A premissa era ambiciosa: a história decorria ao longo de 12 anos e ele iria filmá-la... durante 12 anos.
Em 2002, o realizador Richard Linklater escolheu dois atores profissionais — Patricia Arquette e Ethan Hawke, parceiro habitual de outras fitas — e dois sem experiência significativa — Ellar Coltrane, com 7 anos, e a própria filha, Lorelei Linklater, com 8 — para a rodagem de um novo filme, «Untitled 12-Year Project» [«Projeto de 12 anos sem título»].
A intenção era filmar cerca de uma semana por ano por 200 mil dólares com atores que não podiam assinar contratos pois era ilegal fazê-lo por mais de sete anos. Era uma jogada de risco que podia ruir por todas as razões possíveis. Linklater, por exemplo, chegou a dizer a Ethan Hawke que teria de acabar o filme se ele morresse.
O tempo foi passando. Linklater, Hawke e Arquette foram trabalhando noutros projetos, regressando todos os anos por uns dias ao Texas para rodar mais um capítulo. E, talvez por uma manifestação de rebeldia, a única pessoa que quis desistir foi a própria filha do realizador, perguntando ao fim do terceiro ano se não podiam matar a sua personagem...
O resultado chama-se «Boyhood - Momentos de uma Vida» e chegou às salas de cinema esta quinta-feira carregado de prémios e a promessa de não ficar por aqui. Trata-se de um dos títulos incontornáveis de 2014 e não apenas pela singularidade da sua rodagem.
Os «momentos» são episódios mundanos da vida, ciclos de pessoas a envelhecer e evoluir no seio de uma sociedade também ela em mutação. E tudo acontece ao mesmo tempo que assistimos, num sopro, à jornada nostálgica, honesta e comovente em tempo real de um jovem (Mason/Ellar Coltrane) desde criança até à partida para a faculdade, fronteira da vida adulta.
Com sonhos e desilusões, «Boyhood» retrata uma história que todos nós conhecemos...
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