Um dos grandes acontecimentos, e uma das apostas mais arriscadas, da organização da Festa do Cinema Italiano, que propõe apresentar por estes dias ao público português o melhor das mais recentes produções do cinema transalpino, era... um filme com mais de 25 anos.
E confirmou-se: no último domingo, a gigantesca sala principal do cinema S. Jorge praticamente esgotou com público de todas as idades para rever ou descobrir pela primeira vez «Cinema Paraíso», exibido numa cópia restaurada.
A sessão confirmou, se dúvidas subsistissem, o impacto duradoiro deste velho ódio de estimação de alguns críticos de cinema, incluindo muitos portugueses: das presenças de Philippe Noiret como Alfredo e Salvatore Cascio e Marco Leonardi como Salvatore Di Vita ou, simplesmente, Totò, à sequência final, passando pela música de Ennio Morricone, «Cinema Paraíso» é um dos mais populares e amados filmes da história do cinema.
Tudo podia ter corrido mal: uma estreia desastrosa em Itália em 1988 do filme realizado por Giuseppe Tornatore com 155 minutos levou a uma remontagem de uma versão com 123 minutos que viria a receber o Prémio Especial do Júri no Festival de Cannes, iniciando um percurso que culminaria no Óscar de Melhor filme Estrangeiro atribuído a 26 de março de 1990.
Pelo meio, despertou em espectadores de todo o mundo um sentimento de ternura e saudade por um tempo vivido nas salas de cinema que já não existe que persiste tantos anos depois da rodagem no verão de 1987.
A par da nostalgia, um dos elementos determinantes para o sucesso foi a presença de Salvatore Cascio.
Com apenas sete anos quando o realizador lhe perguntou o que o cinema representava para ele, o jovem, que nunca tinha entrado numa sala de cinema, pensou um bocado antes de responder: «Para mim é como uma televisão enorme».
Atualmente com 35 anos, mais quatro do que Tornatore fez o filme, «Cinema Paraíso» moldou-lhe a vida, ainda que não tenha originado uma carreira. De tal forma que agora, finalmente, consegue resumir o seu legado:
««Cinema Paraíso» é sobre o poder dos sonhos. No filme, vemos as pessoas irem ao cinema para sonhar: ao ver grandes filmes, esquecem todos os seus problemas. Ao tornar-se um grande realizador, Totò também realiza o seu sonho pessoal. No mundo atual, com toda esta crise que estamos a atravessar tanto na política como na sociedade, o filme recorda-nos que podemos, e devemos, continuar a sonhar».
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