Foi uma das estrelas mais improváveis da história de Hollywood, um ator que era exatamente o oposto dos padrões de beleza da época e que, mesmo assim, fez uma imensa carreira graças ao seu enorme talento, que lhe deu uma valeu uma grande variedade de prestações memoráveis.
Ernest Borgnine morreu ontem, a 8 de julho, no Cedars-Sinai Medical Centre em Los Angeles, vítima de insuficiência renal aos 95 anos.
Nascido em 1917, Borgnine alistou-se na Marinha em 1935 e foi militar durante os dez anos seguintes, até ao final da Segunda Guerra Mundial, em que foi bastante condecorado. A partir daí, por sugestão materna, tentou a sorte no teatro, onde se estreou num pequeno papel em 1947, e no início dos anos 50 começa uma intensa participação no cinema e na televisão, em papéis bastante secundários.
É em 1953, com
«Até à Eternidade» que Borgnine brilha a sério pela primeira vez, num filme que ganhou oito Óscares e em que interpreta um brutal sargento que espanca a personagem de
Frank Sinatra. A sua sorte estava lançada, e nos anos seguintes seguiram-se várias prestações secundárias, geralmente em papéis de vilão, em obras importantes como
«Johnny Guitar»,
«A Conspiração do Silêncio» e
«Vera Cruz».
Em 1955 chega a consagração absoluta: o realizador
Delbert Mann, que já o tinha dirigido na televisão, convida-o para o papel principal de um pequeno filme que ia dirigir,
«Marty», produzido por Burt Lancaster, sobre um talhante do Bronx que pensava nunca vir a encontrar o amor até encontrar uma alma gémea em
Betsy Blair. Com argumento de
Paddy Chayesfsky, o filme espantou toda a gente ao tornar-se um imenso sucesso, conquistando quatro Óscares (e logo os de Melhor Filme, Realizador, Argumento e Ator para Borgnine) e até a Palma de Ouro do Festival de Cannes.
A partir daí, Borgnine prosseguiu sem parar uma carreira muito produtiva, que oscilou entre papéis principais e secundários, tanto no cinema como na televisão. No grande ecrã distingiu-se em fitas como «A Catered Affair» (1956),
«Jubal» (1956),
«Os Vikings» (1958),
«O Voo da Fénix» (1965), nos imensos sucessos que foram
«Doze Indomáveis Patifes» (1967),
«Missão no Árctico» (1968),
«A Quadrilha Selvagem» (1969) e
«A Aventura do Poseidon» (1971), ou ainda em «Desafio de Gigantes» (1973), «O Comboio dos Duros» (1978),
«Abismo Negro» (1979) ou
«Nova Iorque 1997» (1981).
Entretanto nunca deixou de fazer televisão, participando em dezenas de séries, com destaque para o grande sucesso que foi «McHale's Navy», entre 1962 e 1966, e «Airwolf», entre 1984 e 1987. A partir de 1999, a sua voz ganhou uma inesperada celebridade no papel de Mermaid Man, na popularíssima série de animação «Spongebob Squarepants».
Borgnine trabalhou até ao fim da vida, tendo recebido os mais rasgados elogios pela sua prestação de um marido que chora a morte da mulher no último episódio de «ER Serviço de Urgências», e tendo ainda por estrear «The Man Who Shook the Hand of Vicente Fernandez», em que interpreta o papel principal de um homem amargurado por nunca ter sido uma estrela e que ganha uma segunda hipótese de fama numa casa de repouso.
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