Bobbidi-Boo”, “Cinderella”, que já era porventura o conto de fadas mais célebre de sempre, tornou-se um dos filmes mais célebres não só da Disney como de todo o cinema americano da época.
Ao contrário da sequela de “Alice no País das Maravilhas” ou da versão alternativa de “Maléfica”, a reimaginação de 2015 de “Cinderella” aposta em contar novamente a mesma história do original mas em imagem real sem lhe adicionar nada de muito substancial, excepto o ênfase da ligação da protagonista ao pai.
Depois de ter provado que dava boa conta de projetos mais comerciais com “Thor”, o prestigiado ator e realizador britânico Kenneth Branagh transformou esta versão de “Cinderella” numa película visualmente deslumbrante, feita à maneira antiga, com grandes cenários, guarda-roupa opulento e um elenco de luxo.
No centro de tudo está a encantadora Lily James, que tinha acabado de brilhar na série “Downton Abbey”, a conseguir não ser esmagada pelas sempre espantosas Cate Blanchett e Helena Bonham-Carter, a primeira como a pérfida Madrasta e a segunda como a ligeiramente distraída Fada-Madrinha. No papel do Príncipe, brilhou Richard Madden, ainda na memória de todos graças à série “A Guerra dos Tronos”.
A nova longa-metragem não é abertamente musical nem dá tanto espaço às personagens animais como o original mas conseguiu agradar a toda a gente, da crítica ao público, confirmando mais uma vez o acerto da aposta da Disney nestas novas versões.
“Meu Amigo, o Dragão” e “A Lenda do Dragão” (1977 e 2016)
Não muita gente deu conta destes dois filmes à data da estreia, tanto no caso do original como do "remake", mas o primeiro tornou-se um título de culto e o segundo, pelos elogios que recebeu, certamente que para lá também caminha.
Em 1977, cerca de uma década após a morte de Walt Disney e quando faltava ainda outra década para a nova idade de ouro do estúdio lançada por “Quem Tramou Roger Rabbit? ” e “A Pequena Sereia”, não havia muitas produções novas da Disney que incendiassem as bilheteiras.
Uma das fitas mais curiosas a tentá-lo foi precisamente este “Meu Amigo, o Dragão”, um musical que cruzava imagem real com desenho animado, sobre um órfão pobre da zona rural dos EUA que travava amizade com um ternurento dragão verde que tinha a habilidade de ficar invisível.
A película foi um sucesso moderado e ficou na memória da geração que ia ao cinema na época, tão rara era então a oferta desse tipo de cinema, mas desvaneceu-se face aos êxitos da Disney nas décadas seguintes. É por isso curiosa a escolha deste título para uma reimaginação pelo estúdio já em 2017, desta feita sem a componente musical, deslocando a acção do início do século XX para 1977 e substituindo as figuras rurais do primeiro por uma comunidade de madeireiros. O dragão continua a ser animado mas agora de forma fotorealista e o elenco integra nomes tão conhecidos como Bryce Dallas Howard e Robert Redford.
O trabalho foi realizado pelo prestigiado David Lowery (o mesmo do posterior “O Cavalheiro com Arma”, novamente com Redford) e foi um grande sucesso de crítica, embora não tenha sido ainda muito visto pelo público, pelo que se adivinha que o culto em seu redor suba nos próximos anos.
“O Livro da Selva” (1967, 1994 e 2016)
A última longa-metragem de desenho animado em que Walt Disney trabalhou pessoalmente e a primeira a estrear depois do seu falecimento foi esta adaptação muitíssimo livre do clássico literário de Rudyard Kipling, sobre o jovem que cresce criado pelos animais nas florestas da Índia.
Foi um sucesso gigantesco, um dos maiores de sempre do estúdio, empurrado pela qualidade da animação, o humor desopilante e uma banda sonora cheia de energia e com tonalidades de jazz que deixou na memória colectiva clássicos como “The Bare Necessities”.
Em 1994, a Disney voltou a adaptar os livros de Kipling num filme em imagem real de Stephen Sommers (“A Múmia”) que por cá se chamou “A Lenda do Livro da Selva”, mas que pouco tinha a ver com a animação, desde logo porque os animais não falam.
A acção decorre com Mogli maioritariamente já adulto, a estranhar a civilização humana da Índia colonial que visita e em busca de um tesouro perdido nas selvas. Com Jason Scott Lee no papel principal, a produção foi razoavelmente bem sucedida mas rapidamente caiu nalgum esquecimento.
O mesmo não sucedeu com a versão de 2016 assinada por Jon Favreau (“Homem de Ferro”), um enorme sucesso de crítica e de bilheteira, que se colou mais ao original de animação do que qualquer filme da Disney até então. Aqui, só mesmo o jovem Mogli surgia como um ator de carne e osso (Neel Sethi) e o resto era apresentado em animação digital fotorealista, absolutamente deslumbrante e opulenta.
Também o elenco vocal dos animais era de luxo (Bill Murray, Ben Kinglsey, Idris Elba, Lupita Nyong’o…), numa produção que seguia de forma fiel as pisadas do original mas não se coibia de ir buscar alguns elementos à obra literária. A vertente musical do desenho animado foi aqui reduzida, embora as canções se continuassem a fazer sentir, mas de forma mais discreta.
O êxito foi colossal (foi o quinto maior sucesso de bilheteira do ano, só atrás de outros quatro filmes da Disney: “Capitão América: Guerra Civil”, “Rogue One: Uma História de Star Wars”, “À Procura de Dory” e “Zootrópolis”), conquistou o Óscar de Melhores Efeitos Visuais e Favreau está neste momento a preparar a sequela, ainda sem data de estreia definitiva.
“A Bela e o Monstro” (1991 e 2017)
Foi um dos maiores clássicos do renascimento do desenho animado norte-americano e dos próprios estúdios Disney na viragem para os anos 90, que se tornou um marco ao tornar-se o primeiro trabalho de animação a ser nomeado ao Óscar de Melhor Filme, e numa época em que essa categoria tinha apenas cinco nomeações.
Esta versão musical do clássico conto de fadas francês bateu recordes de bilheteira, baralhou as coordenadas habituais do género ao inverter a imagem tradicional do herói e do monstro (o normal seria o belo mas oco Gaston ser o protagonista e o Monstro ser o vilão, aqui sucede o inverso) e voltou a deslumbrar não só pela animação mas também pela vertente musical, com Alan Menken e Howard Ashman, depois do triunfo de “A Pequena Sereia”, a voltarem a conquistar os Óscares de Melhor Banda Sonora e Melhor Canção, graças a clássicos como “Be Our Guest”, “Belle” e “Beauty and the Beast”, que ganhou a estatueta.
Já com a fase de reimaginações de clássicos de animação da Disney em velocidade de cruzeiro, a nova versão de “A Bela e o Monstro” de 2017, assinada pelo oscarizado Bill Condon (“Deuses e Monstros”) assume um novo perfil face às novas versões anteriores.
Desta feita, trata-se de uma recriação em imagem real do primeiro filme mas quase cena a cena, mantendo todas personagens, os números musicais e boa parte dos diálogos, estratégia que tudo indica se repetirá nas versões de “Aladdin” e “O Rei Leão” que estrearão este ano.
A longa-metragem, com Emma Watson e Dan Stevens nos papéis principais, acrescenta uma sequência importante sobre a mãe de Belle e uma cena musical cantada pelo Monstro, além de garantir maior diversidade racial no elenco, mas todo o resto se mantém praticamente idêntico à fita de origem, com Luke Evans e Josh Gad a receberem os maiores elogios pelas prestações de Gaston e Lefou.
A nova versão de “A Bela e o Monstro” foi um sucesso gigantesco em todo o mundo, ainda maior que “O Livro da Selva”, o segundo maior do ano logo a seguir a “Star Wars: Os Últimos Jedi”.
“Winnie the Pooh” e “Christopher Robin” (1966 e 2017)
As histórias do ursinho de peluche Winnie the Pooh, escritas pelo britânico A.A.Milne e ilustradas por E.H. Shepard, chegaram ao cinema pela primeira vez por via dos estúdios Disney em 1966, na curta-metragem “Winnie the Pooh and the Honey Tree”.
A estreia deu-se pouco antes do falecimento do próprio Walt Disney e o enorme sucesso levou à criação de mais filmes do ursinho, que se tornou uma das personagens mais emblemáticas e populares.
Assim, em 1968, estreou “Winnie the Pooh and the Blustery Day”, que conquistaria o Óscar de Melhor Curta-Metragem, e em 1974 “Winnie the Pooh and Tigger Too”. Em 1977, as três curtas foram reunidas numa longa-metragem intitulada “As Extra Aventuras de Winnie the Pooh”.
As peripécias do ursinho prosseguiram nas décadas seguintes de forma muito intensa, tanto no cinema como na televisão, e em 2017, a Disney apostou em lançar um novo olhar a Winnie, desta vez em imagem real e com animação fotorealista, tendo aos comandos o realizador Marc Forster (“À Procura da Terra do Nunca”).
O ponto de vista é agora o do adulto Christopher Robin (Ewan McGregor), que em criança brincara com o ursinho e os outros bonecos na Floresta dos 100 Acres, mas que deixou a infância e a imaginação para trás e agora sente-se esmagado pelas pressões da profissão e as obrigações de sustentar a família. É aí que volta a entrar em cena o ursinho Winnie e a restante bicharada de peluche, que tentam que o seu velho amigo reencontre as alegrias da vida.
“Christopher Robin” foi bem recebido pela crítica e teve um sucesso moderado de bilheteira, mas a sua performance modesta fez com que acabasse por não estrear em cinema em muitos territórios, incluindo em Portugal. Com momentos encantadores, provavelmente será redescoberto por muita gente nos próximos anos.
“Mary Poppins” e “O Regresso de Mary Poppins” (1964 e 2017)
Um dos maiores sucessos de sempre da carreira de Walt Disney chegou em 1964 com a adaptação para cinema das histórias da ama mágica criada pela britânica P.L.Travers. “Mary Poppins”, que cruzava imagem real com sequências de desenho animado, marcou a estreia de Julie Andrews no cinema, foi um sucesso colossal (cujos lucros ajudaram a comprar os terrenos na Florida onde seria construído o Walt Disney World) e foi nomeado para 13 Óscares, incluindo o de Melhor Filme, ganhando cinco, um deles para a protagonista.
Visualmente espantoso, com efeitos visuais nunca antes vistos e com um leque de canções que ficou na memória colectiva (“A Spoonful of Sugar”, “Supercalifragilisticexpialidocius”, “Feed the Birds” ou “Chim Chim Cher-ee”), “Mary Poppins” tornou-se um clássico imediato do cinema, que fez esquecer todas as dificuldades de produção e de relacionamento com Travers, que o estúdio documentaria em 2013 com o encantador “Ao Encontro de Mr. Banks”.
Desta feita a aposta não foi num "remake" mas sim numa sequela, nada menos que 54 anos depois do original, uma das maiores distâncias de sempre entre dois filmes da mesma série na história do cinema. O elenco, claro, teve, de ser completamente novo, com Emily Blunt a assumir o papel imortalizado por Andrews mas com Dick Van Dyke, que interpretava o limpa-chaminés Bert no original, a regressar aos 93 anos num papel com referência direta ao que fez na primeira fita.
A ação decorre agora em meados dos anos 30, cerca de 25 anos após a do original, com Poppins (que não envelhece) a regressar para tomar conta dos filhos de um dos garotos de quem fora ama na fita inicial e que está agora viúvo.
“O Regresso de Mary Poppins” apresenta uma banda sonora completamente nova, com cada número musical a fazer referência direta a um equivalente da fita original, e surpreendeu toda a gente ao conseguir recuperar a mesma magia, o deslumbramento e a ternura, com o próprio desenho animado a regressar a imagética e Blunt a conseguir o milagre de não ser ofuscada pelo legado de Andrews.
Realizado por Rob Marshall (“Chicago” e “Caminhos da Floresta”), foi um sucesso junto da crítica e um êxito de público, embora porventura não na dimensão esperada pelo estúdio.
“Dumbo” (1941 e 2019)
Um dos grandes clássicos da Disney e um dos títulos preferidos de muitos animadores, “Dumbo” foi o maior sucesso do estúdio no período da Segunda Guerra Mundial, de tal forma que ia ser capa da revista “Time” na edição de 29 de dezembro de 1941, o que acabaria por não acontecer devido à prioridade da cobertura do ataque japonês a Pearl Harbor.
O filme do elefante de circo voador que era ostracizado devido às suas grandes orelhas, foi feito de forma bastante económica mas tinha o coração no sítio certo e fez chorar muita gente, que empatizou com o ternurento protagonista marginalizado.
Mais ainda, juntamente com a longa-metragem seguinte do estúdio, “Bambi”, a película foi essencial na consciencilização de muita gente de que os animais são seres com sentimentos que merecem tratamento humano.
A nova versão de “Dumbo”, com estreia a 28 de março, marca o regresso de Tim Burton à reimaginação de clássicos animados da Disney após “Alice no País das Maravilhas”, agora não com uma sequela mas com um “remake” muito livre do original.
No novo trabalho, a ação é vista pelo olhar dos humanos e não dos animais, que aqui não falam. Dessa forma, o papel do ratinho Timóteo ou dos corvos na condução da acção é deslocada para um elenco de luxo, que inclui Colin Farrell, Danny DeVito, Michael Keaton ou Eva Green em papéis novos.
A promessa de fusão do imaginário circense com o de Tim Burton tem deixado os espectadores a salivar e a banda sonora de Danny Elfman, além de recuperar de forma intrumental algumas das canções do filme original, apresenta ainda uma versão do clássico “Baby Mine” pelos Arcade Fire.
“Aladdin” (1992 e 2019)
Na sequência do enorme impacto de “A Pequena Sereia” e “A Bela e o Monstro”, a produção seguinte foi aguardada com enorme expectativa, e não defraudou ninguém: “Aladdin” foi um sucesso ainda maior que os dois títulos anteriores, sendo o maior êxito de bilheteira de 1992, e conquistou os mesmos dois Óscares, de Melhor Banda Sonora e Melhor Canção, neste caso para “A Whole New World”.
Esta recriação frenética da história das “1001 Noites”, com uma grande quantidade de personagens memoráveis, foi empurrada pela criatividade imparável e torrencial de Robin Williams na voz do Génio, com uma estrela de primeira grandeza a ser usada pela primeira vez de forma intensiva na promoção de um filme de animação, o que se tornaria recorrente a partir daí.
A nova versão de “Aladdin” chega aos cinemas a 23 de maio e é realizada pelo britânico Guy Ritchie, popularizado por filmes “Snatch – Porcos e Diamantes” e as fitas de Sherlock Holmes com Robert Downey Jr..
Pelas primeiras notícias, a estratégia parece ser aqui a mesma da nova versão de “A Bela e o Monstro”, ou seja seguir quase cena a cena a fita original com algumas cenas adicionais, tudo em imagem real e animação fotorealista.
No elenco sobressai Will Smith no papel do Génio, à cabeça de uma série de atores etnicamente próximos às personagens que interpretam. Assim, Mena Massou será Aladdin, Naomi Scott a princesa Jasmine, Maran Kenzari o grão-vizir Jafar e Navid Negahban o Sultão. Alan Menken voltará a compor a partitura do filme, com novas canções da dupla Pasek & Paul (“La La Land” e “O Grande Showman”).
“O Rei Leão” (1994 e 2019)
Durante vários anos, “O Rei Leão” foi a película de animação de maior sucesso de bilheteira de todos os tempos em valores brutos, um êxito gigantesco que conseguiu surpreender tudo e todos ao ultrapassar os anteriores “A Pequena Sereia”, “A Bela e o Monstro” e “Aladdin”, tornando-se uma das maiores joias da coroa da Disney.
Exclusivamente passada entre animais, esta história de um leão que sofre a culpa pela perda do pai e que terá de reencontrar o seu lugar entre as responsabilidades de adulto, tinha um elenco vocal totalmente composto por grandes estrelas (a primeira vez que tal acontecia a esta escala) e uma componente musical que ficou para a história, com canções de Elton John e Tim Rice, que voltou a fazer a dobradinha nos Óscares ao conquistar as estatuetas para Melhor Banda Sonora e Melhor Canção, para “Can you Feel the love Tonight”.
Após o sucesso de “O Livro da Selva”, Jon Favreau volta a reimaginar um clássico Disney, com estreia agendada para 19 de julho (25 anos depois da estreia do original), mas agora totalmente em animação fotorealista (até por não haver humanos na história…), que parece também seguir a estratégia de se colar cena a cena à fita original.
O elenco vocal mantém James Earl Jones como Mufasa mas substitui toda a restante alcateia de leões por intérpretes também de pele negra: Donald Glover será Simba, Chiwetel Ejiofor será Scar, Alfre Woodward será Sarabi e Beyoncé Knowles-Carter será Nala, que cantará “Can you Feel the Love Tonight”.
E a partir de 2020…?
Não há falta de reimaginações de clássicos Disney no horizonte, a partir de 2020, embora em fases diversas de produção.
Com data de estreia garantida está apenas a nova versão de “Mulan”, agora realizada por Niki Caro (“A Domadora de Baleias”), com um elenco de origem completamente asiática, que chegará às salas de todo o mundo no final de março de 2020.
Para um futuro mais ou menos próximo, sabe-se que está em produção uma nova versão de “A Pequena Sereia” assinada por Rob Marshall (“O Regresso de Mary Poppins”), o já referido recuo às origens de Cruella De Vil e de “Os 101 Dálmatas”, com “Cruella”, realizado por Craig Gillespie e protagonizado por Emma Stone, além de novas versões de “Pinóquio”, “Lilo & Stitch” e “O Corcunda de Notre-Dame”, ainda sem realizadores divulgados.
Logo no arranque do novo serviço de streaming Disney+, que será lançado nos EUA no final deste ano mas ainda não tem ainda data de lançamento no resto do mundo, será apresentada uma versão em imagem real e animação foto-realista de “A Dama e o Vagabundo”, realizada por Charlie Bean, com Tessa Thompson e Justin Theroux como as vozes dos protagonistas, estando ainda em preparação reimaginações em imagem real de “Peter Pan” e “A Espada era a Lei” para o mesmo serviço.
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