Já nos cinemas, "A Pequena Sereia" é a mais recente aposta da estratégia que a Disney começou em 2010 com "Alice no País das Maravilhas", de Tim Burton: recuperar o seu património histórico de clássicos de animação conhecido por gerações para apresentar versão modernas em imagem real que rendem muitos milhões nas bilheteiras.
Halle Bailey como Ariel, Jonah Hauer-King como príncipe Eric, Melissa McCarthy como Ursula e Javier Bardem como Rei Tritão são as estrelas principais no novo filme de Rob Marshall com o pesado encargo de respeitar o legado original e encantar com algo de novo o público que irá às salas de cinema.
Foi a 17 de novembro de 1989 que chegou aos cinemas o filme de animação que marcaria o renascimento da animação Disney. Em Portugal, onde os títulos do género chegavam muitas vezes com um ano de atraso, foi preciso esperar por 21 de dezembro de 1990, com a dobragem em português do Brasil que era tradicional na época.
A história da sereia que vivia num paraíso subaquático mas se encantava com a vida à superfície, principalmente depois de salvar do afogamento o príncipe Eric, marcou um regresso aos tempos de animação desenvolvida por Walt Disney há muitos anos, relançando a obsessão pelas princesas como não se via desde “A Bela Adormecida” (1959) - e que se prolonga até à atualidade, como se viu com o fenómeno de “Frozen - O Reino do Gelo” - e recuperando a importância da música nas animações: ganhou os Óscares para Melhor Canção (a inesquecível “Under the Sea”) e Banda Sonora Original.
Quando estreou, a Disney estava já, graças à equipa formada cinco anos antes por Michael Eisner e Jeffrey Katzenberg, a colher os benefícios de uma estratégia de revigoração com vista a deixar o último lugar entre os grandes estúdios de Hollywood a nível de receitas de bilheteira.
O estúdio procurava recuperar a vantagem no campo de animação, que entrara lentamente em crise com a morte de Walt Disney no final de 1966: o último grande sucesso fora “O Livro da Selva” (1967) e os que se seguiram, como “Os Aristogatos” (1970), “Robin dos Bosques” (1973), “As Aventuras de Bernardo e Bianca” (1977) ou “Papuça e Dentuça” (1981), ainda que bem recebidos numa era em que escasseava o cinema para toda a família, não conseguiram captar a mesma magia.
O fracasso de “Taran e o Caldeirão Mágico” (1985), o mais caro até então, foi o ponto da transição para uma mudança. Se “Rato Basílio, o Grande Mestre dos Detectives” (1986) teve um sucesso moderado, “Quem Tramou Roger Rabbit?” (1988) revelou-se decisivo para conquistar os adultos para ir ao cinema ver desenhos animados.
Foi neste contexto que “A Pequena Sereia” estreou e se tornou, na época, a longa-metragem de animação de maior sucesso de sempre, relançando uma nova idade do ouro artística e comercial que se consolidaria com “A Bela e o Monstro” (1991), a primeira animação também nomeada para o Óscar de Melhor Filme, “Aladdin” (1992) e “O Rei Leão” (1994) e se prolonga até aos nossos dias.
Além disso, todo este entusiasmo pela animação levaria à criação de novos estúdios que, pela primeira vez, conseguiriam desafiar a Disney na arena da longa-metragem, como a DreamWorks e a Blue Sky, a par e passo com uma explosão criativa e comercial da animação televisiva, encabeçada por séries como “Os Simpsons”.
A vertente musical do filme, por via dos talentos de Alan Menken e do falecido Howard Ashman, também marcou a sua época e os filmes de animação que lhe seguiram, com uma bem sucedida transposição para os palcos da Broadway, nomeadamente com o caso emblemático de “O Rei Leão”.
Com outra versão de "A Pequena Sereia" agora nas salas para ser julgada por novos e antigos espectadores e fãs, reveja a inesquecível canção "Under the Sea".
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