No que foi descrito pela imprensa americana como um "momento tenso" durante a conferência de imprensa com o júri que vai eleger a Palma de Ouro da 76.ª edição do Festival de Cannes, a atriz Brie Larson foi questionada se ia ver "Jeanne du Barry", o filme francês de Johnny Depp que abre o evento esta terça-feira à noite.
A vencedora do Óscar é uma conhecida ativista na defesa dos direitos das mulheres e sobreviventes de agressão sexual e violência doméstica: em fevereiro de 2017, não passou despercebida a falta de entusiasmo e a recusa em aplaudir Casey Affleck, processado por assédio sexual, quando anunciou que era o vencedor da estatueta dourada de Melhor Ator por "Manchester by the Sea", dizendo mais tarde que a sua ação “falava por si mesma" (o ator negou veemente as acusações e os casos foram resolvidos fora de tribunal).
Esta terça-feira de manhã, Brie Larson foi diretamente questionada por um jornalista enquanto "ativista frontal do [movimento] Time’s Up” sobre o que pensava da presença do controverso filme onde Johnny Depp interpreta o monarca Luís XV e que é visto como o seu regresso ao primeiro plano após as acusações de violência conjugal da sua ex-esposa Amber Heard, que resultaram num julgamento por difamação nos EUA vencido pelo ator.
"Está a perguntar-me isso? Desculpe, não percebo a correlação que isso tem comigo especificamente", respondeu.
O jornalista reforçou que a atriz fez parte do grupo de conselheiras do "Time’s Up" e insistiu na questão sobre se iria ver o filme, já que um processo nos tribunais britânicos de Depp contra o tabloide The Sun tinha terminado como um veredito que o descrevia como um "agressor de mulheres".
"Você irá saber, suponho, se irei vê-lo. E não sei o que vou achar disso se o fizer", concluiu Larson sobre o tema, numa referência ao facto de que "Jeanne du Barry" não está em competição pela Palma, pelo que não é obrigada a vê-lo, mas a presença dos jurados na sessão de abertura é uma tradição do festival.
Na véspera, o diretor-geral Thierry Frémaux descartou a polémica da seleção do filme, dizendo que "Johnny Depp interessa-me como ator. Sou a pessoa menos indicada para falar de tudo isso, porque se há alguém (...) que não se interessou por esse julgamento altamente mediático, sou eu".
O filme foi rodado em cenários espetaculares pela realizadora francesa Maïwenn, que interpreta a protagonista, Jeanne du Barry, cortesã e amante favorita do rei.
Um grupo de profissionais do cinema francês publicou uma carta em que discordava de um concurso que coloca "a passadeira vermelha para homens e mulheres que agridem", numa implícita referência não só a Depp, mas também à realizadora, com os seus próprios problemas com a Justiça, depois que um conhecido jornalista francês, Edwy Plenel, a ter processado recentemente por agressão.
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