O realizador do filme "Black Panther", Ryan Coogler, declarou esta quinta-feira que "nunca imaginou" que viveria até os 30 anos, já que cresceu numa das cidades mais violentas dos Estados Unidos.
Em Oakland, "a morte está constantemente à nossa volta, até o ponto em que nos sentimos cómodos com isso", declarou o afro-americano de 32 anos durante o festival de Cannes, onde recebeu uma ovação.
"Quando cumpri 30 anos, quase tive uma crise porque nunca imaginei que chegaria a essa idade... 25 é um número mágico. Nessa idade você está morto ou na prisão", disse.
"Vi muitos casos de pessoas boas que não passaram dessa idade, ou estavam na prisão ou tinham sido assassinadas", disse perante uma audiência numerosa, na qual estava o realizador haitiano Raoul Peck, cujo documentário "I Am Not Your Negro - Não Sou o Teu Negro" foi nomeado para os Óscares no ano passado.
A superprodução dirigida por Coogler, "Black Panther", tem um elenco composto quase integralmente por atores negros e liderado por Chadwick Boseman, que dá vida ao primeiro super-herói não branco que protagoniza um filme.
O filme do estúdio Marvel, que foi exibido numa praia de Cannes em sessão especial, gerou mais de mil milhões de dólares nas bilheteiras mundiais, tornando-se uma dos 10 filmes com maior receita da história.
"Estava cansado dos comics sobre super-heróis brancos onde os negros só estavam lá de complemento", explicou Coogler.
No universo da Marvel, Black Panther dirige a nação africana fictícia de Wakanda, um país rico e nunca colonizado, que rompe os estereótipos sobre o continente.
"O tráfico de escravos representou uma espécie de morte para nós, a morte de quem éramos. Quem somos agora nasceu quando acorrentaram os nossos ancestrais", disse Coogler aos presentes.
"O filme tinha a ver com reconhecer isso e recuperar também essa parte da história", recorda.
Esses comentários chegam dias depois da polémica causada pelo rapper americano Kanye West, que descreveu a escravidão dos afro-americanos durante séculos como uma "escolha".
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